CAPÍTULO 40

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        O cheiro dela ainda estava enraizado em mim, mesmo depois de um longo banho. Ajeitei a cama e me deitei ali, olhando para o teto, mas com o pensamento distante demais do mundo real.

Imaginando como seria minha vida se tudo tivesse acontecido de acordo com os meus planos quando eu era apenas um garoto, comecei a analisar; provavelmente a esta altura estaria casado, com uma família formada e, o mais óbvio de tudo, com Raissa ao meu lado. Então, esse seria o meu destino perfeito, no entanto, não era o que estava reservado para mim. O amor que vivi com Raissa era desafiador no início, mas também muito natural, nós nos conhecemos e gostamos um do outro, começamos com uma amizade e terminamos apaixonados, foi assim. Vivi bons momentos, tenho lembranças bonitas dos nossos dias juntos, nosso amor foi muito forte.

Fica impossível descrever meu sentimento ao pensar em como seria não ter a chance de conhecer Júlia, ao menos dessa artimanha do destino não posso reclamar. Quem iria dizer que um dia encontraria alguém tão diferente de mim, que ao mesmo tempo me completa de uma maneira imensurável? Ninguém previa, muito menos eu. Pensar nela já é motivo o suficiente para um sorriso surgir.

Nós nos conhecemos há meses e nem precisei de todos eles para me apaixonar, no início eu sabia que a sua presença mexia demais comigo, só não queria admitir e acreditar realmente. As provocações eram só pretextos para a manter longe e ao mesmo tempo perto, uma loucura que na minha cabeça conturbada fazia total sentido. Um idiota, hoje admito.

Tudo o que vivi com ela também ficará em um espaço especial no meu coração e na minha memória. Essa é a minha última noite no Brasil e nem tive coragem o suficiente de olhar nos olhos dela e me despedir, sei que vai me odiar por isso, mas será melhor assim. Eu não aguentaria suas lágrimas e provavelmente não conseguiria segurar as minhas, juro que tentei, porém, sendo o fraco que todos sabem que sou, desisti. Só queria abraçá-la bem forte, aquela foi a nossa despedida silenciosa e no fundo tenho a sensação de que ela notou. Lembro-me dos seus olhos cheios de questões implícitas enquanto sua mãe a afastava de mim, essa será a minha última lembrança até os próximos anos, não sei ainda se vou voltar, é muito provável que faça apenas visitas breves, e se voltar a encontrá-la, espero que esteja bem e feliz, não admito o contrário. Aquele sorriso precisa continuar, o mundo fica uma droga sem ele.

O dia amanheceu nublado, era um pouco do que refletia em mim. Tive tempo de tomar um último café com os meus pais, lidar com as broncas que recebi da minha mãe e depois seu carinho e lágrimas, por mais que eu seja quase um recordista em despedidas, nunca fica fácil, é preciso muito para segurar as lágrimas. Eu amo a minha família, é um sentimento incondicional, eles são minha fortaleza. Meu pai me deu um abraço forte e disse que estaria ao meu lado em qualquer decisão, eu ainda continuaria ajudando com a empresa, mas tudo isso à distância, muita distância.

Virgílio já me esperava no carro quando coloquei minha única mala na varanda, dei um abraço apertado nos meus pais e só os soltei quando o carro do meu irmão parou e ele desceu com uma cara de poucos amigos. Pensei por um segundo que ele iria gritar comigo, expor toda a sua raiva por me ver ir embora novamente, mas foi o oposto disso. Ainda sem sorrir ou dizer qualquer coisa, ele caminhou firmemente até mim e me abraçou como nunca havia feito antes. Eu não imaginava que precisava tanto disso, até acontecer. Como era bom saber que mesmo depois de errar tanto, ainda tinha o meu caçula comigo. Aquele amor de irmãos nunca havia ido embora, estava apenas escondido atrás das mágoas que ambos alimentamos. Soltei-me dele assim que percebi a porta do passageiro ser aberta, senti o coração pulsar ainda mais quando a imagem que eu não esperava ficou bem diante dos meus olhos.

Minha Doce ConquistaOnde histórias criam vida. Descubra agora