Olhos Abertos

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Demorou, muito, para que o período de quarentena chegasse ao fim. O período mais rigoroso chegou ao fim e alguns lugares puderam reabrir para o público. No entanto, a Arena Esparta ficou fechada por um tempo a mais. De modo que, durante cerca de três semanas, os Gladiadores tiveram que ficar em suas casas.

Faltando pouquíssimos dias para o retorno aos trabalhos noturnos, os rapazes reajustaram suas respectivas rotinas aos poucos. Teve quem sentisse falta do trabalho. Não por saudade, mas pela necessidade do dinheiro.

Em uma tarde de domingo, Yuri ficou no sofá jogando videogame com Caique, em um dos poucos momentos onde os dois amigos conseguiam fazer algo juntos. E como de costume, por conta das regras do apartamento, estavam na sala sem nenhuma roupa. O mais velho manuseava o joystick com mais habilidade, vencendo o mais novo no game de futebol.

— Porra, Caique. Nem aliviando pra você, cê nem marca um gol? — Provocou Yuri.

— Aliviando? Cê tá me massacrando, isso sim.

— Que exagero. É só o meu jeitinho. Eu posso pegar leve, mas eu sou ariano, não consigo perder.

Guará até levantava a perna enquanto mexia concentrado no controle, e em questão de alguns segundos, fez mais um gol, encerrando a partida. O mais velho urrou em comemoração e o mais novo deixou o joystick no sofá em sinal de desistência.

— Nem sei porque eu ainda insisto em jogar com você. Nunca ganho.

— Tudo bem que eu sou foda nisso, mas cê nem se esforça direito. Fica moscando.

— Não é falta de esforço, é falta de aptidão pra esse jogo. Você tem mais tempo livre que eu, pode ficar praticando. E eu também não tô acostumado com esse negócio de jogar sem roupa.

— Ih, nada a ver isso. A gente trabalha sem roupa, esqueceu?

— Só que no trabalho, ninguém precisa se preocupar com videogame.

— Mesmo assim, esse seu migué aí não cola. O Mika e o Thiago, por exemplo, são amigos e jogam videogame pelados numa boa.

— Aqueles que moram juntos na Lapa?

— Esses mesmo. — Respondeu engolindo o plural — Pelo menos eles morando juntos, tão tendo uma quarentena mais divertida. Porque um tem o outro pra se aliviar.

— Mas eles não pegaram COVID ano passado?

— Pegaram, mas se recuperaram rápido. São muito amigos, então se ajudaram.

— Ainda bem.

Eles ficaram alguns segundos em silêncio quando Yuri deu um intervalo no jogo e colocou o joystick no sofá. Enquanto Caique colocou o controle na mesinha em frente, não queria mais jogar. Até que o mais velho comentou algo:

— Por falar em se ajudar... seu amigo sírio vai ter que resolver o que vai fazer da vida. Faz um bom tempo que ele não sai do seu quarto. Ele não se recuperou.

— Recuperou. Mas eu fiquei pensando que não seria bom ele voltar pro antigo trabalho. E muito menos voltar pra aquele abrigo. Ganhar pouco e viver mal de novo não dá.

— E o que pretende fazer? Dar abrigo pra ele aqui, pra sempre?

— Não sei. A única coisa que eu sei é que ele precisa de um emprego melhor.

— Que emprego? Tá faltando trabalho até pra quem tem ensino superior.

— Tô faz dias pensando nisso. Não sei se é a melhor ideia do mundo, mas... e se a gente arrumasse um emprego pra ele na Arena?

Arena Esparta: Além da Noite (Livro I)Onde histórias criam vida. Descubra agora