Benjamim é um homem marcado pelo seu passado doloroso, algo que ele guarda para si, dentro da grande geleira que cobre seu coração.
Júlia, a moça doce e sonhadora, sente-se atraída em desvendar o segredo por detrás da frieza do irmão do seu...
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____ ⭐⭐⭐ Tenha uma boa leitura! 📚 ____
A chuva cai do lado de fora e as gotas escorrem pela janela do meu antigo quarto. Observo o vidro embaçado, ou talvez sejam só minhas lágrimas que me trazem essa impressão. Não importa, eu não ligo para nada disso, só quero continuar encolhida nessa cama até conseguir forças para sair daqui.
Sinto os dedos finos das mãos macias de minha mãe, não consegui esconder o que sentia, ela me conhecia muito bem e me encheu de perguntas quando apareci em sua casa.
— Vai passar, filha... — disse baixinho. — Talvez tenha sido melhor assim, não temos como saber se esse relacionamento daria certo. Ele me pareceu um bom rapaz, mas se carrega tanto sofrimento no peito, quem garantiria que isso não te faria sofrer também?
— Não me sinto muito diferente agora, mãe — murmurei. — O pior é que ainda não consigo odiá-lo.
— Eu sei e compreendo. Esse seu coraçãozinho nunca foi de abrigar esse tipo de sentimento contrário. — Ouço o som do seu riso baixo. — Não precisa odiá-lo, filha, isso não diminuirá sua tristeza.
Suspirei.
— Tudo bem se quiser passar uns dias aqui, posso cuidar da confeitaria, Bruna disse que hoje entrevistaria algumas moças, enquanto não contratam ninguém, pode contar comigo para tudo.
Sequei minhas lágrimas e arrastei meu corpo até conseguir me sentar. Acho que minha única fortaleza agora é a minha confeitaria, e eu jamais poderia deixar que qualquer pessoa me tirasse o desejo de seguir com meus objetivos.
— Combinei de abrir hoje às dez horas, estou atrasada e abalada, mas vou cumprir com minhas obrigações, aliás, será muito melhor trabalhar do que ficar inundando travesseiros com as minhas lágrimas!!
— Também prefiro que seja assim!!
Virei-me para ela e a abracei.
— Obrigada por cuidar de mim, mãe.
— Não poderia ser diferente! — respondeu ao deixar um beijo estalado em meu rosto. — Ainda têm roupas suas aqui, pode tomar um banho se preferir, e vamos juntas depois. Vou ficar te esperando.
— Está bem!
Foi o que fizemos, fomos juntas para a confeitaria, ainda chovia forte — o que foi péssimo para pegar ônibus —, mas sobrevivemos a isso. Quando chegamos, senti que havia feito a escolha certa, minhas forças foram renovadas ao colocar os pés dentro de um lugar que posso definir como o meu predileto.
Coloquei o avental rosa-claro com o nome "Júlia Doçuras" em meio a um pequeno desenho de cupcake de morango, os pequenos e delicados bolsos davam um charme especial na peça. Eu amava aquilo.
Alguns clientes entraram, minha mãe se encarregou de ficar no balcão enquanto eu testava uma receita nova de torta holandesa, era o que eu precisava para me distrair. Sempre corri para os doces quando me sentia deprimida, eles são minha terapia, e são nesses momentos de lamúrias que eles ficam mais deliciosos. Aliás, vão ficar deliciosos por muito tempo, já que Benjamim infelizmente vai continuar nos meus sonhos, com aqueles olhos irritantemente azuis se despedindo de mim para nunca mais voltar.
