Tempo Presente
ROMEU
Porra. Eu queria ficar perdido naquelas lembranças, mas eu senti que estava me afastando. Não importa o quão duro eu tentei segurar, o calor do corpo recém nascido da minha filha estava lentamente desaparecendo, sendo substituído com os sons de alguém falando. Dor surge na parte de trás da minha cabeça quando tento abrir os olhos, mas eles não cooperam, não importando o quanto tente. E através do encantamento o som de latidos atinge minha cabeça, fazendo a dor aumentar.
— Temos mais um. Repetindo. Temos mais um —Ouço alguém dizer. O som está longe, mas posso sentir terra caído sobre meu corpo, indicando a aproximação. — É homem. Ele está respirando. Ainda não é possível identificá-lo.
— Ro...me...u... — Tento dizer meu nome, ainda sem saber se é audível.
— Romeu, ok. Eu entendi. Encontramos Romeu González. —Ouço o homem dizer a alguém. — E ele está consciente. Sr. González, vamos tirá-lo daí. Por favor, tente não se mover. — Diz o homem novamente. Seu tom é suave, porém firme.
— Eu desço com você. —Ouço outro homem dizer.As vozes começam a aumentar, e tento abrir os olhos, mas tudo parece estar se esvaindo. As vozes e o caos estão até que a escuridão cai. Quando finalmente voltei a mim eu ouvi os sons familiares de
monitores cardíacos apitarem ao meu lado, então eu só podia supor que estou em algum maldito quarto de hospital. Eu tentei me mover, chamar alguém, mas não consegui. Eu estava muito longe na névoa para me libertar. Mas posso sentir a mão quente acariciando meu braço enquanto
inalo um cheiro familiar.Mayara
Ela estava aqui e imediatamente eu senti meu coração se acalmar. Inspirei com cuidado, puxando o máximo que podia dela para dentro de mim. Eu sentia tanto a
falta dela. Sentia falta do seu cheiro, do seu gosto. Sentia falta de olhar nos seus olhos e ter certeza de que qualquer coisa que eu tivesse que fazer por nossa família, valia à pena.— Eu sinto tanto a sua falta, motoqueiro―Ela disse bem baixinho, próximo ao meu ouvido.― Não consigo sem você.
Suas palavras atingem meu coração. E embora eu possa sentir lentamente algumas partes do meu corpo respondendo as minhas ordens, eu não conseguia abrir os olhos ou falar algo. Eu queria me levantar e queria dizer a ela que eu estava ali. Que eu nunca a deixaria só. Queria dizer que a amava tanto, e que ela não havia saído de nenhum dos meus pensamentos em nenhum momento.
— Não consigo sozinha.—Ela disse
meio engasganda— As meninas estão perguntando e eu não sei mais o que responder. Eles querem o pai delas. Elas estão lá fora, mas eu não quero que elas vejam você assim, motoqueiro. Precisamos que esteja bem e acordado. Nosso bebê precisa de você. Você precisa voltar logo. As coisas não são as mesmas sem você.A voz desapareceu quando ela começou a chorar e então meu coração se quebrou. Eu precisava voltar mais rápido. Eu não podia deixá-la na mão, sem apoio, sem cuidado. Preciso mostrar que estou aqui. Eu forçava minhas pálpebras a se abrirem, mas elas se recusavam. Eu queria que ela me visse
com meus olhos abertos, olhando para ela, ouvindo o que ela tinha a me dizer. Eu tentava mover qualquer parte do meu corpo, esboçar alguma reação, mas meu corpo estúpido não se movia.Malditos medicamentos!
Eu sabia também que se não fossem os medicamentos eu provavelmente estaria sentindo dor. Eu tinha certeza de que parecia muito pior do que realmente me sentia. Mas eu precisava mostrar que estava bem. Que isso tudo era passageiro e que em breve eu estaria de volta. Então lutei contra a medicação e minhas limitações, juntando toda força que poderia conseguir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Parece que foi ontem
RomanceRomeu González já tinha chegado ao seu limite, desistido de tudo e de todos. Havia parado de acreditar no amor e o seu mundo era pintado de preto. Isso até Mayara Schiller aparecer e mudar sua vida. Ele não estava esperando por aquilo e ela também n...