O tempo fez Yuri esquecer, em partes, como era estar dentro de uma cela de delegacia. Mas certas sensações ficaram impregnadas na memória de maneira perpétua. Tais como o ar pessimamente ventilado, o chão com rachaduras e buracos, o cheiro de mofo misturado com urina seca, e a ferrugem das grades.
Em meio a um turbilhão de pensamentos, o Gladiador ainda tinha espaço para lembrar dessas coisas. Mas também, não havia muito o que se fazer além de ficar pensando. Estava preso e literalmente sozinho ali. Não havia ninguém na cela, e nem nas outras.
Sentado no chão, encostado na parede, e os antebraços repousados no joelho, restou a incerteza. Pois sua revolta de nada adiantaria, estando naquele lugar. Ficou quase impossível provar sua inocência quando as provas irrefutáveis que tinha, não eram suficientes para quem o acusava. Sua palavra também não bastava.
Tentava imaginar quem faria isso e suas motivações, pois não foi um incêndio que ocorreu por acaso. Foi um ato pensado, calculado. Quem incendiou a Arena, sabia muito bem o que estava fazendo e pensou em colocar alguém do strip club como bode expiatório para livrar qualquer rastro do crime. E o azarado foi Yuri.
— Tua advogada tá aí.
Disse, de um jeito seco, o policial de voz rouca que surgiu destrancando a cela de Yuri. O stripper foi conduzido algemado até a pequena sala de interrogatório para conversar com sua advogada e ver o que poderia ser feito para resolver seu caso.
Já havia algum tempo que Yuri era cliente da Doutora Leila Renovato, que cuidava de assuntos jurídicos que ele poderia ter. Ela era uma mulher magra e pálida, com seus trinta anos e que vestia um blazer escuro. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque firme e seu tom de voz era sério e firme.
Firme como sua expressão. Ela estava ali a pedido de Guará, mas não demonstrava ter muitas esperanças quanto ao caso dele, baseando-se no que já sabia. E se justificou mostrado a ele, papéis com frames das imagens captadas pela câmera de segurança dos fundos da Arena.
Entregou os papéis para Yuri, que viu o homem encapuzado de costas, entrando na arena com um galão de gasolina. Ficou ainda mais indignado por ter conhecimentos das tais provas que o incriminariam.
— Puta merda. — Reclamou Yuri — Sério que eles tão achando que sou eu nessa merda? Tá na cara que esse não.
— Infelizmente, a pessoa que fez isso não mostrou o rosto. Paara eles, pode ser qualquer um.
— Mais um motivo pra ser um absurdo eu estar aqui.
— Se ele se escondeu com o capuz, é porque sabia que seria visto, sabia que tinha câmeras. Certamente, a polícia deve ter ligado isso, ao fato dele ter simplesmente ter entrado com a chave. A tua chave.
— Isso que eu não consigo entender. Se a chave tava comigo esse tempo todo, como alguém conseguiu ela?
— Alguém pode ter clonado ela.
— Isso é o que eu pensei. Mas como? Quem?
As dúvidas pairavam na cabeça, não só de Yuri. Mas também da advogada. Ela, em contrapartida, pelo seu profissionalismo, manteve-se calma e firme. Colocou as mãos juntas sobre a mesa, curvou-se para a frente e olhou para Yuri.
— Enquanto não encontramos o responsável, preciso te alertar sobre sua situação. — Disse ela — E ela não é nada boa. Os autos estão considerando seu histórico criminal. E diante disso, a promotoria pode entender que você tenha possibilidades e motivações para o ato.
— Eu sei disso. Mas eu tenho provas suficientes de que eu não estava lá naquela noite. E que eu não tenho motivos pra destruir o meu próprio trabalho. É tão difícil de entender isso?
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Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)
Roman d'amourDe noite eles mandam, de dia eles sobrevivem. Mais que um strip-club, a Arena Esparta é uma verdadeira arena do prazer. Um paraíso noturno em plena São Paulo. Quando as portas abrem, tudo pode acontecer. Os rapazes, ou melhor, Gladiadores, estimula...