Capítulo 36

1.2K 113 9
                                    

[Barbara Passos]

Me colocando de pé novamente, me ergui com uma força que desconhecia ainda possuir. Todos estavam a minha frente, seus semblantes em uma mistura de tristeza e raiva. Não muito diferente do que eu sentia aqui dentro.
Exceto que, para mim, a dor era maior, porque agora eu definitivamente havia perdido tudo.
João conseguiu arrancar tudo que era mais importante de mim.
Andei até o carro em que eu e Mob estávamos. Abrindo o porta-malas, peguei meu velho revolver, posicionando-o em meu quadril. Analisando bem as armas que ainda tinham ali, escolhi atentamente uma shotgun.
Disparo pesado, estrago mais pesado ainda.
Babi: vamos terminar o que começamos — falei, no mesmo momento em que destravei a arma em minhas mãos — já passou da hora dessa merda acabar.
E então como se compartilhassem do mesmo pensamento que eu, todos voltaram para os carros. Agora com apenas um objetivo: vingança.

Com os olhos atentos na janela do carro enquanto árvores passavam como vultos, a última memória com ele veio a tona. O olhar de Victor sob o meu, deitados sobre o tapete de seu escritório depois de uma noite mágica ao seu lado.
Fechei meus olhos deixando que mais lágrimas molhassem meu rosto.
De fato, nunca estamos preparados para perder alguém, principalmente se esse alguém partiu sem saber ao menos o quanto era amado.
Mob: eles já estão lá — disse me tirando de todas aquelas lembranças. Secando mais uma vez minha pele, olhei para suas mãos — Carol já deu o alerta.
A mensagem de Carol avisando sobre a posição de cada capanga ao redor da casa nos ajudaria a não cometer erros.
Silêncio aqui era primordial. Levaríamos um por um, sem alvoroços.
Quando Mob e eu nos encontramos com o resto do grupo, cada um recebeu uma função específica. E por mais que minha mente quisesse apenas entrar naquela casa e acabar com a raça de quem acabou com a minha vida, apenas aceitei o que me passaram.
Bak: não há espaços para erros agora — falou como o líder que sempre foi, olhando nos olhos de cada um — usem suas armas silenciadas caso seja preciso apertar o gatilho.
Mesmo lidando com um trabalho que exigia sangue frio, eu sabia que nenhum deles havia derramado sangue de uma pessoa sequer, mesmo com clientes tão caloteiros.
Exceto agora, caso fosse preciso.

Separados em duplas, cada um tomou uma direção diferente seguindo para perto da grande casa. A partir daqui tudo se tornou um borrão. Meu corpo e mente estavam em modo automático enquanto colocada um por um sobre o chão.
Meus punhos estavam doloridos e as costas das minhas mãos sangravam com os cortes vindo das pancadas. Mas nada me parava.
Toda a minha dor e raiva estavam sendo descontadas sob golpes fortes naqueles que se diziam estar protegendo João. Piada.
A cada homem que era amarrado no chão, mais perto ficávamos daquele que viemos buscar.
E eu não queria parar. A dor física e o cansaço mal se comparavam com o buraco que parecia existir em meu peito, quase como se meus órgãos estivessem sido arrancados para fora do meu corpo.
Até que tudo se apagou, e eu não vi mais nada ao meu redor.

DANGEROUS TOUCHOnde histórias criam vida. Descubra agora