Isolados

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"Por que tudo tinha que ser de manhã?"

Mateus se fazia essa pergunta toda vez que tinha algum compromisso que só podia acontecer de manhã. Principalmente se fosse lá pelas sete ou oito horas. Acordar cedo, por si só, já era algo que detestava. Nunca estava de bom humor quando precisava fazer isso. E ainda por trabalhar de noite, travava uma guerra contra seu relógio biológico.

Daquela vez, ele não precisou sair de casa, tudo seria feito por chamada de vídeo. O que não facilitava muito, pois precisava estar apresentável em frente à câmera do notebook. Não podia aparecer de qualquer jeito. Logo, assim que acordou, apressou-se para arrumar seu quarto e se arrumar.

Fazia questão de estar impecável e mostrar uma ótima imagem de si mesmo. Seu compromisso, mais uma vez, envolvia sua carreira como escritor. Depois de algum tempo, conseguiu marcar uma pequena reunião com um dos proprietários da Editora Ribalta. O irmão da Brida, que ele conheceu no metrô.

Semanas antes, Velloso havia mandado todo seu material de ficção, não só seu principal livro no qual sonhava em lançar fisicamente um dia. Apostou todas as fichas em um retorno positivo da pequena e independente editora. O tempo passou, a ansiedade ficou a mil. Eis que chegou o dia do encontro, à distância.

Depois de abrir a janela e cuidar de seu quarto, sentou-se em frente a sua mesa de trabalho. O lugar onde escreve sua histórias e cuida de suas redes sociais, com prateleiras de livros e artigos de papelaria diversos. Abriu o notebook e olhou para a câmera a fim de dar uma última ajeitada no visual.

Arrumou o cabelo, alisou sua camiseta escura. Parecia que iria a um evento, mas ele nem iria sair do apartamento. Vez ou outra, ele tinha esses exageros. Alguns poucos dias se passaram desde que começou seu isolamento social, não queria aparentar estar de ressaca por conta da quarentena.

Alguns segundos de espera depois, e de um pouco de nervosismo, começou a chamada em vídeo. Mateus veria o homem da editora pela primeira vez.

Bom dia, Mateus. — O homem na tela cumprimentou — Espero que eu tenha feito você esperar muito.

— Não... não me fez esperar. Tá tudo bem. — Quase engasgou.

Ao ver aquele que estava na tela de seu notebook, falando consigo, Mateus se impressionou. O homem de rosto ovalado tinha a pele branca, quase alva, e olhos azuis. Apesar de cabelos penteados para o lado serem bem pretos, sua barba era completamente ruiva. Parecia ter vindo de algum lugar nobre da Europa.

Ao fundo, uma enorme estante cheia de livros de diversas grossuras e alguns fofos bonecos Funko Pop para decorar. Todo o conjunto da imagem fez com que Velloso rapidamente ficasse encantado.

Não sei se é preciso me apresentar, mas em todo caso, faço questão. Meu nome é Riquelme, sou sócio da Editora Ribalta junto com minha irmã, que creio já conhecer.

— Muito prazer. — Sorriu — E sim, já conheço sua irmã.

Não foi apenas o visual dele que fascinou Mateus, mas também seu jeito. Riquelme falava com tanta segurança com sua voz grossa e suave. O olhar, penetrante mesmo por vídeo. Até o gesticular, contido e leve, tinha garbo.

O stripper, que adorava tanto homens elegantes e cultos, e se considerava um, ficou admirado com o rapaz que havia acabado de conhecer.

Então, Mateus. — Riquelme continuou — Eu vi o material que você me entregou, e você me entregou bastante material. — Riu fraco — Vejo que faz bastante coisas, tem múltiplos talentos.

— Agradeço o elogio, eu dou o meu melhor. Eu acabo tendo ideias pra fazer várias coisas e, quando me vejo, tô fazendo tudo.

— Sei como é. E também dei uma conferida no seu canal, suas redes sociais, gostei muito da maneira como expressa suas ideias e sua personalidade. É muito comunicativo.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora