O Que os Olhos Veem

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Horas depois, foi apenas quando faltava muito pouco para amanhecer, que a Arena pôde enfim encerrar seu funcionamento naquela noite. Não era tão frequente a casa noturna ficar aberta mais tempo que deveria, mas costumava acontecer. Tudo por causa de alguns frequentadores, mais alterados, que enrolavam para sair.

Quando isso ocorria, todos — ou pelo menos a maioria — ficavam no lugar até que ele esvaziasse por completo, para fechar as portas. Nesses casos, alguns dos Gladiadores se apressavam para se vestirem, querendo ir embora logo de uma vez. Já outros, se arrumavam com mais calma, pois não tinham motivos para tanta pressa.

Dentre os rapazes, Mateus sempre era um dos primeiros a sair. Mas naquela madrugada, por não se importar tanto em sair logo, foi um dos últimos. Passou pela porta de ferro, dos fundos sozinho e caminhou até onde havia deixado sua moto. Foi quando que, ao virar a esquina para a direita. Uma cena chamou a sua atenção bem mais que o esperado.

Na outra extremidade do quarteirão, na outra calçada, Ramon estava bem próximo de uma garota. Da posição em que Mateus estava, não deu para ver direito as características dela. Mas deu para ver que ela era morena, não tão mais baixa que Góes e estava de blusa e calça.

Velloso deu alguns passos para trás, tentando se esconder na ponta do quarteirão, tocando na parede, para poder ver melhor. Os dois se abraçaram e conversaram amigavelmente, segurando as duas mãos um do outro. Ela sorria e Ramon, de costas, aparentava estar bem descontraído. O completo oposto da carranca que apresentava na Arena.

Como uma criança bisbilhoteira, Mateus estranhou o jeito de Ramon com aquela moça. Seu colega era completamente avesso a qualquer interação social, aparecia sempre sério e antipático, monossilábico nas palavras que proferia. Já naquele momento, ele estava mais próximo do que Mateus considerava uma pessoa mais... normal.

Para Góes estar daquele jeito, mais contente, significava que ele tinha alguma coisa com aquela mulher. Foi o que Mateus pensou, mas não sabia o que ela era dele. Poderia ser uma amiga, mas do jeito que eles se abraçavam e estavam tão íntimos, não era só isso. Suspeitou então, que eles fossem namorados.

Mesmo que eles não estivessem se beijando ou algo assim, essa hipótese fez muito mais sentido na cabeça de Teus. E explicava o fato de Ramon ser sempre tão fechado. Talvez fosse esse o segredo que tanto guardava, afinal, não existiam strippers heterossexuais na Arena Esparta.

Esse era um diferencial do lugar que Ângelo criou para se diferenciar dos outros strip clubs. Poderia até haver um ou outro Gladiador que gostasse de mulher, como o Yuri que era bissexual, mas nenhum deles gostava apenas de mulher. Mateus cogitou, então, que Ramon não gostava de ficar perto dos outros rapazes por ser hétero.

Após alguns segundos, Ramon foi embora com a moça, abraçando ela pelo ombro. Mateus pode sair de trás da parede e observou os dois sumindo de vista. O escritor ficou pensando no flagra, acreditando estar totalmente certo de que realmente seu colega estava escondendo algo. Não pôde evitar soltar um riso de satisfação.

— Que coisa, hein? — Resmungou sozinho.

Colocou a máscara em seu rosto e seguiu o rumo que deveria ter seguido antes de seu lado bisbilhoteiro falar mais alto: o de pegar sua moto e ir embora.

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Passaram-se três horas, mais ou menos. O que se sabia é que o sol ainda estava nascendo, sobre o típico céu alaranjado da alvorada. Nada disso foi notado no quarto de Caique, que estava com as janelas fechadas. Mas mesmo com tudo escuro, ele custava para pegar no sono.

Virava de um lado e de outro, completamente nu, na cama. Parecia que seu relógio biológico era sacana e fazia isso de propósito. Todo dia em que ele folgava de seu trabalho de enfermeiro, ficava mais difícil para ele dormir. Ao contrário de outros dias, em que ficava com sono justamente nos momentos em que não deveria ficar.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora