Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)

Coligação

No dia seguinte, certos compromissos precisavam de uma pontualidade exata. Ao meio-dia em ponto, um restaurante fino do Morumbi já estava com algumas de suas mesas ocupadas. Aquele horário costumava ser mais reservado aos almoços de negócios, ou reuniões semelhantes.

Quando se tratava de questões convenientes, Ângelo respeitava, muito bem, horários e compromissos. Mantendo uma postura elegante, comportou-se com cordialidade no almoço formal em que foi convidado pelos dirigentes do partido político em que era filiado.

Os dois senhores que estavam à mesa com ele eram maduros e vestiam terno e gravata. Um deles era até calvo. Chamaram o Gerente da Arena Esparta para discutir sobre o futuro político dele. A dupla de caciques partidários via com bons olhos o entusiasmo de Perez e almejavam grandes possibilidades para sua desejada candidatura.

— Fico muito lisonjeado com a confiança que vocês depositam em mim. Estou disposto a dar o meu melhor para atender aos interesses do partido. — Ângelo sorriu.

— Nós é que ficamos felizes com o seu interesse em contribuir para a nossa sigla. Sabemos muito bem do seu potencial e do quanto pode ir longe, se fizer um bom trabalho. — Disse um dos dirigentes, sorridente.

— Posso garantir que farei um bom trabalho. Não irei decepcioná-los.

— Sabemos disso. — Disse o outro dirigente — No entanto, andamos pensando em outros planos para você.

Perez ficou surpreso com o que escutou. Ficou confuso, mas manteve a elegância. Por um momento, pensou que os dirigentes queriam dizer que desistiriam da candidatura dele.

— Em que sentido? Eu não entendi. — Disse Perez.

— Sabemos o quanto tem afirmado que pretende concorrer à câmara dos vereadores daqui há três anos. Mas, juntamente com o diretório nacional, acreditamos que seu lançamento político pode vir com voos maiores. Ano que vem, temos eleições gerais e seria de nosso agrado que se candidatasse a deputado federal. — Respondeu um dos dirigentes.

Por pouco, o Gerente da Arena Esparta não engasgou com a comida. Ele bebericou um pouco de água e passou suavemente o guardanapo em seus lábios. Não era uma proposta que estava esperando. Ângelo desejava se tornar deputado um dia, mas acreditava ser cedo demais para ele. E também trabalho demais para lidar.

— Deputado? Eu? Mas isso é muito para mim, ainda. Gostaria de começar aos poucos.

— Entendemos sua posição, e admiramos. Mas a sua reputação e a sua influência no seu seguimento te rende grandes chances de conseguir uma cadeira em Brasília. — Disse um dos políticos.

— O partido está muito atento às demandas da atualidade. Nós não temos eleitorado LGBT mas descobrimos que existe uma grande parte dessa população que, mesmo sendo LGBT, não aprova determinados comportamentos ofensivos vindos dos ativistas. E são esses eleitores que queremos conquistar. — Complementou o outro político.

— Eu confesso que faço parte desse grupo. — Gabou-se, mais confiante — Não gosto dessa militância e lacração. Essa sopa de letrinhas que eles inventam só causa segregação e o preconceito.

— Por isso queremos que você represente esse eleitorado. Queremos mostrar que podemos apresentar diversidade, mas sem esse ativismo radical que afasta a população mais conservadora. E com o seu perfil de homem bem sucedido, de exemplo profissional, muitas pessoas vão se identificar e votar em você.

— E você já tem contato com nomes influentes na sua área de atuação. Transita por outros segmentos, conhece empresários. E precisamos de nomes fortes para superarmos a cláusula de barreira ano que vem. Usando a sua força e nós usando a nossa, você terá um futuro brilhante na política.