Carne Fraca

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Em um dia nublado como aquele, era preciso seguir em frente. Mas Yuri sentia vontade de ficar sem fazer nada. A noite anterior foi cheia, mesmo com a Arena Esparta fechada. E naquela noite havia mais.

Por essa razão, para não ficar mais desanimado do que já estava, saiu de seu apartamento para o lugar onde conseguiria endorfina com mais facilidade. Na academia onde frequentava regularmente, ele fez exercícios em alguns aparelhos, vestindo uma regata preta, uma bermuda do Corinthians e tênis.

Musculação não era o seu esporte favorito, todas aquelas repetições eram chatas. Mas por ser stripper, tinha que cuidar do corpo. Os frequentadores da Arena queriam músculos definidos, e gostando ou não, os Gladiadores precisavam oferecê-los.

Em certo momento, já suado, começou a fazer agachamentos no hack para fortalecer as coxas. Estava tão concentrado que, ao terminar uma das repetições, deu-se conta de que seu celular estava tocando. Quando pegou no aparelho, viu a chamada de um número desconhecido. Mesmo achando que pudesse ser telemarketing, atendeu.

Após o "alô", a pessoa do outro lado da linha foi direta. Perguntou se conhecia alguém chamado Tito e Guará, de má vontade, respondeu que sim. Justamente, o último nome que queria ouvir falar. Logo pensou que o arruaceiro estava querendo lhe importunar. Mas logo foi informado de que era alguém de um hospital.

Yuri ficou surpreso quando disseram a ele que o rapaz havia sido encontrado tendo uma overdose de cocaína na rua e que, ao ser resgatado, encontrou um único meio de contato com alguém conhecido: o pedaço de papel com o número do Gladiador.

Ao final da ligação, foi informado que Tito passava bem, mas ainda estava hospitalizado. E que poderia receber visitas, caso Yuri quisesse. O homem, com um tom de voz frio e indiferente, apenas falou que pensaria no assunto. Em seguida, a ligação foi encerrada e o rapaz perdeu qualquer disposição para retornar aos exercícios.

Foi um choque receber essa notícia. Até então, depois de tudo que Tito fez, o marginal tinha morrido para Yuri. Mas depois de saber que o rapaz literalmente quase morreu, ele ficou sem saber como reagir. E sem saber o que fazer, pois o fato de Santana ter Guará como o único contato o fez ficar pensativo.

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Meia hora depois, Yuri retornou ao apartamento. Ainda com suas roupas da academia, encontrou Caique na sala, que estava vestido e em pé perto da porta da cozinha, enquanto Mahmoud estava tomando banho. Ele logo desabafou com o melhor amigo sobre o telefonema informando o estado de Tito.

Oliveira, assim como Yuri, ficou surpreso com o que aconteceu. Acreditava que o marginal iria sumir de vista depois do mal que causou.

- Dá pra acreditar numa coisa dessas? - Perguntou Yuri, ao final do desabafo.

O Gladiador de olhos verdes estava sentado no braço do sofá. Caique estava perto dele, de braços cruzados, escutando tudo. Estava com o semblante apático, ainda abalado pelo que aconteceu com ele pela madrugada. Mas tentou se conter pois, até o momento, ainda não contou a ninguém naquele apartamento sobre isso.

- Inacreditável. - Disse Caique - Depois de tudo... É muita cara de pau.

- Até pensei que fosse uma brincadeira de mal gosto, mas acho que desta vez não. Ele teria que ser muito psicopata pra armar um teatro desse nível só pra querer aprontar. E além do mais, ele não teria capacidade pra esse tipo de armação. Nem ele e nem os Lança-Chamas.

- Mas ele pode estar querendo chamar atenção. Te atrair de alguma maneira pros marginais darem o bote. Algum tipo de vingança contra o Tito der sido preso.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora