Capítulo 4, parte 2

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O fim do beijo foi um abraço triste, triste para Liam.

— Fica comigo essa noite? — perguntou Noah com o queixo sobre o ombro do outro, que balançou a cabeça afirmativamente.

Permaneceram abraçados. Liam agarrou o tecido da camiseta de Noah e logo percebeu que lágrimas começaram a cair de seus olhos involuntariamente, e logo vieram os soluços e o aperto no peito.

— O que foi? Por que cê tá chorando?

— Eu não sei!...

Noah abraçou Liam ainda mais forte, acariciando-lhe as costas. Sem muito controle sobre si, este continuou a chorar; um choro baixo, miúdo, íntimo. Havia tanto a ser dito, tanto que ele queria que Noah entendesse... Mas Liam jamais conseguiria se explicar, pois nem ele próprio era capaz de entender com clareza o que se passava dentro de si. O corpo de Noah colado ao seu fez seu membro enrijecer, mas, diferente de todas as outras vezes, ou diferente de quaisquer outras possíveis vezes, mesmo que futuras, aquela relação fisiológica não denunciava desejo sexual algum. O que Liam sentiu naquele instante estava em um plano metafisicamente superior, e ele sabia que aquilo era apenas um sinal de que não era o corpo de Noah a causa de sua sede, mas a alma.

Eu sabia o que ele sentia, e isso me desesperava. Ele estava bem em meus braços, nossos corpos tão próximos... eu era a razão de tudo aquilo. Eu. E eu queria não querer, mas acho que, pela primeira vez na vida, Liam sentiu algo puro. Por mim. Minha camiseta estava molhada com as lágrimas dele; nossos corpos estavam unidos, nossos corações se encontraram naquele abraço, assim como as nossas intimidades, que mostravam um querer que não era da carne.

— Não precisa chorar; eu tô aqui, tá bem? — disse eu, acariciando os cabelos dele, tentando trazer algum conforto.

De repente, ele se afastou de mim. Visivelmente sem jeito, secou as lágrimas com o dorso das mãos, dizendo entrementes:

— Ah... Isso é tão patético... Desculpa, eu não sei o que me deu.

Discordei em pensamento, mas não disse nada; apenas assenti com a cabeça. Desliguei a TV da sala, acendi a luz do corredor novamente e o tomei pela mão.

— Vem lavar esse rosto — disse, indo em direção ao meu quarto.

Acendi a luz e abri a porta da suíte, dando passagem para que ele entrasse. Tirei meus chinelos, abri a janela e liguei o ventilador de teto. Fazia calor. Apaguei a luz e liguei o abajur, que banhou o quarto com sua claridade avermelhada. Suspirei fundo. Eu não estava preparado para nada daquilo, mas tinha que ser forte.

Ele voltou do banheiro, enxugando as mãos na calça jeans. Eu já havia me deitado e, agora, olhava-o de pé, à minha frente. As hélices do ventilador eram o único barulho que se ouvia.

— Vem — convidei-o com um gesto.

Tímido, ele veio. Parecia uma criança assustada... Deitou-se ao meu lado depois de tirar os sapatos. Nos olhávamos nos olhos, bem no fundo, com uma sinceridade tremenda. Havia tanto que eu queria dizer, tanto que eu queria que ele entendesse... Mas não falei: apenas nos olhamos em silêncio. Depois nos beijamos de novo, e de novo, e de novo — céus! Como ele era bom naquilo! E nos tocamos com carinho; sua barba por fazer roçava contra os meus dedos e seus olhos azuis, ainda marejados, iluminavam meu interior... Aquela noite... aquela noite que eu há

— Eu acho que eu te amo... — disse Liam, quebrando o silêncio cristalino do quarto.

O contorno de um sorriso se formou no rosto de Noah, que dedilhava os cabelos do outro.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora