MAYARA
Eu vou morrer.
O ar frio do começo da noite faz meu cabelo voar quando nós queimamos
pela estrada. Meu coração está na garganta, olho para a escuridão se aproximando abissal, e não vejo ninguém. Eu surto um pouco mais, e tento acalmar o pânico gritando dentro da minha cabeça.Isso não pode estar acontecendo.
Isso não pode estar acontecendo.
Isso não pode estar acontecendo.
Isso está acontecendo.
Isso está acontecendo, mas eu vou ficar bem.
Tudo tem que ficar bem.
Finalmente, a moto desacelera em uma rodovia. Não há luzes. Não há outros carros.
Nada.
Eu solto um pouco meu aperto ao redor da cintura de Hugo, até que eu sinta que não possa ser arremessada do meu assento a qualquer segundo. As costuras no asfalto fazem um barulho regular quando as rodas da motocicleta viajam sobre elas. Eu penso sobre saltar. Quais serão as chances de eu me machucar gravemente se eu me atirar da moto?
Quais são minhas chances de morrer?
É quase como se Hugo adivinhasse os meus pensamentos quando a moto
acelera novamente, rasgando a estrada, o motor rugindo em meus ouvidos. Não há nenhuma chance de fazer isso agora.Eu estaria morta no segundo em que meu corpo batesse no chão da estrada.
Permito a mim mesma o luxo de deixar que algumas lágrimas
caiam enquanto viajamos pela noite. Parece que essa jornada não tem
fim. Parece que eu vou ficar presa aqui, na traseira dessa moto, para
sempre, forçada a me segurar em um cara que me enganou, quer bebê, matou três homens e só Deus sabe o que ele ainda quer fazer comigo.Talvez para me transformar em sua escrava sexual.
Esse pensamento me deixa enjoada. Minha cabeça ainda está girando por causa das pancadas que Cut deu, o que não ajuda. Posso sentir as últimas reservas da minha energia escorregando, meu corpo ficando fraco demais para funcionar corretamente. E quando penso que irei desmaiar, a moto para em mais um motel de beira de estrada. Meu corpo está dolorido, minhas costas, minha bunda, meus ombros, minhas pernas, tudo está latejando e reclamando de um jeito ou de outro. Dói ainda mais quando Hugo
desliga a moto e me faz levantar, meus membros protestam por serem esticados depois de permanecerem na mesma posição esse tempo todo.Eu rapidamente olho ao redor, me perguntando se deveria correr. Esse motel parece tão movimento quanto o outro, e gritar por socorro não parece um bom plano. Rodovia se estende sem fim, a paisagem com muito pouca vegetação. Rochas enormes tornando sinistro o lugar.
— Não tente nada estúpido.Eu viro a cabeça para Hugo, enrolando os braços ao redor do meu corpo. Nós entramos no estabelecimento e a recepcionista está com a cabeça jogada entre os braços, dormindo. Hugo a chama uma vez, e ela permanece dormindo. Então ele bate com o punho no balcão e ela salta sentada, os olhos arregalados, os cabelos brancos apontando em diferentes direções.
— Hmmm....Olá jovens. Vocês estão perdidos? Querem alguma informação?
— Queremos um quarto. — Hugo responde e um sorriso ilumina seu rosto.
— Mesmo?
— Sim, e se puder ser pra hoje eu ficaria agradecido. — Hugo diz com impaciência.
— Claro. Me acompanhem.A senhora sai de trás do balcão e nos guia até um quarto. O espaço é pequeno e está praticamente vazio. O odor do mofo domina todo o ambiente e os lençóis da cama de casal estão amarelados. No telhado existe várias falhas, grandes o suficientes para ver as estrelas, e há um anexo com uma pia, chuveiro e vaso sanitário.
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Parece que foi ontem
RomanceRomeu González já tinha chegado ao seu limite, desistido de tudo e de todos. Havia parado de acreditar no amor e o seu mundo era pintado de preto. Isso até Mayara Schiller aparecer e mudar sua vida. Ele não estava esperando por aquilo e ela também n...