Capítulo 3, parte 3

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Embora a promessa de um reencontro tivesse sido feita com propósito, e por “a gente se vê” Liam realmente denotasse ver com os olhos e em pessoa, ele ainda não fazia ideia de como poria esse plano em prática. A confissão silenciosa de Noah e suas palavras ingenuamente ditas davam a Liam um vasto território para explorar, mas ele ainda haveria de procurar com cuidado o caminho mais favorável.

Por desencargo de consciência, retornou a ligação de Nicole. Ela não queria nada importante, apenas saber como o parceiro estava. A superficialidade do relacionamento evitava que ambos exigissem maiores satisfações um do outro: “Não” era “Não”, “Sim” era “Sim” e não existiam muitos “mas” e “Por quê?”. De qualquer forma, para evitar suspeitas, ficou feita a promessa de um reencontro na semana que se iniciava.

***

Numa quinta-feira, estava toda a família posta à mesa de almoço. Nos quatro dias que se passaram, nada aconteceu. A cabeça de Liam ainda buscava uma maneira de alcançar Noah. Em meio ao ruído dos talheres, Lilian contava a Alberto as novidades das imperdíveis vidas de suas amigas socialites. E ele escutava com o mesmo interesse que os irmãos à mesa: nenhum. Quem se interessava mesmo eram os empregados, que ouviam tudo com postura impecável, mas caretas expressivíssimas por dentro.

O toque do celular de Alberto sobre a mesa interrompeu o falatório de Lilian.

— Preciso atender.

Sem se levantar da mesa, Alberto atendeu à ligação. Em silêncio, Liam, sem querer, prestou atenção nos fragmentos da conversa.

— Peça aos investidores para marcarem uma reunião na semana que vem.

Investidores...

Investidores...

Um lampejo. Aquela única palavra desencadeou uma sequência de ideias que deslancharam na cabeça de Liam em alta velocidade. Sim! Era uma jogada perfeita, exatamente do que ele precisava!

A conversa do pai não foi longa. Logo Alberto desligou e guardou o celular no bolso do paletó, e, antes que Lilian voltasse a falar, Liam interveio:

— Pai?

— Hum?

— Eu estava pensando... Eu tenho um amigo que trabalha como voluntário em um centro de atenção a crianças com câncer... Seria ótimo se o banco patrocinasse esse lugar de alguma forma.

Evelyn olhou de soslaio, mas seu olhar foi tão penetrante que Liam percebeu e entendeu que a irmã não via boas intenções em seu pedido — o que não era verdade.

— Eu acho ótimo — disse Lilian. — O banco não tem participado ativamente de nenhuma atividade social ultimamente. Vai fazer bem pra nossa imagem, não acha, querido?

Alberto enxugou os lábios com o guardanapo.

— Bem, eu preciso de mais informações... Que lugar é esse? Onde fica? Quem comanda? Qual é a proposta deles?... Essas coisas.

— Eu posso verificar isso tudo — respondeu Liam. — Esse meu amigo é um dos coordenadores do projeto, eu consigo todas essas informações com ele.

— Traga-o para jantar aqui em casa qualquer dia, ora — sugeriu Lilian. — Alguém que faz um trabalho assim voluntariamente deve ser uma pessoa bárbara!

— Ele é, sim. Então eu vou conseguir essas informações e — dirigiu-se à mãe — fazer o convite pra ele vir aqui.

— Tudo bem.

Perfeito. Agora era questão de tempo. Liam precisava descobrir onde se localizava o tal centro e ir até lá. Daí em diante, as peças começariam a se encaixar: a proximidade, o contato, a conquista e, eventualmente, a vitória. O que ele faria com o prêmio, ainda não sabia muito bem, mas tinha certeza de que não desistiria de conquistá-lo — e iria.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora