Negócio Fechado

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DOIS ANOS ATRÁS

Ficar esperando naquela sala de espera do hospital era agonizante demais. Mais ainda com o vai-e-vem de médicos e pacientes, sem ninguém para dar alguma resposta. Escondendo o rosto de cabeça baixo e sentado. Benedito tentava segurar o choro. Achava que, talvez não chorando, não surtaria. Nas últimas horas, esteve entre o céu e o inferno.

Fazia algum tempo que Helena, sua esposa, estava em um estado grave de saúde após um complicado trabalho de parto e o difícil nascimento do bebê. Estava nervoso pois, meses depois dela engravidar, os dois foram surpreendidos com a notícia de que a gestação era de risco e poderia trazer consequências tanto para ela quanto para o feto.

O sonho de formar uma família havia se tornado um pesadelo. Sem saber o que o futuro reservava.

Feitosa levantou a cabeça quando viu o pai de Helena se aproximar. Era um senhor negro, calvo, já com seus sessenta anos e óculos no rosto. Sua expressão era bem séria, olhava para o genro com raiva e desprezo.

— Como ela está? — Perguntou Benedito.

— Teve que ser sedada, perdeu muito sangue no parto.

— Posso ver ela?

— Tá surdo? Eu disse que ela está inconsciente. Ela não pode ver ninguém.

— Espero que ela se recupere logo.

— Eu também queria. — Concordou frígido.

— Daria tudo pra ver ela e o Alexandre bem. Todos nós juntos.

— Como é cara de pau...

— O que disse?

— Sim, você é muito cara de pau. Sabe muito bem que a Helena tá lá agonizando por sua culpa. O sangue dela tá nas tuas mãos.

— Nunca desejaria que isso acontecesse com a mulher da minha vida.

— Como se aquele feto que tava dentro da barriga dela tivesse surgido do nada, né? Se não tivesse engravidado, ela estaria muito bem.

— Mas não dava pra imaginar que as coisas pudessem acontecer desse jeito?O senhor sabia que ter um filho era um sonho dela. O nosso sonho.

— Era o sonho dela se casar também. E depois que se casaram, só aconteceu desgraça.

O sogro de Benedito nunca apoiou o matrimônio dos dois. Além de acharem os dois jovens demais para isso, aquele senhor não via futuro em sua filha se juntando com aquele rapaz que não passava de alguém que cuidava da humilde loja de ferramentas do pai.

— Acho bom você rezar. Rezar muito. Pois se minha filha tiver alguma sequela, ou se ela morrer, eu espero que você e aquele bebê cruzem o meu caminho. Porque eu nunca vou te perdoar.

— Não precisa falar assim. Ela vai ficar bem. Ela e o bebê.

— O bebê eu não sei. Não me interessa.

— Como assim. Ele é seu neto.

— Um neto que deixa minha filha nesse estado não pode ser meu neto. Não quero saber dele, não é problema meu. Passar bem.

Sem olhar para ninguém, o senhor foi embora de cara amarrada. Enquanto isso, Feitosa voltava a segurar o choro. Pior que carregar a culpa pelo estado da esposa, era carregar o ódio à si mesmo por ter deixado tudo aquilo acontecer e não poder ter feito nada para evitar. Não conseguia raciocinar sem pensar no pior e se desabar em desgosto.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora