DOIS ANOS ATRÁS
Vale do Bekaa, Líbano
A paisagem não era a mais bonita de todas. Tampouco o lugar era dos mais confortáveis. Mas conseguir se abrigar e dormir lá, em tempos tão difíceis, era uma enorme benção. E assim, viviam centenas de refugiados naquele gigantesco acampamento. Tentando, de alguma forma, reconstruir a vida .
Por qualquer lado que se via, naquele campo de terra seca, havia muitas tendas. Improvisadas com panos, trapos e o que tivessem. Acomodações desconfortáveis durante o sol a pino, mas o suficiente para as noites frias. Ao redor, muitas pessoas. Homens, mulheres, jovens e especialmente crianças.
A quantidade de sírios era muito grande e variada. Mulheres com burca, ou véu, ou sem. Homens de kadoora ou com roupas mais ocidentais. Crianças agasalhadas. Quase todos usavam roupas de segunda mão, obtidas por doação. Pois até as próprias vestimentas se perderam durante a fuga para o Líbano.
Para manter tanta gente, era necessário organização. Todos se ajudavam, ninguém se importava em pegar o batente. Não era fácil seguir com a normalidade, ao lembrar que o lar foi tomado por bombas, explosões, tiros e mortos. Mas tentavam.
Em uma tarde normal naquele acampamento, um casal estava perto da tenda onde dormiam conversando com um homem. Os dois tinham quase cinquenta anos de idade. A mulher, corpulenta, usava um coque preso em seus cabelos pretos. Já o homem, de mãos grossas e calejadas, tinha a cabeça raspada e feições calejadas.
Na verdade, não era bem uma conversa, e sim uma compra. Por mais que estivessem a salvo dos bombardeios, ainda estavam bem preocupados. Ficar ali deveria ser apenas temporário, uma solução paliativa. Eles sentiam que precisavam fazer algo a respeito.
— Mahmoud! — Gritou a mãe.
Ele, que estava fazendo alguns trabalhos no campo, logo ouviu o chamado de sua mãe e foi rapidamente até ela. Ele usava roupas velhas e compridas e seus sapatos já estavam gastos e sujos com tanta terra. Seu cabelo estava crescido, assim como sua barba. Mesmo assim, não perdeu a energia jovial que emanava desde que nasceu.
— O que foi? — Perguntou Mahmoud, em árabe, ao se aproximar dos pais.
O semblante de seus pais era de preocupação. Então, Mahmoud também ficou preocupado. Afinal, não conhecia o outro homem que estava junto a eles. E que poderia estar lá para fazer qualquer coisa, boa ou ruim.
— Precisamos dizer uma coisa importante, filho. — Ela respondeu.
Os pais se entreolharam, enrolando para anunciar. Temendo a reação do filho.
— Por mais que sejamos bem recebidos aqui. Esse não é um lugar bom pra ficar. — Disse o pai — Por isso, eu e sua mãe pensamos muito e compramos uma passagem para outro país.
Mahmoud ficou surpreso. Ele sabia que não podia voltar à Síria, talvez nunca mais. Mas não esperava que seus pais pudessem pensar em deixar o Líbano para qualquer outro lugar.
— Mas... como assim? Passagem com que dinheiro? — Questionou o jovem.
— Com o pouco que nós tínhamos. Mas foi o suficiente para pagar. — O pai respondeu.
— Vocês não podiam ter feio isso, era tudo o que tínhamos. Pra nos manter aqui.
— Não dá pra nos manter aqui. Por isso achamos melhor usá-lo em algo necessário. — Justificou a mãe.
— Mas é pra que país. Pra Turquia?
O vendedor da passagem, que até então estava calado, respondeu grossa e firamente:
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Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)
RomanceDe noite eles mandam, de dia eles sobrevivem. Mais que um strip-club, a Arena Esparta é uma verdadeira arena do prazer. Um paraíso noturno em plena São Paulo. Quando as portas abrem, tudo pode acontecer. Os rapazes, ou melhor, Gladiadores, estimula...