Benjamim é um homem marcado pelo seu passado doloroso, algo que ele guarda para si, dentro da grande geleira que cobre seu coração.
Júlia, a moça doce e sonhadora, sente-se atraída em desvendar o segredo por detrás da frieza do irmão do seu...
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Considero interessante a forma como Júlia aparece em minha sala dez minutos depois de tê-la deixado sozinha, agora, seu rosto tão tranquilo e sereno possui expressões tempestuosas que indicam que consegui irritá-la sem fazer tanto esforço. Pelo menos no dia de hoje.
— Trouxe algo para mim? — questiono a tempo de ver a impaciência em seu modo de apertar o punho.
Júlia coloca algumas folhas sobre a minha mesa e, olhando diretamente em meus olhos, apoia as mãos ali, inclinando-se um pouco em minha direção.
Seu cheiro atinge o espaço entre nós e se estende até mim, não fico surpreso ao sentir um aroma doce de frutas cítricas, é algo que se espera ao conhecer uma mulher como ela, que tenta espalhar amor e brigadeiros em todos os lugares que pisa.
— Sou mais esperta do que pensa, cheguei antes da sua reunião!! — diz, orgulhosa por ter atingido uma meta tão insignificante.
— Não precisava ter se apressado tanto, a reunião foi cancelada!
— O que disse?
O tom de voz esganiçado traz a mim uma satisfação inexplicável, acabou de mudar meu dia para melhor, com certeza.
Recostei-me na cadeira, analisando os olhos castanhos perderem o brilho intrigante que sempre carregam. Aquela seria a verdadeira Júlia?
— Acontece! — respondo de forma simplória — Mas obrigado, e parabéns por ter se mostrado tão eficiente em encontrar folhas sem a minha ajuda. Extraordinário!
— Vou fingir que foi um elogio. — disse, endireitando a postura mais uma vez. Seus cabelos balançam com os movimentos que ela faz com os ombros. — Precisa de alguma coisa?
E então, como se um balde de água fria houvesse caído em mim, Júlia sorri. Um sorriso simples que me causa uma irritação bem comum quando se trata dela. Seus olhos atingem novamente uma felicidade inabalável enquanto as expressões do seu rosto suavizam. Por um tempo me peguei questionando se havia dito algo bom para causar esse tipo de reação, mas não tenho nada de agradável para oferecer a ela.
— Eu não preciso de nada, senhorita. — Retiro rapidamente meu olhar do seu rosto, caso contrário, sou capaz de explodir com esse show barato de protagonista boazinha de novela das seis.
— Júlia! — corrigiu, com um ar de riso.
Não é possível!!
— Ao contrário de você, gosto de agir aqui dentro como um profissional!
— Claro! Super profissional!
— Quer me dizer alguma coisa? — Levantei-me, empurrando a cadeira para trás antes de espalmar as mãos sobre a mesa. Júlia dá um sobressalto, mas permanece firme na missão de me provocar curvando os lábios.
