Capítulo 11, parte 4

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Uma mentira; era tudo uma mentira e, por trás dela, havia uma força motivadora que ninguém conhecia. Então Evelyn era parte do plano, mas também fora enganada tanto quanto os outros. Por quê? Por quê?! Quanto mais Liam tentava encontrar as respostas, mais perguntas surgiam.

Noah sumira. Se ele não mudara nos últimos meses, não havia assim um leque tão grande de possibilidades de lugares onde ele poderia estar. Apesar de ainda ser uma quinta-feira, ele poderia estar na casa dos pais. Liam imediatamente pensou em tirar o carro do estacionamento e ir a Magnólias no mesmo momento, mas, além de estar sem a menor condição de dirigir agora, ele não saberia chegar à casa dos antigos sogros; poderia passar em frente a ela que não a reconheceria, tamanho era seu abalo emocional. O endereço, que tinha guardado na memória do celular, certamente se perdera em alguma formatação. Quais eram as opções?!

Ligar para ele foi o que se fez em seguida, mas em vão: todas as ligações davam direto na caixa de mensagens. O telefone fixo chamava até cair, mas ninguém atendia. No Centro, Benjamin não estava, e a pessoa que atendeu a ligação não sabia onde Noah se encontrava; sabia apenas que há alguns dias ele não aparecia por lá.

A situação começava a se tornar preocupante. Liam tentou falar com Alberto e conseguiu. Explicou brevemente o que se passava e pediu que o pai tentasse contato com o rapaz; talvez ele conseguisse alguma notícia, se o número de Liam tivesse sido bloqueado no celular de Noah; ao menos a ligação ele conseguiria completar. Mas Alberto também não conseguiu nada. E assim sucederam inúmeras tentativas sem sucesso. O desespero e a sensação de impotência cresciam exponencialmente. Mesmo sabendo que Noah era um homem extremamente ajuizado e que jamais faria uma insensatez que pudesse prejudicá-lo de verdade, o sentimento que ardia no peito era o de uma mãe que se solta da mão do filho na multidão por um segundo e o perde de vista. Liam tinha de encontrá-lo, mas todas suas tentativas foram frustradas.

Depois de passar o resto da tarde e o começo da noite tentando, buscando-o em todos os cantos possíveis, ele pensou em chamar a polícia para relatar um desaparecimento ou até mesmo ligar para o IML para verificar se algo pior havia acontecido. Só de pensar nessas duas hipóteses sua espinha era cruzada por um arrepio agudo. Já cansado, exausto emocionalmente, Liam encerrou suas buscas pelo dia. E, quando a adrenalina parou de correr em seu sangue, ele finalmente chorou. Derramou as lágrimas de uma vida inteira ao perceber que o outro utilizara um golpe tão baixo para afastá-lo de uma vez por todas justo quando tudo estava bem e os dois começavam a trilhar juntos um caminho sem pedras. A tristeza sólida que se apossou de Liam tinha proporções tão grandes quanto a sua raiva, a sua indignação, o seu desespero, a sua incerteza. Já não dava mais para acreditar que Noah o amava depois de descobrir aquela verdade. Havia tudo sido de fato uma mentira, então? Mas por quê?

Para nenhuma dessas perguntas veio uma resposta. A noite se instalava e, com ela, a preocupação aumentava mais e mais. Com a cabeça cheia de ideias corrosivas e o peito sufocado por aquela notícia que veio como uma avalanche, Liam dormiu de cansaço, não de sono. O cérebro, trabalhando intensa e incessantemente, acabou apagando sem que o dono percebesse. Quando deu por si, já era manhã.

A noite de sono não foi de nenhum descanso. Ainda estremecido mental, emocional e fisicamente, Liam se levantou como se tivesse acabado de se deitar, mas, mesmo estando exausto por dentro e por fora, decidiu que cancelaria todos os compromissos que teria naquela sexta-feira para descobrir o paradeiro de Noah. Conhecendo-o bem como conhecia, pensou em alguns lugares onde ele poderia estar, e a eles estava disposto a ir, um por um.

Seu plano foi silencioso, porém. Tomou o café que Leda preparara sem contar a ela o que havia acontecido e o que estava por acontecer. Da mesma forma, nada disse a Artur nem a Evelyn nem a Téo nem aos pais ou qualquer outra pessoa: faria o que tinha de ser feito sozinho e em sigilo. A falta de mensagens ou de ligações perdidas da irmã indicavam que nenhum progresso fora feito, portanto, aquele era o momento de agir.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora