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Foi um pesadelo. Foram os 30 minutos mais longos da minha existência. A droga da cerimonialista estava vendo estrelas de tão bêbada, então era eu ou eu para resolver aquilo tudo.

-Abby...- chamei a mãe da noiva.- pode chamar o noivo, minha mãe e Aidan pra mim por gentileza? Obrigada.- Fui o mais educada possível mas ainda sim não esperei uma resposta. Alguns minutos depois e o trio estava ali.- Marcos, eu quero que corra até a igreja e pegue um daqueles buquês dos vasos do tapete vermelho que dá ao altar. Trás o buquê inteiro.- Estranharam minha ordem, mas após ver o estado de Cat, Marcos obedeceu sem questionar.- Aidan, corre até o carro e pega a bolsa preta grande que está no porta malas. Aproveita e dá a chaves pro Marcos ir mais rápido pegar o buquê.- Vi Aidan me lançar uma piscadela e logo depois ir em desparado em direção ao estacionamento.- Mãe, fala com o DJ pra tocar umas músicas lentas e guardar a música dos noivos pra depois, os garçons podem começar a distribuir aqueles bastões luminosos. Deixem o ambiente escuro. Depois de dar as instruções pro DJ e pra algum dos garçons, volta pra cá correndo.

E assim foi, calculei que tinha uns 15 a 20 minutos antes que estranhassem o sumiço da noiva. Levei Cat ao banheiro que havia ali e sequei suas lágrimas com a toalha macia fornecida aos noivos pelo salão de festas, a maquiagem não havia se danificado muito, o que era ótimo.

Aidan logo chegou com a bolsa gigantesca e eu a abri, procurando um pouco de pó, blush e um batom que fosse próximo ao que Cat usava. Passei um pouco do pó embaixo de seus olhos, passei uma camada fina de blush, apenas para dar uma cor no rosto dela e retoquei seu batom, logo a noiva estava como nova. Agora... o vestido era o verdadeiro desafio. Nesse momento minha mãe chegou enxugando o suor com um lencinho de seda e ouvi o DJ anunciando a música lenta.

-Consegue costurar isso mãe?- Ela fez que não com a cabeça. O único problema estava na saia de três camadas, rasgada até seus joelhos.- Cat... temos algum reserva?- Não, não tínhamos nenhum vestido reserva.- Temos três opções: buscar algum vestido de festa seu ou se quiser eu te empresto algum, podemos também deixar assim, mas infelizmente o rasgo está muito visível...

-Qual a outra opção?- Cat olhava fixamente pra mim, como se eu fosse a pessoa na qual ela depositasse todas as esperanças dela.

-Cortar. Podemos cortar até suas coxas as primeiras camadas e deixar uma cauda na camada de tule. Você consegue fazer isso, mãe.

-Sim, o caimento ficaria bom.

-De qualquer forma, podemos fazer isso e caso não goste usamos a primeira opção.

-Tudo bem.- Cat disse depois de um longo tempo refletindo. Depois ligou pra Marcos e pediu que trouxesse o vestido azul dela, Cat me garantiu que era excelente e que nunca havia usado antes, depois explicou que iria usar em uma de suas performances, numa cena sobre um baile, mas depois de comprar o vestido ficou sabendo que era um baile medieval.

-Tudo bem. Vamos fazer isso.

Com um lápis de olho demarquei no cetim branco onde minha mãe deveria cortar. Com a tesoura prateada cada vez mais próximo ao fino tecido branco meio manchado pela terra, as mãos de minha mãe tremendo, suor frio escorrendo da testa de cada um dos presentes naquela salinha e a música lenta brega no fundo, minha mãe anunciou que não podia fazer aquilo.

-AH QUE DROGA, ME DÊ ESSA MERDA AQUI.

-Olhe a boca Julie Key.- Minha mãe me repreendeu enquanto me passava a tesoura, revirei os olhos dramaticamente o que arrancou uma risada nasal de Cat. Fitei o vestido uma última vez enquanto a tesoura devastava sua saia.

