Alvo Definido

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A mansão dos Fontana despertava por volta das seis da manhã. Horário em que a empregada colocava o café na mesa e os patrões acordavam. A rotina seguida pelos donos da casa, por consequência, tinha que ser seguida pelos seus funcionários.

Mais ou menos nesse horário, na suíte principal, Vinícius ficou em frente ao espelho abotoando seu terno. Antes de se alimentar, foi se vestir. E logo sairia, rumo ao seu trabalho. Sua esposa também estava acordada, sentada em frente a penteadeira, passando um batom nude na boca.

— Meu pai ainda está dormindo? — Perguntou Vinícius após se arrumar.

— Deve estar. — Respondeu Dona Bel sem muita simpatia.

— Fico tranquilo em saber que ele está dormindo bem.

— É claro. Fica sem fazer nada o dia inteiro, só resta dormir.

— Na idade que ele tá, é normal ele ficar mais cansado. Sabe disso.

— Sei. E sei também que essa casa não tem muita coisa pra ele fazer. Não é o melhor lugar pra ele.

— Como assim? — Questionou enquanto se virava para ela — Ele adora essa casa.

— Pode adorar, mas o que ele precisa mesmo é um lugar mais apropriado pra viver.

— De novo esse assunto, Bel? Já falei que não vou jogar meu pai em um asilo. — Declarou após se virar para sua esposa.

— Asilo é uma palavra muito forte. Eu só acho que seria muito melhor pra ele se estivesse em um Lar de Idosos. Não sei porque não entende.

— Você é que não entende. Eu não vou largar meu pai em um lugar desses, longe da família.

— Falando desse jeito, parece que eu quero que abandone meu sogro numa espelunca qualquer. Não é bem assim. Existem por aí Lares que são muito bons, que dão assistência, que são adaptados. E nós podemos visitá-lo sempre.

— Ele não precisa disso. Podemos dar tudo à ele aqui.

— Nem tudo. Por mais que nós nos adaptamos, essa casa nunca vai ser apropriada pra um senhor de idade. Vai ser muito melhor pra ele viver em um lugar adaptado pras necessidades dele. Onde ele possa ser cuidado por enfermeiros, ter amigos. Quer que ele continue trancado em casa sozinho?

— Ele não está sozinho e nem trancado em casa? Esqueceu que ele tem um enfermeiro que cuida dele?

— Como esquecer? Aquele garoto vive pra lá e pra cá com seu pai. Dá até nos nervos.

— Não sei porquê. Meu pai gosta muito dele. E o Caique é um excelente profissional.

— Quero ver você falar isso quando começar a sumir coisas daqui de casa.

— Para com isso. Faz um bom tempo que ele tá trabalhando aqui e nunca aconteceu esse tipo de coisa. Essa sua implicância não faz o menor sentido.

— O que não faz sentido é sua insistência em manter esse menino dentro do nosso lar.

— Não é insistência. Eu não vejo nenhum problema. E ao contrário de você, eu acho até bom a presença dele. Essa casa tá precisando de gente, de juventude, de vida.

— Gente do nosso convívio é bom, o que não é o caso dele. Se precisa tanto de gente jovem, pede pra nossas filhas voltarem do exterior.

— A Isabelle e a Eduarda estão estudando e só vão voltar do Canadá daqui há três anos.

— Não precisa me dizer o que eu já sei. E quanto a esse Caique, se dependesse de mim, ele já tinha sido dispensado.

— Se isso acontecer, você vai cuidar do meu pai?

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora