Passou-se meia semana, até que chegou um dia que não começou nada bem para Yuri. Nem pra ele e nem pra muitos outros.
No meio da tarde, precisou largar tudo para dar partida em sua moto rumo à Arena Esparta. Aborrecido, pilotava o veículo com Caique na garupa. Seu colega de apartamento também tinha o mesmo destino e estava bem indignado por ter que largar o outro trabalho sem grandes explicações.
Ir à Arena naquele período do dia, por si só, já era estranho. Quando tinha expediente, os strippers só batiam ponto bem no comecinho da noite. Coisa de Ângelo, que intimou todos os funcionários a comparecer na casa noturna. Sem explicar o motivo, apenas ordenou e demonstrou bastante impaciência.
Guará não encontrou grandes dificuldades durante o trajeto. O céu nublado naquela hora não chamava mais atenção do que o movimento nos arredores. Ou melhor, a falta de movimento.
Por todo o percurso, havia ruas quase desertas, calçadas idem. Dificilmente isso acontecia naquela região. Parecia um feriado, ou dia de jogo da seleção na Copa do Mundo. Mas era apenas um dia de semana normal, como qualquer outro. Mais um indício de que coisas ruins estavam por vir.
Após a moto ser estacionada nos fundos do recinto, os dois logo foram caminhando até a porta de ferro, já imaginando que lidariam com o ataque de pelanca do gerente.
— Cara, tô com uma puta raiva do Ângelo. — Comentou Caique com raiva — Tive que largar meu outro trabalho no meio do dia e ainda vou ter desconto no salário por isso. A Dona Bel não me suportava antes, agora mais ainda.
— Isso não é nada perto do que ele faz a gente passar. — Disse Yuri — Quando ele manda a gente vir pra cá assim, nunca é coisa boa.
Enquanto Yuri pegava em sua chave para abrir a porta, Caique notou algo mais a frente, perto da esquina e da entrada da Arena. Um pequeno pedaço da parede escura estava manchada de tinta. E uma tinta de cor bem forte e visível.
— Tenho um palpite sobre o que pode ser...
Caique foi andando próximo à parede, tentando seguir o rastro de tinta. Yuri, que estava prestes a abrir a porta, ficou sem entender o que o amigo estava querendo dizer e o seguiu. E assim, também avistou a mancha de tinta. Ao virarem a esquina e se afastarem da calçada, depararam-se com uma imagem lamentável.
A fachada da Arena Esparta estava completamente pichada. De cima a baixo, de um canto ao outro, tudo manchado com a mesma tinta que encontraram lá atrás. Além de símbolos — alguns incompreensíveis e outros ofensivos — haviam dizeres depreciativos e palavrões. Desde expressões como "viadagem", "antro de AIDS", até ameaças de morte.
Yuri e Caique olhavam para cima e ficaram perplexos e impressionados com aquilo. As pichações podiam ser vistas de longe, justamente para intimidar e constranger. O estrago foi feio. Dava para entender porque eles foram chamados de imediato.
— Puta que pariu... — Expressou Yuri.
— Cara... Ângelo deve estar bem puto.
— Só...
Aquela tarde ia ser bem longa.
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Poucos minutos depois, os outros Gladiadores chegavam à Arena. Todos sem entender nada... e todos com a mesma reação quando viram a pichação na fachada. O host da casa noturna, que também compareceu, tentava não preocupar os rapazes. Mas Júlio nada podia fazer para conter a ira de Ângelo.
Dizer que o Gerente estava uma fera não era exagero. As veias do pescoço dele saltavam de tanto que ele vociferava. Com o host próximo a ele, ficou quase meia-hora dando bronca e reclamando do "atentado violento" — palavras do próprio — contra a casa noturna aos Gladiadores que estavam à sua frente.
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Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)
RomansaDe noite eles mandam, de dia eles sobrevivem. Mais que um strip-club, a Arena Esparta é uma verdadeira arena do prazer. Um paraíso noturno em plena São Paulo. Quando as portas abrem, tudo pode acontecer. Os rapazes, ou melhor, Gladiadores, estimula...