Escutando seu Coração

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Ao passar pela entrada da Arena Esparta, perto da chapelaria, todos se deparam com um letreiro em LED vermelho colado na parede, com a seguinte frase: "Abandone todo o pudor, aquele que aqui entrar".

Essa frase tinha sentido e resumia tudo o que acontecia na casa noturna. Os frequentadores, ao entrarem, deixavam do lado de fora parte da compostura, as aparências e todo tipo de vergonha que poderiam ter. Livres para explorar as fantasias mais tórridas, realizar os desejos mais íntimos e alcançar a satisfação plena.

Foi em busca de satisfação que Vinicius adentrou ao strip club. Mesmo que as entradas para o local fossem disputadas, ele não teve dificuldades para conseguir uma. Bastou apenas telefonar para Ângelo, e pronto. Difícil foi esperar até a chegada da noite reservada.

Estava vestido de uma maneira menos formal que a costumeira. As mangas de sua camisa branca estavam arregaçadas nos cotovelos, e um botão do colarinho estava aberto. Veio sem paletó e sem gravata. A calça era preta, assim como a máscara que cobria seu rosto. Um visual discreto, justamente para não chamar a atenção e evitar ser flagrado.

A última vez que visitou a Arena foi anos atrás, a correria do trabalho impediu-o de ir mais vezes. E sem poder se aliviar, foi ficando estressado com o tempo. Mas naquela noite, não tinha mais desculpa. Ele estava disposto a tirar o atraso, sentia que precisava disso.

Conforme foi se aproximando do salão, fez questão de tirar a aliança do anelar de sua mão esquerda e colocar no bolso da calça. Jurou para si mesmo que aquela hora seria só dele. Depois, deu alguns passos em direção a um canto do salão mais próximo à cabine de som, onde Mahmoud estava de costas para ele, observando o movimento.

— Incrível como tudo aqui continua com a mesma beleza de sempre. — Resmungou Vinicius.

— Aqui é muito bonito mesmo. — Respondeu Mahmoud na ingenuidade.

Os dois estavam um ao lado do outro, sequer se conheciam. Mas por ironia do destino, encontraram-se na Arena por breves segundos. O advogado nem sabia que Melik estava ali para se tornar um stripper. E o sírio nem sabia de quem Vinícius era patrão.

— Parece que é a sua primeira vez aqui, certo?

— É sim. E a sua?

— Eu já vim aqui, mas faz muito tempo. Sempre quando eu venho, parece que é a primeira vez. — Comentou enquanto cruzava os braços.

— Imagino...

— Aproveita, viu rapaz? — Aconselhou ao olhar para o sírio por alguns segundos — Porque esse lugar é biscoito fino. Não importa o quanto tempo a gente fica aqui, nunca vai ser o suficiente.

Vinicius descruzou o braço e voltou a caminhar, afastando-se do garoto e direcionando-se mais para o centro do salão. Indo de encontro com Ângelo, que sorriu de braços abertos ao vê-lo, aproximando-se imediatamente dele para dar um abraço.

— Quanto tempo, meu amigo. — Saudou o Gerente.

Perez não hesitou em abraçar Vinicius, que também não hesitou em cumprimentar o conhecido de longa data. O Gerente, como o esperado, estava sem máscara, o único no lugar que não usava. Detestava o adereço e fazia o possível para não usá-lo. Aparentemente, o advogado não se importou com isso e continuou perto dele.

— Muito tempo mesmo. Já faz tempo que eu tava querendo vir aqui, pra matar a saudades. Mas ando cada vez mais ocupado.

— O que importa é que você está aqui. E pela nossa amizade, faço questão de te acompanhar hoje e te mostrar o melhor da Arena.

— Tudo bem.

Ângelo levou Vinícius para uma mesa vazia, perto do palco. Reservada especialmente para a vinda do advogado. Os dois logo se sentaram, admirando os strippers que estavam por perto.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora