Capítulo 4, parte 1

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Não seria aquela a primeira vez que Liam receberia alguém em casa para um jantar, mas, naquela noite, tudo deveria estar impecável.

— O que vai ser hoje, Leda? — perguntou ele, espreitando as panelas e o trabalho ágil dos empregados.

— Filé mignon ao molho de mostarda e profiteroles de sobremesa.

— Pra que essa sofisticação toda? Minha mãe adora inventar moda, mas o Noah não faz questão de nada disso e eu muito menos.

— Noah, é? Hum... Tô achando o senhor muito cuidadoso com essa visita, viu?

— Tá achando certo e eu não sou senhor de ninguém. O que é isso? — Liam levou um dedo à calda de chocolate que repousava sobre o fogão.

— É a calda de chocolate pros profiteroles, e não ponha o dedo! — Leda deu um tapa na mão do patrão. — O senhor está muito agitado, pare com isso!

— Eu estou uma pilha. Vai demorar a ficar pronto? Já está quase na minha hora...

— Não sei. Quarenta minutos, uma hora talvez.

— Isso tudo?!

— É, ué! Você sabe como a dona Lilian é; pediu pra gente fazer um monte de comida e por isso ainda vai algum tempo aqui.

— Tá, tá bom.

— E pare de me aperrear! Ficar aqui rodeando a gente não vai fazer o tempo passar mais rápido. Por que o senhor não vai buscar o rapaz enquanto isso?

— Porque... Não sei. Eu tô nervoso.

— Pois deixe de manha e vá logo, que nós temos muito serviço aqui.

Liam deslizou a palma da mão pelo rosto com força e deu meia volta. Leda tinha razão. Ficar ali não resolveria nada. O melhor a fazer era ir buscar Noah.

— Está tudo bem por aqui?

Lilian foi para perto dos empregados monitorar as panelas.

— Tá, sim, dona Lilian.

— A sobremesa já está pronta?

— Já, sim; já tá na geladeira. Falta só esperar a carne cozinhar direitinho e fazer o arroz.

— Ótimo. E você, Liam? Não vai buscar o moço? Seu pai já chegou.

— Vou, acho que vou agora.

— Então vá. Leda, essa calda não está muito rala?

Deixando a cozinha da casa, Liam foi, então, buscar seu convidado. Recebê-lo em seu território estava o desconsertando. Tinha medo de que Lilian dissesse algo inconveniente, que Alberto não se interessasse pela causa, ou simplesmente que Noah se sentisse desconfortável dentro daquele ambiente tão hiperbólico que era a mansão da família.

E foi. Guiou até a casa de Noah e, assim como combinado, às oito, lá estava ele, sentado ao degrau da entrada de sua morada, aguardando a carona. Ao avistar o carro de Liam se aproximando, Noah se levantou e caminhou até ele; abriu a porta e entrou.

— Um lorde britânico da pontualidade, você.

Liam fitou-o por um breve instante. Vestia uma camisa branca de mangas longas dobradas no cotovelo, calça jeans e um quê de alguma coisa que inquietava seus nervos.

— Tudo bem com você? — perguntou o outro, estendendo a mão em cumprimento. Liam tomou-a e a beijou.

— Melhor agora. E você?

— Também.

Partiram. As palmas das mãos de Liam suavam. Desta vez as emoções à flor da pele não eram apenas em virtude da presença de Noah ao seu lado, mas por saber que, em breve, estariam todos sentados à mesa conversando com Lilian e Alberto, que tinham tudo para estragar a noite com meia dúzia de frases. Como bem pôde, Liam tentou permanecer calmo e não deixar transparecer seu nervosismo.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora