Capítulo 3, parte 5

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Quando acordou no domingo pela manhã, com leves sintomas de ressaca, Liam permaneceu na cama por longos minutos, com os olhos fechados, sorrindo involuntariamente e pensando na conversa que tivera com Noah na noite anterior. Junto com seu despertar, seus sentimentos foram voltando à tona e isso o preocupou, pois tudo parecera estar intacto dentro de si, por mais que ele julgasse que estivesse acabado, enterrado e esquecido. Não havia nada esquecido, não havia nada enterrado, não havia nenhuma lembrança apagada: Noah estava lá, bem em seu coração, e, pelo visto, Liam também estava no dele. Era uma da madrugada de sábado; Noah conhecia minimamente a rotina do outro e sabia que muito provavelmente ele estaria com os amigos e não poderia, ou não quereria, atender à sua ligação; ainda assim, tentou e acertou. Ele se importava, afinal! Ligou para pedir desculpas!

Cada conclusão fazia surgir um sorriso diferente. Abraçado a um travesseiro que infelizmente não era Noah, Liam pensou em prestar uma nova visita ao Centro. Agora que as coisas estavam aparentemente bem e tudo desculpado, talvez fosse uma boa ideia tentar voltar lá e mostrar de uma vez por todas que a proposta de patrocínio não era uma farsa nem qualquer tipo de troca de favores. Seria uma excelente oportunidade, ainda, para convidar o rapaz àquele jantar proposto por Lilian quando o assunto surgiu à mesa do café. Quanta coisa poderia acontecer!

Saber que agora Noah voltaria a fazer parte de sua vida fez Liam se esquecer completamente de que estava em um ótimo momento com Nicole. Ou talvez não fosse assim tão ótimo? Por mais que ambos estivessem se dando muito bem e se entendendo como nunca, ela não tinha o poder de fazê-lo sentir aquela erupção de sensações só por um telefonema. Ela não fazia nada entrar em erupção, verdade fosse dita; era apenas uma boa companheira para muitos momentos e nada mais. E, mesmo sabendo que Noah dissera e sustentara seu “não”, algo no interior de Liam dizia a ele que nem tudo estava perdido; que talvez, com um pouco de paciência e insistência, isso fosse revertido, afinal ele havia ligado para se desculpar, aquilo deveria ser sinal de alguma coisa!

Todas essas expectativas atravessaram a cabeça do rapaz durante o domingo inteiro. Na segunda-feira, dia seguinte, decidiu voltar ao Centro, sem aviso, como fizera da outra vez; queria pegar Noah desprevenido. Ademais, além de rever aquela estranha criatura que o fazia sentir coisas tão extraordinárias, precisava também reoferecer a ajuda que lhe fora negada no mal entendido da primeira vez. Por esses motivos, decidiu fazer isso tudo logo pela manhã. Tomou café junto com sua família e, dessa vez, ao afirmar que voltaria ao Centro, ouviu só coisas boas. Ah, como era bom finalmente abrir a boca para falar algo pelo qual não haveria reprovação! Quão mais suportável era estar perto daquelas pessoas quando elas não tinham nada de negativo a dizer!

Liam saiu de casa sem pressa. O dia parecia estar particularmente mais bonito naquela manhã primaveril de segunda-feira — por que seria isso? Dentro de alguns minutos, lá estava ele, no local de trabalho de Noah. Estacionou o carro próximo às árvores frondosas e caminhou pela segunda vez pela pequena trilha que separava a rua da porta de entrada do casarão. Tocou a campainha e, mais uma vez, o mesmo homem, Benjamin, atendeu.

— Oh! Você! De novo!

— É... Oi — Liam se sentiu um tanto envergonhado por estar voltando depois de um mês de silêncio.

— Entre! — Benjamin abriu passagem. — Que bom te receber novamente!

— É, desculpa por ter sumido. Houve uns problemas lá no banco, mas tá tudo bem agora.

— Imagina. Aceita água, suco, chá?...

— Não, não, obrigado... — Liam limpou os pés no tapete da sala de entrada. — Então, agora que está tudo certo, a gente pode voltar a falar daquele assunto... Onde a gente parou da última vez?

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora