MAYARA
Deitada na cama, eu me pergunto se ele vai voltar ou não. Dormir não é uma opção, principalmente porque ainda estou com fome. As besteiras que Hugo me deu à alguns minutos atrás já foram quase todas digerida. E agora deitada de costas, encarando o teto, eu pulo a cada som ou estalo.
A todo momento me pergunto o quanto isso tudo é real?
Eu quero meus pais. Quero me enrolar em seus braços e sentir que tudo está bem outra vez. Olho ao redor desse quarto desconhecido e fedido, nada fazendo sentido, e desejo muito que eu esteja imaginando tudo isso. Coisas como essa não acontecem. Isso é coisa de pesadelos e filmes, e historias de terror que jovens mulheres ouvem dos mais velhos para mantê-las seguras. Com toda certeza do inferno isso nunca deveria ter acontecido comigo. Mas aconteceu, e estou esperando
que, apesar de quão fútil essa esperança possa ser, Hugo finalmente se dê conta do tamanho da crueldade que esta fazendo e me deixe ir.Com esse pensamento, eu acabo não resistindo e caio no sono, finalmente. Sonho que estou em casa, e meus pais e Dandara estão trabalhando em mim, tentando salvar a minha vida. Tenho um buraco na barriga, e sangue está se derramando por todos os lados. Minha mãe se esforça em colocar algumas gazes dentro de mim. Dandara está chorando, assim como meu pai, mas minha mãe está inconsolável. Ela está soluçando com tanta força que mal consegue falar enquanto minha irmã diz a ela o que fazer. Eu quero perguntar o que está acontecendo, mas meu corpo não responde.
Eu não tenho voz.
As máquinas no quarto começam a apitar, enchendo o lugar com sons sonoro. E então, eventualmente, tudo silencia. Meu pai se levanta e todo seu rosto está sujo com meu sangue. Sua boca está puxada em uma linha apertada, e um olhar de desapontamento.
— Eu sempre te disse para tomar cuidado com as pessoas, princesinha.— Ele diz. — Agora não há nada mais que possamos fazer.
Eu desesperadamente busco os olhos da minha mãe, ela fica cada vez mais histérica, e luta com os equipamentos médicos, arrastando desfibriladores em meu peito.
— Um, dois, três.
Meu peito salta com a descarga elétrica, e sinto todo meu corpo vibrar. Mas nenhum sinal dos batimentos.
— Um, dois, três.
Novamente a tentativa é falha, e minha mãe se dobra para baixo e sussurrando no meu ouvido.
— Volte. Por favor volte. Não desista.
Eu quero muito responder, dizer que não vou desistir, mas não consigo, no entanto.
— Ela se foi, mãe. Precisamos prepará-la para o funeral — Dandara enfia as mãos dentro de mim, tirando os instrumentos que colocou.
Nesse momento, em uma última tentativa, consigo mover minha mão e meus dedos descem para o local, esperando encontrar a mão da minha irmã. Mas não encontram nada por um segundo. Quando olho para cima, estou sozinha no quarto agora. Confusa, tiro as duas mãos de dentro
de mim, cobertas de sangue, e elas não vem vazias. Estou segurando um bebê, tão minúsculo e coberto de sangue. Meu bebê, uma garotinha. Na outra mão, estou segurando uma arma.Eu pulo acordada, meu coração martelando no peito. Por um breve e aterrorizante momento eu penso que minha barriga está aberta e meu bebê morto. Fecho as duas mãos na minha barriga, sentindo cada polegada, correndo as palmas para cima e para baixo com rapidez.
— Sonho ruim?Eu quase não seguro o grito que está se formando na minha garganta. Hugo está de pé ao lado da cama, me olhando com os braços cruzados.
— Eu preciso ir para minha casa, Hugo.
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Parece que foi ontem
RomanceRomeu González já tinha chegado ao seu limite, desistido de tudo e de todos. Havia parado de acreditar no amor e o seu mundo era pintado de preto. Isso até Mayara Schiller aparecer e mudar sua vida. Ele não estava esperando por aquilo e ela também n...