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Havíamos acabado de deixar Cat e Marcos no aeroporto, mas agora sem a leveza que os dois traziam ao ambiente, eu não sabia como agir, meus movimentos eram todos meio robotizados e eu respondia às perguntas genéricas de Aidan do modo mais genérico possível.

Era tão descomplicado o jeito que ficávamos juntos à alguns anos atrás, mas agora, pela culpa da parte dele e a demora para perdoà-lo de minha parte, estávamos enferrujados. Secos. Frios.

Mas isso não me desanimava, eu sabia o que tinha que fazer para voltarmos à calmaria usual: contar da minha decisão. Era complicado saber como começar, eu enrolei tanto que Aidan desistiu de insistir no assunto, quando parece estar pensando nisso simplesmente balança a cabeça e pergunta do tempo na minha cidade ou algo assim.

Estávamos na cozinha quando finalmente tomei coragem de começar a falar, eu picava os ingredientes enquanto Aidan dominava o fogão. Assim que abri a boca, a faca que estava manuseando penetrou meu dedo indicador, não foi muito fundo, mas isso não foi um empecilho para que o sangue não se espalhasse pelos legumes cortados em cubos em cima da tábua de madeira.

-Merda.- Aidan tira os olhos da panela e assim que vê o sangue dramaticamente espalhado pelo meu avental, desliga o fogão e praticamente voa para o banheiro, voltando pouco tempo depois com a maleta de primeiros socorros que guardo por precaução.- Ah, Aidan, está tudo bem, isso não é neces- Eu comecei a dizer enquanto o garoto tirava esparadrapo, algodão e bandeides da maleta, porém fui interrompida com um beijo repentino nos lábios. A ação me surpreendeu, tive que me apoiar no balcão atrás de mim por ter me desnorteado tanto.

-Deixa eu cuidar de você... aliás, estou querendo fazer isso a muito, muito tempo, me desculpe.- Aidan me ergue e sinto a pedra fria da bancada em minhas coxas logo em seguida. Com as mãos habilidosas que eu já conhecia tão bem (sei q vcs pensaram besteira, safadas), ele limpa o machucado e estanca o sangramento, dando um beijo por cima do curativo depois que acabado o serviço.

Aquela era minha deixa.

-Aidan.

-Sim?- Respondeu sem olhar pra mim, guardando as coisas que havia usado. Seguro seu rosto na palma da minha mão com o dedo machucado e viro-o pra mim.

-Eu enrolei bastante pra contar sobre a minha decisão...- Aidan abriu a boca, e eu sabia que sairia algo como "não quero te forçar a dizer nada", então calo-o com um dedo em seus lábios.- Enfim. Decidi que não quero você longe, Aidan. Cada instante lomge de você é agonizante. Estar perto de você esses dois dias fez um tipo novo de felicidade que eu nem me lembrava que existia renascerem.

-Julie...

-Deixa eu terminar. Você é tudo pra mim, Aidan Ryan Gallagher. Você é a letra mais profunda misturada com a melodia mais harmônica. É minha música, meu passado, presente e futuro. É o gatilho do meu amor mais sincero e puro. Eu poderia dizer que o que sinto por você é do tamanho do unicerso inteiro, mas nem o universo se compara à minha vontade de te ter comigo. Então, meu amor, se for recíproco, imploro para que não nos separamos mais.- Eu havia enlouquecido. Saí completamente dos trilhos. Eu não sei o que me deu, o plano era sugerir para Aidan uma reaproximação, se eu não tivesse ficado sem fôlego pediria o pobre coitado em casamento. Será que é tarde demais pra retirar o que eu disse? Se for tarde, nada me impede de me jogar pela janela nesse exato instante.

Então Aidan me beija. Um beijo urgente. E eu retribuo. Ficamos assim por um bom tempo, Aidan puxando minha cintura para perto dele quase como se quisesse fundir nossos corpos e eu puxando os cabelos de sua nuca, descontando todo o desejo e saudade que se acumulava em mim naquele gesto.

ISSO me impede de me jogar pela janela.

-É recíproco, Julie Key. Mais que isso, você me faz sentir coisas absurdas, coisas que nenhum filme, livro ou música jamais captou com perfeição. Você é minha inspiração, o motivo de eu não me afundar num desespero insuportável. Esses últimos anos foram torturantes.- Outro beijo, sua testo grudada na minha, respirações ofegantes.

-Quero te mostrar uma coisa.- Pego Aidan pela mão esquerda e o conduzo até meu quarto. Em frente à minha cama agora sem colchão, há um baú com estofamento vermelho, abro-o e de lá tiro três livros, fecho o baú novamente e me sento em sua tampa, dando um tapinha no espaço ao meu lado para que Aidan se sentasse também.

-Esses são...?

-Sim. Esse o que comprei com você nos primeiros dias do intercâmbio.- Entrego o livro mais antigo, cheio de orelhas, arranhados na capa, folhas gastas e post-its pulando para fora.- No final dele você vai ver que eu ia queimà-lo ou sei lá o que. Não tive coragem.- Em vez de seguir para onde eu havia indicado, Aidan abre na primeira página, onde colei uma foto dele durante um show e uma minha, também enquanto cantava, a folha com aparência de pergaminho dava um toque antigo e as flores dissecadas e pedaços de jornal que eu havia colado para enfeitar tiveram a honra de serem todas tocadas por Aidan, que contornava com os dedos cada peacinho de papel visível.

- Em vez de seguir para onde eu havia indicado, Aidan abre na primeira página, onde colei uma foto dele durante um show e uma minha, também enquanto cantava, a folha com aparência de pergaminho dava um toque antigo e as flores dissecadas e pedaços...

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-"Aidan e eu"-O garoto contorna as letras escritas em vermelho.- Guardou isso o tempo todo?- Assinto.

Passamos o restante da tarde deitados no carpete horrível, folheando aquelas páginas, comentando o que sentimos quando cada acontecimento ocorreu e compartilhando lembranças perdidas na responsabilidade da vida adulta. No final de tudo, Aidan me surpreendeu quando sugeriu que nossa história virasse um filme, dirigido por ele próprio e tendo a mim como roteirista. Aquilo me deixou extremamente feliz, estávamos fazendo planos, e mesmo que nunca fossem se concretizar, éramos nós dois novamente, pensando no futuro como se tivéssemos certeza de que não nos separaríamos mais.

Aidan e euOnde histórias criam vida. Descubra agora