Capítulo 8, parte 3

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Conseguiram se encontrar para um almoço que prepararam juntos na casa de Noah (Liam andou aprendendo uma receita ou outra com Leda e com os cozinheiros do London ao longo dos últimos meses). Fazia tempo que não passavam um domingo todo juntos - exceto pelo ano novo na casa de Rita e Inácio. Os ânimos continuaram amenos, e a paz governava soberana. Almoçaram no silêncio do lar de Noah, que estava meio calado, cansado pela correria habitual do Centro. Aceitou os carinhos que recebeu do parceiro de bom grado, mas não estava muito a fim de passar daquilo. Conversaram sobre o episódio do sábado, mas não se estenderam muito no assunto, senão Liam acabaria não resistindo e estragando a "surpresa" que seria contar a Noah que terminaria com Nicole dentro de uma semana ou duas.

- Eu não condeno o que ela fez - Noah disse com a cabeça deitada no colo do outro.

- Ah, não?!

- Não... Tudo que ela disse é verdade. Claro que ela poderia ter deixado esses comentários pra outra hora, mas... mentiras ela não disse.

- Você é demais, mesmo, bê - Liam disse com uma pitada de ironia. - Defendendo a garota depois do que ela fez...

- Mas o que ela "fez"? Ela só desabafou-na hora errada e no lugar errado, sim, mas... Não sei.

Entender o raciocínio humanista de Noah nem sempre era fácil, por isso às vezes a tentativa era deixada de lado. A vontade de falar sobre o término com Nicole formigava nas veias, mas Liam conseguiu segurar a ansiedade e não anunciar o ovo antes de a galinha botá-lo. Começaram outro jogo de terror, continuação nova do que zeraram meses atrás. Enquanto se perdiam no mapa procurando uma chave, Liam se lembrou da conversa com Alberto de manhã.

- Meu pai me chamou pra conversar hoje - disse.

- Sobre o quê?

- Sobre mim. Acredita que ele foi lá no bar ontem e eu não o vi?

- Acredito... O que vocês conversaram?

- Foi uma conversa muito estranha; uma conversa de pai pra filho, sabe? Não tô acostumado com isso.

- Mas o que ele falou?

- Que eu tava mudado; que de uns tempos pra cá ele não me reconhecia mais... E que ele tá feliz por essa mudança, e queria saber o que foi que me deu. Queria ter dito que o que me deu foi você, mas não é a hora ainda.

Noah sorriu, empurrando a coxa do parceiro com o joelho.

- Eu gosto tanto do seu pai...

Liam franziu a testa.

- Sério?

- É.

- Por quê?

- Não sei... Sabe quando você tem uma simpatia gratuita por alguém?-não entra aí agora senão você vai morrer.

- Eu sei, bê, relaxa.

Liam não desgrudava os olhos da TV.

- A gente conversou bastante lá na sua casa, no Natal. Seus tios são meio chatos; só falam de banco.

- É vero.

- E seu pai falou muito de você.

- O que ele disse?

- Praticamente as mesmas coisas que ele disse pra você.

Alguns segundos de silêncio. Liam tentava dividir a atenção entre o jogo e o companheiro.

- Eu fiquei por entender nossa conversa de hoje - disse.

- Não tem mistério: seu pai quer ser seu amigo, só não sabe muito bem como chegar a você.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora