Aidan e eu

052

Estava andando enquanto tentava me equilibrar no meio-fio do passeio. A rua não mudara praticamente nada, só algumas cores diferentes de portões ou carros mais modernos aqui ou alí, nada que desfizesse a familiaridade que sentia ali.

Começo a me lembrar de todas as vezes que passei alí com Aidan, com o Marcos e com a Sam, as lembranças me desnorteiam um pouco e eu começo a me desequilibrar. Eu me lembro de fazer isso toda santa vez que saía com meu ex namorado (aquele mesmo que me traumatizou com o "eu te amo" não correspondido. Babaca), só pra ter uma desculpa para andar abraçada com ele, o problema é que eu não tenho coordenação motora pra isso então sempre acabava no chão. Eu me lembrei disso e, consequentemente, do por que parei de fazê-lo assim que ví o chão se aproximando perigosamente de mim quando dei um passo incerto.

Na verdade eu mal tinha começado a cair quando um par de mãos familiares me equilibra.

-É isso que dá não me esperar, docinho.- Olho pra Aidan e percebo que ele só subiu pro quarto para trocar a blusa amassada e pedar sua jaqueta. Um moletom enorme pendia de uma de suas mãos.- Aqui. Não precisa sair por aí como se fosse um cone de trânsito.

-Isso é moda, Gallagher. Você não entenderia.- Falo em tom de brincadeira.

-Entendo que não é muito comum sair por aí vestida assim às 11 da manhã. Pra onde está indo mesmo?

-Almoçar com Marcos e a Cat. No hotel. Tenho que fazer o Check-out também. Acho que vou em bora hoje ainda.

-Hum... se importa de eu ir com você?

-Não...- Senti minhas bochechas queimarem.

Eu estava ansiosa, minhas mãos soavam um pouco, não só pela presença de Aidan ou pela proximidade dele, ou por ele estar me apoiando pela sintura enquanto eu continuo me equilibrando no meio-fio, mas pelas palavras que quero pronunciar. Quero mesmo. Mas não consigo organizar os pensamentos pra isso. Na verdade eu tinha um discurso inteiro preparado mas essa aproximação repentina depois de tantos meses quase sem nos tocarmos me desnorteia. Então eu me lembro do dia em Londres, na roda gigante. Puta merda. Sinto meu rosto indo ao vermelho-vivo em poucos segundos.

-O que foi?- Aidan percebe meu desconfordo.

-Nada... é só...- Aidan levanta uma sobrancelha- E...eu lembrei daquele dia... na roda gigante...- o rosto do garoto cora do mesmo modo, sua pegada em minha sintura afrouxa mas eu me agarro a ele novamente.

-Foi...- Aidan procura as palavras certas.

-Um momento de imaturidade total? Idiotice? A maior besteira que já fiz em toda a minha vida se lervar em consideração que eu estava p da vida com você?

-Eu ia dizer que foi maravilhoso transar com vista pra o Big Ben.- Nós dois rimos, depois olhamos em volta caso alguém tivesse ouvido.- Mas é, foi tudo isso aí...

-Aidan...

-Sim?

-O que eu queria te falar mais cedo...

-Não quero que se sinta pressionada a dizer nada, Ju.- Ele diz isso mas vejo ansiedade e curiosidade em suas feições.

-É só que... Arg. Eu queria perguntar se quer conhecer minha casa nova.- Eu simplesmente não consegui dizer, e peguei a primeira coisa que me passou pela cabeça e joguei pra fora. Me arrependi logo em seguida.

-Hum... uau, isso foi... inesperado. Mas... claro. Por que não.

-Ótimo, eu te busco quando estiver indo pra Carmel.- Eu insistia, simplesmente não conseguia parar de falar. MAS QUE MERDA. Isso era idiotice, eu era uma adulta agora, não uma adolescente bobinha apaixonada, não podia ficar dando tantos foras assim. Isso é ridículo. Por mais que eu ficasse me amaldiçoando mentalmente, insisti na ideia e então estava tudo combinado: Aidan e eu viajaríamos de carro pra Carmel no fim da tarde. Que maravilha.

Cinco horas no mesmo carro com Aidan talvez fosse o que eu precisava para criar coragem, mas no momento, tenho que me concentrar em explicar para o Marcos o porque de eu estar com um moletom que ele nunca havia visto.