Aidan e eu

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Mas...

Que...

Merda...

-VOCÊ O QUE?!

-Sem chilique. Eu já estou me punindo o suficiente. Eu bloqueei Aidan antes de entrar no avião, só isso.

Já havíamos chegado em casa e só quando estávamos deitados no sofá confortável assistindo o filme preferido de Marcos e com um monte de embalagens de chocolate pelo chão, eu contei pra ele oque havia acontecido na roda gigante e oque eu havia feito depois. Eu estava sendo muito hipócrita, fiz o mesmo que tanto chorei por Aidan ter feito, mas não posso correr o risco de me apaixonar de novo.

Depois de dizer tudo isso a Marcos ele simplesmente balançou a cabeça e abriu uma outra barra de chocolate. Eu preciso me desestressar. Pulo do sofá, vou até meu quarto, abrindo meu closet e pegando roupas para me exercitar. Enquanto enchia minha garrafa de água, ligo para o meu instrutor e digo para me encontrar na academia.

Vou correndo até lá, como estava cedo, haviam poucas pessoas na rua, optei por passar pelo caminho mais longo, que me dava vista para o mar, quando não havia ninguém por perto eu solto um grito tão forte que surpreende até a mim mesma.

Chegando na academia, Jeremy (meu instrotor) já estava lá, com seu sorriso brilhante e cabelo cortado recentemente. Ele abriu a boca para dizer que hoje seria dia de treinar as pernas (como estava escrito em meu cronograma), mas o olhar que eu lancei em sua direção dizia com todas as palavras que eu, ofegante, não pude dizer, que hoje era dia de boxe.

Jeremy nos guia até a parte da gigantesca academia onde os alunos treinam boxe, me entrega duas daquelas luvas vermelhas e me aponta um dos sacos de pancada pendurados no teto.

-Isso morre aqui Jeremy.- Ele assente.

Imprimi uma foto de Hannah McCloud abraçada a Aidan Gallagher... e trouxe fita também... grudei a foto RoMâNtIcA no saco de pancadas e começo a bater com o máximo de força que eu tenho enquanto me lembro dos comentários dessa foto.

"Como eles são fofos"
"Melhor casal"
"Sabia que ficariam juntos no final"
"Ela é melhor que a Julie"
"Escolheu bem"

Não que Aidan tivesse ao menos curtido esses comentários... mas ainda doía. Quando percebi Jeremy segurou o saco de pancadas, o sur escorria do meu rosto e os nós nos meus dedos doíam por causa da força excessiva. A foto estava no chão, os olhos verdes de Aidan estavam voltados para Hannah que lançava aquele sorriso falso em direção à câmera.

-Julie... tá tudo bem?

-Tudo ótimo. Até amanhã.

Volto pra casa, novamente pelo caminho mais longo, sabendo que Marcos já devia ter saído para a faculdade. Vou andando, devagar, para ter que encarar a solidão de um apartamento vazio pelo mínimo de tempo possível.

30 minutos depois eu prefiro entrar pela garagem, para não ter que encarar o olhar de pena do porteiro quando ele visse meus olhos inchados. O carro de Marcos continua na garagem, estranho um pouco mas chego à conclusão de que pegou carona com algum amigo.

Subo as escadas arrastanto os pés, tiro a chave da bolsa de ginástica que estava carregando, quando entro, jogo essa bolsa num canto qualquer e fico confusa ao encontrar Marcos com o olhar vidrado, sentado no sofá, completamente petrificado.

-Marcos? O que faz aqui?

Meu amigo completamente pálido, simplesmente aponta para meu quarto. Possibilidades absurdas passavam pela minha cabeça... um ladrão, paparazzi, assassinato de aluguel, um sequestrador, um corpo escondido... com medo dessas possibilidades eu peguei um vaso caríssimo e delicado, a fim de me defender com ele caso fosse necessário.

Entro no meu quarto o mais cautelosa possível e não acredito no que meu olhos vêem. O vaso cai da minha mão e o barulho de porcelana se quebrando chama a atenção da silhueta feminina, fazendo-a se virar pra mim.

-Iaí vadia.

-SAMANTHA!!!!!

Corro em sua direção e a abraço, fazendo nós duas pararmos no chão, quando nos levantamos a abracei de novo.

-O que faz aqui?

-Vim ver a melhor amiga do mundo, obviamente...

-Quem é você e o que fez com a Sam?

-E...

-E...?

-Ajudar o melhor amigo do mundo...

-Que seria...?

-Aidan Gallagher.

-Sai da minha casa.

-Julie, meu amor, por que aqueles armários alí estão trancados?

Ela estava falando dos armários com plaquinhas específicas de "não mecha". O que tem neles? Bem... no maior deles são os meus bebezinhos lindos... no outro... meus brinquedinhos. Sem mais detalhes.

-São meus sapatos. Não quero que ninguém toque.

-Ui. Então... tá famosa né.

-O que foi que você fez com o Marcos? Ele está petrificado na sala até agora.

-NÃO TÔ NADA!- Marcos grita da sala.

-Eu só falei que tava com saudade de vocês poxa...

-Por que fez isso com ele?

-Humm... pelo mesmo motivo do Aidan.

-Sabe onde vocês dois deviam enfiar essa desculpa esfarrapada de merda?

-Julie bolada. Eu tô com fome.

-Tem salgadinho nos armários. Chocolate e sorvete na geladeira. A vodka tá escondida, tem que perguntar o Marcos cadê.

-Ele escondeu a vodka de você?

-Eu estava com uns probleminhas com bebida depois do meu dramático término com "Aquele que não deve ser nomeado"- fiz o sinal de aspas com os dedos.

-Perdi muita coisa não foi?

-Quatro anos é muita coisa.

-Mas enfim, feliz aniversário atrasado.- Sam me entrega um pequeno embrulho em forma retangular.- Esse é o meu. Esse aqui o de Aidan.- Ela me entregou uma outra embalagem retangular mais pesada que a última.- Vou achar a vodka pra você amiga.- E saiu do quarto.

Abro primeiro o de Sam, um porta retratos com tema angeleno e uma foto minha nas costas do Aidan, ao lado dela nas costas de Marcos. Todos sorrindo. Tão felizes... uma lágrima escorre pela minha bochecha, a limpo de pressa.

Abro o presente de Aidan... um caderno. Não "um caderno". "O caderno". Aquele que lhe dei de presente de aniversário. Todos os poemas e fotos ainda estavam alí, mas as inúmeras páginas que eu tinha deixado em branco haviam sido preenchidas, com poemas, fotos, desenhos, letras de músicas, citações... lembranças. Abraço o livro me dando conta do quanto a saudade que sentia de Aidan estava me consumindo. Mas eu não ia ceder. De novo não. Uma batida na porta me desperta do meu davaneio.

Chego na porta do quarto no momento em que Marcos abre a porta. O rosto ainda muito bem maquiado e o cabelo perfeito se viram em minha direção...

-Mãe?

-Mãe?- Marcos pergunta, então me dou conta de que nunca falei dela para meu melhor amigo.

-Mãe de quem?- Sam sai da da cozinha cheia de coisas na mão que estava levando para comer na sala, mas para assim que seus olhos batem na mulher loira na entrada da minha casa. Seus olhos se arregalam e ela volta a passos cuidadosos e de costas para a cozinha.

Então me lembro de tudo o que ela fez comigo. Ou melhor, o que ela NÃO fez. Levanto o rosto, estufo o peito, cerro os punhos e pergunto com a voz cheia de despreso:

-o que você quer?