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"Tentei lutar, mas em vão. Não consigo mais. Não posso reprimir meus sentimentos. A senhorita tem de me permitir dizer com quanto ardor eu a admiro e a amo."

O som irritante do despertador interrompe Sr. Darcy e me faz revirar os olhos. Por que ele está gritando? A quem ele está tentando acordar? Talvez o despertador queira tirar senhor Darcy e Elisabeth Bennet de dentro do meu livro e trazê-los para a vida real para que assim eles me salvem do desespero. Não deu certo. É claro que eu não dormi na noite passada, por quê eu dormiria? Vou ter tempo suficiente para isso dentro do avião. Ou quando chegar lá.

O barulho não para, então o despertador cor de rosa que fica em cima dos meus livros é atirado na parede.

Cinco horas até o vôo...

Duas horas até chegar ao aeroporto, tenho que chegar com uma hora de antecedência, então tenho duas horas pra memorizar ou ignorar cada cantinho dessa casa. Vou ignorar.

Coloco a cabeça pra fora da porta do meu quarto e ouço passos vindo da cozinha. Ótimo. Vou até a mala branca que minha mãe comprou pra eu viajar e tiro metade das roupas. Compro mais lá se precisar. Preencho o espaço com todos os meus livros e uma caixa com tranca em que eu guardo coisas importantes que eu não posso ficar sem.

E então pego uma bolsa. Alí dentro eu vou colocar meu kit de primeiros socorros para uma adolescente antisocial. Eu preparei tudo durante a madrugada: Crepúsculo- Amanhecer e Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban; três fones de ouvido, o que veio com meu celular, um sem fio e um estilo headphone; duas garrafas de água e um pacote de amendoins temperados. Com sorte, talvez eu sobreviva.

Depois que eu escondo todas as roupas que eu tirei da mala para minha mãe não suspeitar, desço para tomar meu café da manhã de cereal, frutas e suco de laranja.

-Bom dia.- Minha mãe, com seu cabelo castanho sempre preso num rabo de cavalo perfeito, nenhum fio fora do lugar, e a roupa sempre limpa e bem passada. Ela só faltou me obrigar a ir para a Califórnia. Talvez ela queira se livrar de mim. "Vai melhorar seu currículo", foi a deculpa dela.

-Bom dia.

-Seu pai vai te buscar?

-Lyam.

A essa altura você já deve saber que eu e minha mãe não nos damos nada bem. Ela se fechou para o mundo depois que se divorciou do meu pai a alguns anos. Sinceramente, eu não dei a mínima. Lyam é o meu irmão mais velho. Ele ainda não tinha 18 anos quando meus pais se separaram então ele foi morar com meu pai no apartamento novo dele.

Tenho uma hora. Vou me arrumar. Que roupa as pessoas usam pra viajar?  Isso dá muito trabalho. Já estava colocando a roupa mais velha e confortável que tinha quando me lembro que vou conhecer minha "família" nova assim que chegar lá.

Coloco uma leggin preta, uma blusa soltinha cinza e minha jaqueta de couro, decido deixar as ondas do meu cabelo castanho claro caírem sobre meus ombros.

Quando me olho no espelho decoro cada detalhe meu, como se depois do intercâmbio de um ano eu fosse virar uma pessoa diferente. O legal é que vou fazer 18 anos longe da minha família, tenho certeza que eles querem se livrar de mim.

Com quantos anos as pessoas fazem intercâmbio? Eu não faço ideia, mas minha mãe resolveu me obrigar a fazer o quarto ano do ensino médio em Los Angeles. Eu acho que não posso fazer isso, mas Ângela Key deu o jeito dela e conseguiu uma vaga pra mim.

Com minha maturidade aparentemente atingida, já entendi que o ensino médio não é um sonho como em "High school musical", não vai me transformar em uma pessoa horrível e depois me fazer aprender uma lição de vida como em "Meninas Malvadas", não vou encontrar o amor da minha vida que por um acaso é um vampiro, garotos musculosos que vivem em uma reserva e garotos pálidos com super força, velocidade, etc. não vão lutar por meu amor como em "Crepúsculo", cartas que eu mantinha em segredo não vão ser estregues por minha irmazinha mais nova como em "Para todos os garotos que já amei", pelo menos não nas escolas brasileiras, não que eu tenha esperança de que na Califórnia seja assim...

O som de uma buzina me tira da minha linha de pensamento. Pego a mala, a bolsa e desço as escadas que dão para a sala e a porta de entrada.

O carro vermelho me convida a estrar, me sinto tentada a sentar no banco de trás e pôr meus fones, mas me contenho e me sento no banco ao lado do motorista, como uma pessoa normal. Minha mãe chega na janela do meu irmão, diz oi pra ele e me fala pra ter juízo e me lembrar que não são férias, nada mais.

Quando ela se afasta percebo que estou livre dela, por um ano, e quando voltar posso pegar o dinheiro que deixei guardado no banco e comprar um apartamento só pra mim. Liberdade. Chega de jantares estranhos com clima pesado, chega de chegar da escola e não receber nem um "oi", chega de tudo isso. Livre, finalmente livre.

Aidan e euOnde histórias criam vida. Descubra agora