Um flashback do dia em que escolhemos o vestido de Cat passou pela minha cabeça. Como sua mãe chorou ao ver a filha de noiva, como eu mesma tinha escolhido os sapatos e como eu e Cat nos abraçamos ao vê-la praticamente pronta pra se casar em cima de um pequeno pedestal vermelho no centro da loja de vestidos de noiva. Todos os presentes amaram tanto o vestido que resolvemos comprar ao invés de alugar, nunca vou esquecer o brilho nos olhos e no sorriso de Cat quando saiu da loja com o cartão de sua mãe vazio.

Não é possível ficar tão ruim, é? Quer dizer, vai parecer proposital, quem vai questionar a noiva no dia de seu casamento? Vai ficar curto e jovial, vai combinar com ela, e o tule cobrindo a parte de trás das pernas vai dar um ar de mistério.  Não é?

E quando terminei minha análise, tudo estava feito. Cat estava com os olhos cerrados, sua mãe encarava algum ponto aleatório do cômodo, a minha própria mãe levava sua mão direita a boca mas logo recuava, lembrando que deveria parar com o hábito de roer as unhas. Eu mesma evitava olhar, eu tinha plena consciência de que qualquer estrago seria minha culpa. Me levantei do chão onde estava agachada, exitando um pouco, levei Cat até um espelho de corpo inteiro e abrimos os olhos juntas.

Estava uma merda.

-Cat, eu...- Antes que eu pudesse me desculpar a noiva percorreu as mãos pelo delicado tule transparente e (meu Deus) o rasgou. Agora a única parte restante do vestido eram as camadas de tecido leve branco que tampavam pouco mais que metade de suas coxas.

-Eu me vejo assim numa praia, ou em algum campo, lendo. Talvez não tenha sido assim tão ruim. É bem melhor que o azul, com certeza.

Meus olhos lacrimejantes percorrendo o corpo de minha amiga e eu realmente consegui visualizar Cat debaixo da sombra de uma árvore, com seu exemplar de Morro Dos Ventos Uivantes enquanto as flores e plantas silvestres balançavam à sua volta, dançando com seu cabelo à favor do vento. Aquilo era a cara de Cat.

-Só acho que o penteado é muito exagerado para um campo.- E antes que o "NÃO" sequer se formace em minha garganta, Cat jogou seu cabelo pra frente com tudo e passou os dedos pelos fios cuidadosamente arrumados, fazendo dezenas de pérolas de tamanhos variados que (sabe Deus como) foram coladas em seu cabelo caírem impiedosamente no chão. Quando voltou à posição normal, Cat desmanchou seu penteado, pegou as duas mechas laterais descoloridas de seu cabelo e me pediu ajuda para trançá-las junto com sua mãe. Conseguimos um pregador bonitinho em algum canto e juntamos as duas mechas em formato de rosa na parte de trás de sua cabeça. Cat penteara sua franja lisa, voltando-a para seu devido lugar e ela estava deslumbrante. Não do jeito glamuroso e chamativo, mas do jeito Cat, exlando a simplicidade de seu brilho à cada piscar de olhos e sorriso tímido. Na hora em que eu havia conseguido formular uma frase descente Marcos chega correndo com um vestido embrulhado pendurado em um cabide em seus dedos e um buquê de flores variadas na outra mão, infelizmente ele não viu as pérolas e assim que eu ví o brilho em seus olhos ao ver Cat, ele caiu.

Aidan o ajudou enquanto eu peguei o buquê imenso de sua mão e a nova sogra pegou o vestido, corri para o balcão, desamarrei as flores e escolhi as mais estilo "flores silvestres" que encontrei. Amarrando as afortunadas novamente e levando-as para Cat, que expressou imensa gratidão à todos nós e deu um beijo carinhoso à Marcos.

Estava tudo novamente perfeito.

Aidan e euOnde histórias criam vida. Descubra agora