Castigo do Monstro

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Nada melhor para aguentar um trabalho puxado do que algumas horas na mais absoluta quietude. O silêncio fazia parte da vida na mansão dos Fontana, mas a tranquilidade mesmo passava longe. Pelo menos para quem trabalhava naquela enorme casa onde sempre havia o que ser cuidado.

Um dia se passou. Durante uma meia hora, em plena tarde, Caique entrou em seu tradicional descanso de trabalho. Algo que ele tinha direito. Mas isso não queria dizer que ele podia se dar ao luxo de parar tudo. Mesmo no intervalo, havia alguma coisa para fazer.

Naquela tarde, tirou uns dez minutos para higienizar pertences de seu trabalho. Jalecos, toalhas e aventais precisavam ser esterilizados ou simplesmente descartados. Por isso, ficou na lavanderia. Onde colocou uniformes e outras vestes que usava na máquina de lavar, para serem limpas em água quente.

Para sua tranquilidade, tudo corria bem. Seu Arthur tirou o dia para ficar de manha. Sem disposição, não quis sair do quarto. Preferiu ficar quietinho, descansando. Oportunidade perfeita para Caique ter um respiro e cuidar de algumas coisas.

E justamente quando ele achava que não aconteceria nada demais, eis que sua patroa entra na lavanderia.

— Carolina, você...

Dona Bel interrompeu sua fala ao ver que Caique estava no cômodo. O que a surpreendeu, pois esperava ver sua empregada doméstica lavando roupa.

— Onde está a Carolina? — Ela perguntou.

— Não sei. Ela não está na cozinha?

— Se estivesse eu não estaria perguntando. — Respondeu grossa.

— Eu não sei onde ela poderia estar. Vim direto pra cá e não vi ela.

— Ela sempre tem que sumir quando eu mais preciso dela. — Reclamou impaciente — Ela tem ficado muito displicente ultimamente.

Caique precisou engolir seco a queixa da patroa sobre Carolina. A pobre mulher trabalhava demais pra idade dela e ainda precisa lidar com a insatisfação da madame. E Bel, frustrada, olhou para o pequeno saco que tinha em mãos. Uma espécie de bolsinha, com tecido de rede, meio transparente.

— Bom, não importa. Já que você está aí, coloque isso na máquina pra mim.

Sem nenhum pudor, Bel entregou o saco para Caique que, no reflexo, acabou pegando o objeto. Surpreso, o cuidador olhou para aquilo e pôde ver que, dentro dela, havia um punhado de roupas íntimas prontas para serem lavadas. O que deixou-o completamente complexo.

— Como é que é? — Perguntou Dona Bel.

— E vê se põe em água fria e não centrifuga, põe direto na secadora.

A mulher simplesmente dava ordens à Oliveira com toda a indiferença. Tinha a plena certeza de que ele estava ali para fazer o que lhe era ordenado, e que ele iria mesmo colocar aquilo na máquina. A situação fez Caique ficar estático, de tão estarrecido pelo descaramento da dondoca.

— Mas, Dona Bel...

— É só isso. Quando encontrar a Carolina, avise que eu preciso dela.

Com sua permanente postura soberba, Dona Bel simplesmente virou as costas e foi embora. Deixando Caique com a bolsa de peças íntimas dela, esperando que ele fosse lavá-las. Como se esse fosse o seu trabalho.

Estarrecido. Só isso podia descrever o sentimento que Caique sentia. Não tinha palavras para descrever tamanho constrangimento cinismo vindo daquela mulher. Sabia bem o quanto a patroa era folgada e cometia vários excessos. Mas daí a querer que ele lave suas calcinhas, esquecendo-se que ele era cuidador de seu sogro e não arrumadeiro, era demais.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora