Nervos à Flor da Pele

36 3 0
                                    

Aquela tarde parecia não ter fim. Mas também pudera, após tão fortes emoções, não seria diferente. Quando Yuri recebeu a mensagem de Caique pedindo para buscá-lo, bem mais cedo do que o fim de expediente costumeiro, logo de imediato percebeu que alguma coisa muito ruim aconteceu com seu amigo.

Após toda a situação ridícula que Dona Bel fez Caique passar, Vinicius resolveu amenizar a situação dando o resto do dia de folga para o enfermeiro. Este, possesso, saiu da mansão o quanto antes.

Ao chegar, Oliveira passou pela porta feito um foguete e se jogou no sofá. Virou os dreads para trás e levantou a cabeça respirando fundo. Enquanto isso, Yuri fechou a porta, guardando suas chaves e capacetes, já se preparando para tirar a roupa. O Gladiador teve que lidar com a revolta do enfermeiro. Foi assim durante todo o trajeto de volta para casa.

— Dá próxima vez que subir na minha moto estando pistola, toma cuidado pra não queimar a perna no escapamento que nem hoje. — Aconselhou o amigo, do jeito típico dele.

— Queimar a perna não é nada perto do ódio que eu tô sentindo nesse momento. — Reclamou após tirar a máscara.

Sabendo do que aconteceu com Caique, Guará evitou se intrometer demais na história para não deixá-lo ainda mais irritado. Não tinha muito o que dizer para ele, além de todas as vezes que ele tentou alertá-lo antes.

— O tanto que eu te avisei, cara... — Comentou Yuri enquanto tirava a camisa — Esse trabalho só empatando tua vida. Precisa o que mais pra você se ligar?

— Não sei o que me dá mais ódio. Se a Dona Bel me acusar de roubar o negócio dela ou me tratar como se eu fosse burro. Mas devo ser mesmo, porque sabia que ela não gosta da minha presença na casa dela. Deveria imaginar que ela poderia achar que eu sou um criminoso.

Caique tirou sua camisa com raiva, jogando-a ao lado, no sofá. Yuri já tinha tirado a sua e já estava tirando os sapatos, para poder tirar a calça. Ele deixou o colega de apartamento reclamar como bem entendesse, pois sabia que, em um momento como aquele, o melhor era botar tudo para fora.

— A sensação que eu tenho é que não importa o que eu faça, o quanto eu seja bom, sempre vou ser tratado assim. — Resmungou — Tem vezes que dá vontade de desistir de tudo.

— Sai desse emprego de uma vez, Caique. Não dificulta mais as coisas. Cê continuar naquele lugar, sendo tratado daquele jeito, não tá te fazendo nem um pouco bem. Quando que cê vai se dar conta?

— Eu dificulto, tá bom... — Ironizou — Tudo pra você é muito mais fácil, né? Não tem que passar por essas coisas, não tem que ser revistado por policial só por atravessar a rua, não tem que andar em um shopping tendo um segurança te seguindo...

Com o desabafo, Yuri compreendeu e respeitou. A raiva de Caique, só o próprio entendia. E não cabia ao amigo dizer o que deveria ou não ser feito. Então, após tirar a calça e ficar de cueca, foi a cozinha encheu um copo d'água, entregando ao amigo que estava no sofá tirando seu cinto.

— Toma.

— Valeu, Yuri.

Oliveira entornou o copo rapidamente, tamanha sua raiva. Mas ao menos, a água fez com que ele se acalmasse levemente. Após beber tudo, sua testa não estava mais franzida, respirava com mais calma. Pôde raciocinar melhor e resolveu desabafar sobre algo que passou por sua mente minutos atrás.

— Eu realmente pensei sim em pedir as contas. Pensei mesmo. Mas aí, eu me lembrei de uma coisa que me fez mudar de ideia.

Menos nervoso e mais sóbrio, Oliveira se abriu sobre algo que aconteceu em sua vida. E que foi impactante.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora