À Disposição

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TRÊS ANOS E MEIO ATRÁS

Córdoba, Argentina

Mais uma longa tarde no Centro de Treinamento do time de futebol, onde todos os jogadores passaram horas no gramado. No dia seguinte, eles jogariam em uma partida do campeonato. Precisavam estar bem preparados.

Assim que os treinos acabaram, os rapazes foram liberados. O descanso também era importante. Quase todos os jogadores foram ao vestiário. Quando o campo ficou vazio, Jorgito estava sentado em um dos bancos nas laterais. Parado, sequer se deu ao trabalho de tirar o colete que usava por cima do uniforme.

Segurava a bola com as duas mãos, sua postura estava curvada para a frente, assim como o seu olhar, fitando o nada. Era do feitio dele ficar quieto em um canto, evitando conversar quando não fosse necessário. E também esperar um pouco para ir ao chuveiro em dias de treino. O time inteiro já estava acostumado com o jeito estranho e anti-social do Camisa 7 e até desistiu de mudar isso.

E nem fazia muita diferença, pois o loiro era uma máquina em campo. Seu foco nos passes e agressividade nos chutes potencializavam ainda mais sua habilidade com a bola. Nunca antes na história daquele time argentino houve um ponta-direita com uma performance tão estupenda quanto Jorge Peña Herrera.

Segundos depois, outro rapaz se aproximou e se sentou no banco. Sorridente, tinha os cabelos morenos, olhos castanhos, sem barba, e um topete firme. Também jogava no time, volante, não usava colete. Não foi ao vestiário ainda pois sabia que Jorgito estaria ali sozinho.

— Enfim, conseguimos ficar sós. — Disse Alejandro — Sabe o que significa?

— Melhor não. — Respondeu Jorgito, virando o rosto, receoso.

Alejandro Santamarina já era um rapaz bonito, mas por estar sempre sorrindo, ficava mais ainda. Tinha quase a mesma idade de Jorgito, mas uma personalidade completamente distinta. Receptivo, carismático, dava-se bem com todos. E com isso, foi o único do time que conseguiu quebrar a introversão extrema do loiro.

— Ah, qual é Jorgito? Nós quase não conseguimos ficar sozinhos.

— É perigoso, sabe disso.

— Não tem ninguém por perto, cara. Eu não viria aqui se não pudesse garantir isso. Vai ser rapidinho. Tô morrendo de vontade disso, e eu sei que você também está.

Jorgito ficou balançado, Alejandro sabia como deixá-lo assim. E de fato, o loiro estava doido de vontade. Virou-se para o seu parceiro e ficou olhando-o. Não conseguia resistir. Então, olhou para os lados, nervoso, para se certificar de que não havia ninguém mesmo..

Aproximou seu rosto ao de Alejandro, e selou seus lábios aos deles. O singelo beijo foi breve, mas repleto de sentimento. Se dependesse dos dois, ficariam naquilo por muito mais tempo. Só não ficaram pois alguém poderia flagrá-los.

Após o beijo, o moreno sorriu. Adorava fitar os olhos de Jorgito.

— Viu só? Não arrancou pedaço. — Disse Alejandro.

Jorgito virou o rosto e soltou um sorriso. Bem discreto, meio envergonhado. Sempre olhando nos olhos, Alejandro fazia ele se alegrar com seu jeito caloroso. E foi o único que conseguiu fazê-lo sorrir até então. Não foi à toa que se apaixonaram fortemente.

— Você é lindo demais pra ficar tão sério. Deveria sorrir mais. — Disse Alejandro — E me beijar mais.

— Não devíamos nos arriscar tanto.

Estava ficando cada vez mais difícil manter as aparências. Ninguém, absolutamente ninguém, podia saber do romance dos dois. O futebol era o pior lugar possível para dois rapazes se apaixonarem. Qualquer desconfiança sequer, não apenas colocaria um fim na carreira de ambos, mas também colocaria em risco a integridade física deles.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora