CAPÍTULO 10

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        Pouco antes da manhã findar, caminho até a sala de descanso do nosso andar para tomar um café, o dia já começou agitado e, embora eu goste de me manter ocupado, meu corpo parece não concordar com o cérebro. A fumaça sobe após despejar o líquido quente na caneca azul com o logo da empresa, já cogitei a ideia de deixar uma garrafa em minha sala, mas isso significaria que eu passaria boa parte do tempo me entupindo de cafeína, o que não seria nada benéfico, acredito.

A porta é aberta no instante em que me sento no sofá verde-água, e antes de enxergar o rosto do responsável por interromper meu momento de silêncio e paz, reparo no cabelo castanho que balança de acordo com os movimentos de Júlia, quando ela vira o corpo para a minha direção, após fechar a porta, ela dá um sobressalto e arregala os olhos como se tivesse enxergado a personificação do terror.

— Desculpe, eu não sabia que tinha alguém— ela finalmente diz, ainda sem mover os pés do lugar. —, é que eu gosto de subir aqui, a saleta lá de baixo é muito movimentada..., mas posso sair se eu estiver incomodando.

Continuo bebericando meu café, esperando que ela termine de tagarelar.

— Vá em frente! — Aponto para a garrafa do outro lado, e Júlia acompanha o movimento da minha mão.

— Ah! Na verdade, eu não venho pelo café!! Só gosto de me sentar por pelo menos um minuto e respirar um pouquinho.

Observo seu rosto por poucos segundos e percebo a necessidade que sente em ficar se explicando o tempo todo, como se eu me importasse ou pudesse fazer alguma coisa para prejudicá-la aqui. Júlia deveria saber que é a preferida da família, mesmo não fazendo realmente parte dela.

Notando que não pretendo respondê-la — se é que eu poderia — Júlia se acomoda na outra ponta do sofá, sentando-se com cuidado.

— Também veio para respirar mais tranquilamente? — Sua voz baixa me pega de surpresa, seus olhos estão sobre mim, e eu nem preciso me virar para saber. — Seu dia deve ser agitado, mexer com o financeiro parece exaustivo.

— Estou tranquilo!

— Você parece ser feito de ferro — diz, entre risos, fazendo-me virar para ela, com o cenho franzido. —, sem ofensas!! — retratou-se, quase apavorada.

— É o que pensa a meu respeito? — questiono, sem desviar meu olhar do seu rosto corado.

— Bom... — Suas mãos vão de encontro aos joelhos e Júlia começa a esfregá-las ali enquanto também tenta manter o olhar longe do meu. — Não exatamente, mas acho que meus pensamentos não são importantes!

— Estou curioso. — continuei, agora recebo um pouco mais da sua atenção.

— Foi você quem pediu

— Eu sei!

Okay, na primeira vez em que te vi pessoalmente, notei que falta um brilho nos seus olhos, aquele brilho que seus pais e seu irmão têm. — Júlia umedece os lábios durante uma pausa. — Parece triste, amargurado e tem um enorme bloqueio de sentimentos.

Ergo as sobrancelhas, instantaneamente.

— Essas são as suas opiniões a meu respeito? Pensei que usaria termos mais agressivos.

— Por quê? — É notório o seu espanto.

— Sua avaliação sobre mim não é a mesma que escuto por aí, ou então, você só está escondendo aquilo que realmente pensa. — Levanto-me, colocando a caneca sobre a pia.

— Eu não tenho motivos para esconder nada.

— Já que estamos falando sobre opiniões; não é o que eu penso a seu respeito, Júlia!

Deixo a sala sem me aprofundar mais no assunto, aliás, é mais do que estou acostumado a conversar, porém, não considero a companhia tão confiável. Existe alguma coisa que me faz duvidar de que Júlia está mesmo sendo quem realmente é, talvez por seu modo de manter a calma mesmo quando se sente incomodada com um assunto ou uma situação.

Aposto que a deixei pensativa, e de certa forma me surpreendi realmente com a suposta opinião a meu respeito, para uma desconhecida, Júlia é capaz de compreender até mais do que se espera, outro ponto a se questionar; por que Júlia precisou fazer tal avaliação a meu respeito? O que meus olhos podem transmitir assim, sem que eu queira ou permita?

"notei que falta um brilho nos seus olhos, aquele brilho que seus pais e seu irmão têm..."

Já recebi comentários positivos a respeito dos meus olhos, antes do mundo se desfazer perante mim, e me lembrar disso causa um nó dolorido na garganta, porque ouço claramente a voz doce e serena, depois de uma noite especial, dizendo-me coisas que hoje tenho a impressão de que nunca poderei me esquecer. É impossível. O que deveria me fazer sorrir, hoje só me faz lamentar.

Fecho a porta da minha sala e me sento imediatamente na cadeira, abrindo o notebook em seguida. Não posso me permitir ter tempo para chorar ou me afundar nas lembranças. Preciso me privar dos meus próprios sentidos, sabendo que, a cada dia mais, perco um pouco do menino que eu costumava ser.

Agora, o único momento de paz que tenho, é quando me sento aqui de frente a uma tela que me mantém ocupado, ignorando qualquer outro problema que não seja relacionado à empresa.

Minha vida será assim para sempre e eu soube desde o início deste tormento. Afinal, seria impossível ser feliz depois de passar pelo inferno que fui submetido.

Ouço algumas batidas na porta e fico em silencio, meu pai sabe que pode entrar sempre quando a porta estiver destrancada. Para a minha surpresa, as batidas continuam, e claramente não são as mesmas batidas firmes do meu pai.

— Entre! — respondo, olhando para frente.

A maçaneta gira e Júlia coloca os pés dentro da sala, depois, no meio do caminho até a minha mesa, ela para e me olha enquanto cruza os braços. Não sei se estou mais confuso com a sua presença aqui ou com sua expressão firme.

— Algum problema? Porque se estiver com problemas, entrou na sala errada!

— Não é um problema!! — ela diz, rapidamente, caminhando para mais perto, até alcançar a cadeira e agarrar o encosto como se precisasse de equilíbrio. — Pensei um pouco no que disse em minutos atrás e tive a impressão de que causei dúvidas a respeito das minhas palavras. Eu não sou desse tipo de pessoa que precisa esconder algo.

— Demorou esses minutos todos para criar um discurso tão previsível assim? — Recosto-me na cadeira, observando seu rosto com alguns traços de impaciência.

— Não que eu precise te provar algo, mas ainda vai descobrir que pode confiar em mim. Nem todo mundo que se aproxima de pessoas influentes, tem a intenção de enganar ou fingir.

— Terminou?

Júlia aperta os lábios enquanto assente devagar.

— Já que se calou, permita-me dizer que não preciso ouvir suas palavras e nem quero que me convença. Quando tiver reais conclusões sobre você, deixarei que saiba! — Aponto para a porta. — Se me der licença, preciso trabalhar!

Júlia me olha por longos segundos, sinto que tem algo a dizer, mas ela desiste, a menina não é boa em se defender. A atitude poderia significar que estou diante de uma pessoa inofensiva, mas prefiro acreditar que ela é esperta demais e sabe muito bem interpretar um papel.

A porta se fecha com mais força do que o necessário.

Consegui tirá-la do sério.

— Não vai demorar muito, descobrirei quem você é.

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Acho que a guerra começou...
Volto na quarta-feira 😉
Tenha um bom final de semana!!
Obrigada por ler❤️

Minha Doce ConquistaOnde histórias criam vida. Descubra agora