Assuntos Delicados

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Bater ponto na Arena nas primeiras horas da noite enquanto se escutava uma seleção de músicas eletrônicas aleatórias até dava uma disposição. O repertório era o mais variado, às vezes um som era cortado e outro começava a ser tocado. O volume, ora alto, ora baixo, era constantemente ajustado.

A passagem de som fazia parte da rotina dos bastidores da casa noturna quando a mesma estava fechada antes da abertura. Os Gladiadores cuidavam disso junto ao DJ convidado. Na ocasião, Mateus estava vendo isso junto ao profissional que cuidaria do som daquela noite. Isso acontecia enquanto tudo era ajeitado na pista.

Yuri e Billy colocavam no chão as cadeiras que estavam em cima das mesas. Depois, Ramon polia e higienizava os móveis. Os bastidores da Arena Esparta eram assim: cada um dos Gladiadores cuidava de algo diferente por dia. Todos, sem exceção, se revezavam. Quem chegava, encarregava-se daquilo que ainda não foi cuidado.

A arrumação vinha primeiro, e tudo acontecia simultaneamente para que os strippers tivessem mais tempo para os ensaios. Essa sim, a parte que mais exigia disciplina deles. Mateus estava em um dos pedestais de pole dance, aquecendo-se de shortinho e regata. Enquanto Patrick e Caique — descamisados — ensaiavam seus passos em cima do palco.

Um bom momento para Billy se acostumar com a rotina do lugar, que mal chegou e já estava ajudando em tudo. Ele não fugia do trabalho. E também aproveitava para conversar com seu amigo, e também colega.

— Acho que essa é a última mesa. — Comentou Billy após arrumar a mesa — Não é, Yuri?

— É... é sim. Deixa certinho pro Ramon vir higienizar depois. — Respondeu enquanto se aproximava dele.

— Sabe, acho bacana esse clima da Arena antes de abrir. Botar a mão na massa e tal, é gostoso.

— É a parte que eu mais gosto. Todo mundo aqui fica mais à vontade nessa hora do que quando tá se mostrando pro público.

— Você principalmente, né? Sei que adora ficar bem à vontade.

Os dois riram fraco. Yuri como de costume, vestia apenas uma bermuda cinza. Billy também estava sem camisa e descalço, mas com uma calça jeans presa com um cinto. Era sua terceira noite na Arena Esparta e conviver com outros strippers — sendo um deles — ainda tinha sabor de novidade.

— Quem diria que a essa altura da vida eu ainda ia passar por coisa nova. Ainda tô tentando lidar com isso de eu ter me tornado stripper. É como se ainda não tivesse caído a ficha.

— Faz parte. — Riu fraco — Logo cê vai se sentir como se sempre tivesse sido Gladiador. E o melhor é que vai ter um monte de amigo que vai te entender e te ajudar aqui.

— É. Todo mundo aqui parece gente boa. Só que...

— Algum problema com alguém?

— Não é bem um problema. Só uma coisa que eu não entendo. O cara com quem eu me apresentei na estreia, o Jorgito, ele age de maneira estranha quando eu tô perto dele. Virando a cara, querendo me evitar. Será que eu fiz alguma coisa com ele?

— Ah, tem nada com você, não. O Jorgito é assim com quase todos aqui. Principalmente com quem ele não conhece direito. Ele é anti-social, mas não anti-social tipo o Ramon que é rabugento. É como se ele tivesse medo das pessoas, entende?

— Medo? Um homem daquele tamanho? Que coisa.

— É, ele só tem tamanho. Ele interage muito pouco com os Gladiadores. Só comigo que ele conversa mais tranquilo, já que a gente se conhece bem. Mas eu até entendo o medo dele. Ele sofreu muito na Argentina. Tudo o que ele perdeu, o trauma que ele passou...

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora