Dois dias depois, o tempo fechou. Literalmente. A cidade amanheceu completamente nublada e permaneceu até o cair do Sol. Nuvens densas, que vez ou outra, soltavam uns chuviscos tímidos. Mas trovões ensurdecedores e relâmpagos brilhantes que ameaçavam as pessoas sobre a tempestade que estava por vir.
E não deu outra, lá pelas quatro da tarde, uma chuva generosa invadiu o centro da cidade. Ruas congestionadas, pessoas fugindo da chuva. Ficou difícil passar por elas, a pé ou com veículo. Porém, não era uma queda d'água forte. Estava suportável.
As noites de chuvas torrenciais eram as piores para o faturamento da Arena Esparta. Pouquíssimos frequentadores, meia-dúzia no máximo. E quando tinha alagamento então, absolutamente ninguém aparecia. O tesão do público para ver os Gladiadores não era maior que a indisposição deles de enfrentar a tempestade.
Já os strippers, não tinham a possibilidade de ficar em casa em dias assim. Com chuva ou com lua, se era dia do local abrir, tinham que estar lá. Senão, teriam que ouvir as reclamações imensas de Ângelo. Mesmo que não viesse ninguém ou nem o próprio Gerente tivesse vontade de ir.
De qualquer forma, não havia muita opção. Os rapazes precisavam estar na casa noturna para conseguir dinheiro. Pouca gorjeta era gorjeta do mesmo jeito. Qualquer Real fazia a diferença.
Na mansão do clã Fontana, o tempo instável foi sentido. Naquele exato dia, Seu Arthur ficou doente. Fraco, febril, sonolento, não saiu da cama. E coube a Caique cuidá-lo, ver sua temperatura de hora em hora, ficar o tempo todo no quarto dele e fazer o que estava ao seu alcance para fazê-lo melhorar. Mas nada adiantava.
O cuidador ficou ajoelhado ao lado da cama, bem próximo ao idoso, que estava desfalecido. Passou a mão na testa dele e depois tirou o termômetro que deixou na axila. Ao verificar a temperatura, teve uma expressão de preocupação.
— Essa febre que não abaixa, viu? — Falou sozinho.
— Será que ele tá com alguma coisa grave? — Perguntou Carolina receosa — Ele não costuma ficar tão abatido assim.
— Eu não sei. — Respondeu se levantando — Suspeito que seja só uma virose gastrointestinal, mas só um médico pode confirmar.
— Pior que com esse temporal, não vai dar nem pra levar ele pro hospital e em pra chamar o doutor.
— Posso ligar pro doutor pra ver o que mais pode ser feito, pelo menos pra segurar as pontas até amanhã. Mas creio que seja uma coisa passageira. Por ora, não há motivo pra alarde.
Com a sua bolsa de trabalho, Caique deixou o quarto ao lado de Carolina. No caminho até à sala de estar, eles continuaram a conversar:
— Por isso que eu defendo que ele precisa se exercitar mais, sair de casa um pouco. Se ficar o dia todo na cama, ele fica fraco, com tontura. Aí não consegue fazer mais nada. — Aconselhou Oliveira.
— Isso é verdade. Uma prima minha passou pelo mesmo. Ela tinha setenta anos e fazia manha pra sair de casa, tinha preguiça que só. Aí depois de um tempo, ela não conseguia em mais andar por dois minutos sem sentir tontura.
— Isso acontece bastante.
Quando chegaram à sala, Dona Bel e Doutor Vinícius estavam sentados no sofá. Ela, com as pernas esticadas, estava entediada. Mas ele, com uma postura mais ereta, demonstrava grande preocupação com o estado de saúde de seu pai.
— Como ele está? — Perguntou Vinícius rapidamente.
— Tá calmo, repousando. — Respondeu Caique, em voz baixa — Continua febril, mas Carolina e eu estamos ajudando ele a se hidratar bastante.
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Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)
RomansaDe noite eles mandam, de dia eles sobrevivem. Mais que um strip-club, a Arena Esparta é uma verdadeira arena do prazer. Um paraíso noturno em plena São Paulo. Quando as portas abrem, tudo pode acontecer. Os rapazes, ou melhor, Gladiadores, estimula...