Guerra Interna

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Quando o relógio marcou sete da manhã, já não havia mais tempestade. Mas os estragos causados por ela ainda estavam lá. O céu permaneceu muito nublado, nem parecia que estava de dia. A qualquer momento, mais uma chuva torrencial poderia acontecer.

Só não estava mais nebuloso que o clima na mansão dos Fontana. O casarão já era silencioso em dias normais, mas naquele estava tão quieto que assustava. Na cozinha, onde o movimento estava maior, não se escutava uma só palavra. Apenas tímidas batidas de xícaras e a água da torneira caindo.

Sozinho na mesa integrada à ilha, Vinicius bebericava seu café com a postura recolhida e a cabeça baixa. Carolina, que também estava na cozinha, estranhou. Mas não ousou questionar, apenas seguiu com seu trabalho. Assim como fingiu não ter notado outras coisas que estavam literalmente na cara dele.

Foi desse jeito que Bel encontrou a cozinha ao chegar nela. Estava muitíssimo bem arrumada e pronta para seus afazeres do dia. Mas, ao se deparar com o marido, notou algo incomum.

- Nossa. Você aqui a essa hora. - Comentou Bel - Já não deveria ter saído?

O estranhamento dela fazia sentido. Geralmente, quando Bel acordava, o advogado ja havia saído para trabalhar.

- Me atrasei um pouco. - Respondeu em voz baixa, quase inaudível.

Ele sequer olhou para a esposa. Voltou as atenções para seu prato com um ovo frito e um pequeno pão. Mas Bel, ainda intrigada, aproximou-se do marido e ficou surpresa ao ver sua péssima aparência. O doutor estava com um machucado visível no lábio inferior e pequenas escoriações no queixo e maçã do rosto.

- Mas o que é isso? - Questionou ao tocar o rosto do marido para ver melhor - O que aconteceu com você, Vinicius? Está todo machucado.

Vinicius não queria que ela o visse assim. Mas isso era uma coisa que não dava para esconder dela. Sua expressão de vergonha era muito pior que os machucados em sua pele. Transparecia a humilhação por ser tão patético.

- Eu... Eu caí da escada no escuro. - Disfarçou.

- Deve ter sido um tombo muito feio pra te deixar assim.

O homem simplesmente não falou nada, abaixou a cabeça. A esposa se sentou delicadamente na mesa, pegou um pratinho, onde colocou uma torrada com uma fatia de queijo branco por cima. Mas antes de levá-la à boca, sentiu o alimento esfarelar em seus dedos. O que a deixou aborrecida.

- Essa torrada já tá amanhecida. Carolina, eu não te falei pra você sempre comprar torradas frescas de vez em quando. Essa aqui já está esfarelando. - Bel se queixou.

Carolina, que se aproximava com um jarro de suco em mãos, rapidamente se justificou.

- Desculpa, Dona Bel. Mas com essa tempestade, e ainda com o estado do Seu Arthur. Não deu pra eu sair e comprar.

- Tá bom... - Resmungou a patroa - E como está meu sogro.

- Muito bem. - Sorriu - Hoje mesmo ele já acordou com energia. Sem febre.

- Que bom. E Caique está cuidando dele?

- Não senhora. Ele foi embora lá pra umas cinco. Saiu bem apressado, sem muitas explicações. Acho que hoje ele não volta mais.

- É impressionante. - Bufou Bel - Tem empregado que corre do trabalho como o diabo foge da cruz. Por isso que o país tá desse jeito. E o seu Arthur vai ficar sozinho?

- Esquece isso, Anabel. Não precisamos nos preocupar mais com isso. Deixa quieto. - Vinicius quebrou seu silêncio.

- Não estou entendendo, Vinicius. Foi você que insistiu tanto pra esse menino ficar aqui.

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora