Conhecidos e Coincidências

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O que poderia ser dito em um momento como aquele? Os dois homens ficaram se encarando por alguns segundos, frente a frente, sem que nenhum deles soubesse o que falar. Um climão, naquela rua suja, daquele bairro abandonado, sem ninguém para presenciar.

À luz do dia, Yuri pôde reparar melhor em Tito e constatar que era realmente ele. A aparência dele estava mal cuidada, a barba desgrenhada, os lábios secos, mas era o mesmo garoto do passado, o mesmo olhar. Um jovem de vinte e quatro anos com cara de bravo e jeito intimidador para assustar os outros.

— O que faz aqui? — Perguntou Tito sério.

— Acho que você é quem tem que responder o que faz aqui.

— Não é da sua conta. Eu nem te conheço.

— Por favor, toma vergonha. Vem com essa agora?

Yuri deu um passo para frente e continuou:

— Eu sei bem quem você é. Só não sei o que se tornou. Por isso que eu vim aqui.

— Não tenho nada pra falar com você. Cai fora. — Intimidou tentando afastar Yuri.

— Não sem antes saber o que aconteceu com você.

Os dois ficaram em silêncio por alguns segundos. Tito estava constrangido mas insistia em manter a pose. Yuri continuou:

— Eu lembro bem quando te conheci dois anos atrás, quando cê chegou na cidade. Cê não era assim desse jeito.

— As pessoas mudam. — Respondeu ríspido, virando a cara.

— Mas do jeito que cê mudou, deve ter acontecido alguma coisa. Cê era um garoto tão gente boa, tão simpático, tão fofo… Como você se transformou nisso?

— O que eu faço da minha vida não te interessa. Aliás, cê nem tinha que tá aqui.

— Eu sei disso. mas precisava entender como é que o garoto que eu ajudei até pouco tempo atrás agora anda com esses vagabundos e sai agredindo todo mundo.

Tito já estava ficando cada vez mais irritado. Arrependendo-se totalmente de ter reencontrado com o stripper na briga daquela noite.

— Ajudou? Ajudou no que? Em me deixar sozinho quando eu mais precisei?

— Agora admite que a gente se conhece.

— Mas você admite que me abandonou depois que prometeu que eu poderia contar com você? — Questionou cruzando os braços.

Yuri não falou nada, ficou sem jeito. Ficou nítido em seu rosto que um dos motivos para se arriscar em falar com Tito era por se sentir culpado.

— Olha, eu sei que eu pisei na bola. Mas é que… eu não consigo entender o que aconteceu com você, pra ter chegado a esse estado.

— Que se foda. — Respondeu direto — Agora, é melhor dar o fora daqui porque se o pessoal saber que você tá aqui, eles te arrebentam.

— Eu não tenho medo daqueles muleques.

— Mas devia. Principalmente de mim. — Ameaçou dando um passo para frente.

— Vai fazer o que? — Provocou — Cara feia pra mim é fome.

Passado o nervosismo, Tito fez o que sabia fazer de melhor: intimidar. Com seu jeito grosseiro, aproximou-se de Yuri, que estava bem sério olhando nos olhos dele, e ameaçou em voz baixa.

— Não sabe do que sou capaz.

O vândalo passou por Yuri, batendo fortemente seu ombro no dele como uma forma de provocá-lo, indo embora sem olhar para trás. O Gladiador ficou parado, sério, mas impressionado com tudo que viu e ouviu. Aquele sujeito não lembrava em nada o garoto que conheceu no passado, uma mudança chocante. E acabou se sentindo responsável por isso ter acontecido.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora