Capítulo 6, parte 3

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Os dias que seguiram foram de muito, muito estudo para Liam. Sabido de poucas coisas na vida e inexperiente com tudo que pudesse lhe garantir algum sucesso em seus primeiros passos, a primeira providência tomada foi a mais elementar para todos os aspirantes a alguma iniciativa: Google.

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Os resultados foram inúmeros, e por eles Liam deslizou os olhos por vezes e vezes. Separou alguns links, leu muitas informações contraditórias, muitas notícias relacionadas, muita burocracia e não absorveu muito conhecimento útil em uma primeira busca. Despido de orgulho e realmente disposto a fazer tudo dar certo, precisou se reunir com o pai em várias ocasiões. Alberto, genuinamente surpreso—e quiçá bastante satisfeito—com a determinação do filho, se dispôs a ajudá-lo como pôde. Em casa, nas famigeradas mesas pós-refeição, eles conversavam na ausência de Lilian, nos ecos da sala vazia, no gabinete de mármore do Zênite, em todo momento que Liam o encontrava sozinho ou com dez minutos disponíveis para gastar; e então o filho percebeu que poderia acusar o progenitor de absolutamente tudo, incluindo negligência paternal e largas lacunas de afeto, mas nunca poderia dizer que herdou dele a predisposição para a vagabundice. Alberto dedicava a própria vida ao banco, e, por mais que essa dedicação fosse um dos pilares do afastamento quanto ao filho, era ela que garantia ao rapaz o mundo que ele tinha a seu alcance.

— Sua ideia está ótima, mas ainda não é o bastante — Alberto tirou os óculos de leitura e suspirou. Já estavam há mais de meia hora, ele e o filho, conversando sobre o futuro bar.

— O que falta então?

— Você precisa contratar pessoas, pessoas de confiança e que vão te ajudar a tocar isso pra frente... — coçou os olhos cansados. — Você precisa de um arquiteto, de um contador, de um engenheiro... essas coisas.

— Eu não conheço essas pessoas... O senhor não conhece?

— Até conheço, mas é bom você falar com quem já seja do ramo.

O trabalho se estendeu por algum tempo. Ainda antes de dar início às questões burocráticas, enquanto pensava em todas essas pessoas com quem teria que se aliar para fazer o negócio dar certo, Liam começou a providenciar primeiro as coisas primeiras, partindo da mais basilar: o terreno. O que sabia, por estudo e dedução, era que a localização é a alma do negócio, ou pelo menos parte dela. Mapeou a cidade de Taigo e pesquisou os pontos onde poderia ser uma boa ideia existir um bar. Zoneou as regiões que mais gostava de frequentar, as que gostava menos, os locais onde o público era mais abonado e o contrário também. Pesquisou na internet, em sites de inúmeras imobiliárias, cômodos comerciais ou prédios antigos à venda ou para alugar nos locais que selecionara em sua filtragem. Visitou quatro ou cinco pontos, todos com propostas excelentíssimas vindas dos corretores, que asseguravam que aquele era o melhor lugar para se fazer o negócio, mas o destino escolhido no final das contas veio por acaso. Indo para a casa de Nicole, num sábado de tarde calorenta, Liam avistou um homem de cabelos muito grisalhos, apesar da aparente pouca idade, descer de uma escada que usara para pendurar uma placa em que se lia “Vende-se” sobre a frente de um prédio antigo na Avenida das Paineiras.

O rapaz estacionou o carro imediatamente na primeira vaga que encontrou. Voltou ao homem, que agora espalmava as mãos enquanto verificava se a placa que pendurara estava reta.

— Ei, amigo! — chamou. — É você o responsável aqui?

— Sim, senhor — aquela maldita insistência em ser tratado por “senhor”.

— Eu posso dar uma olhada na casa?

O homem escaneou Liam—como sempre, muitíssimo bem vestido—de baixo a cima duas vezes e ainda perguntou:

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora