Catarse

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CINCO ANOS ATRÁS

Córdoba, Argentina

Assim que abriu seus olhos, uma luz branca fortíssima invadiu sua vista, quase cegando-o. Demorou para Jorgito enxergar direito e recobrar o mínimo juízo, viu que estava na cama de um hospital. Com a perda do efeito dos sedativos, o rapaz ficava mais apreensivo ao se ver ali. Queria ir embora mas sentia dores fortes por todo o corpo.

Ele não se deu conta, mas em seu rosto os machucados estavam bem mais visíveis. Um galo na testa, os dois olhos roxos, o nariz inchado e uma ferida no canto da boca. Aflito, sentiu um conforto ao ver que sua mãe estava no quarto.

— Mamá.

Marejou os olhos quando sua mãe se aproximou. Ela chorava e sorria ao mesmo tempo, aliviada por ver o filho acordado. Ela era uma mulher madura, com seus cabelos loiros cinzentos. Alta, bem alta e tinha um bom porte físico para idade. Uma ex-atleta olímpica que mostrava que aptidão para os esportes era negócio de família.

Jorge levou um tempo para conseguir juntar forças e falar com ela. Obviamente, conversaram espanhol:

— O que está acontecendo? — Perguntou com a voz embargada.

— Calma, Jorgito, meu filho. Vai ficar tudo bem. — Tentava confortá-lo enquanto passava a mão na cabeça dele.

Logo o médico chegou. Um senhor idoso com semblante de desprezo. Sequer chegou perto da cama e foi logo falando com o paciente:

— Herrera. Sente-se melhor?

Jorgito não respondeu nada. Ainda estava desorientado. A última coisa de que lembrava foi de estar no meio do campo, em um jogo importante, e só. O médico então, prosseguiu:

— Tem se recuperado bem, mas algumas costelas estão quebradas, deve ficar um bom tempo sob observação. Seu estado estava bem complicado. Tem muita sorte de estar vivo.

Ainda desnorteado, uma sucessão de lembranças desconexas lhe vieram à mente junto com a dor física. Foi então que, naquele momento, apenas conseguiu pensar em uma pessoa.

— Alejandro. — Murmurou.

O silêncio imperou, ninguém falou uma palavra sequer. As memórias começavam a fazer sentido na cabeça do rapaz e não eram nada reconfortantes. Muito pelo contrário. Sua lembrança mais recente, era da noite da tragédia. A partida em que esteve foi conturbada demais, e a saída do estádio estava mais ainda.

A torcida de seu time cercava o estádio enfurecida. Não deixavam ninguém entrar e ninguém sair. Pareciam animais ensandecidos, vandalizando o que viam pela frente. Gritavam, vociferavam xingamentos. O ódio deles não foi por causa de um jogo, ou algo do tipo. Era direcionado totalmente a Jorgito e o jogador citado por ele.

Os ataques começaram durante a partida, quando torcedores atiraram objetos em direção aos dois. Depois, a situação piorou. Tudo porque dias antes, a mídia expôs um grande segredo relacionado à dupla. A torcida não perdoou, sentiu-se traída e enojada. Alejandro Santamarina e Jorge Herrera, que antes eram ídolos, tornaram-se os mais odiados do time.

Naquela noite, tentaram fazer com que os dois deixassem o estádio escondidos, após a saída do resto do time. Mas não adiantou. Os torcedores flagraram eles fugindo e partiram para cima com tudo. Em meio à multidão, um lança-chamas foi jogado direto no veículo em que estavam. Foi um momento horrível.

Jorgito, por ser mais alto e ter um porte maior, conseguiu sobreviver sem grandes danos.

— Cadê o Alejandro? Eu preciso saber dele? — Perguntou o loiro já desesperado.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora