Capítulo 12, parte 1

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Tendo dormido quase nada na noite anterior, e agora tomado por uma superdose de alívio por ter Noah ao seu lado, não levou dez minutos para que Liam adormecesse profundamente, sentado na própria poltrona. Acordou às três da manhã, e levou algum tempo para se lembrar exatamente de onde estava e do porquê. À sua frente, Noah também dormia, ou aparentava dormir. Liam não quis tentar acordá-lo. Sem fazer barulho, espreguiçou-se e se levantou; precisava ir ao banheiro, enxaguar a boca, comer alguma coisa.

Assim o fez. Encontrou uma enfermeira de plantão no corredor e esta lhe informou que seu crachá estava errado, que ele não podia circular pelo hospital àquela hora como visitante. Ele explicou o que aconteceu e a mulher logo identificou a situação, referindo-se a Noah como "o paciente da doutora Evelyn". Aproveitando que ela parecia estar a par das coisas, o rapaz decidiu perguntar como Noah estava e tentar conseguir mais alguma informação além das que a irmã lhe dera.

— Ele tá se recuperando bem — ela disse. — O Noah é um menino muito esperto. Se as pessoas soubessem identificar os sintomas de um infarto e corressem pro hospital, muita gente ia deixar de morrer por causa disso.

— Você sabe me dizer quando ele vai ter alta?

— Ele ainda está em observação; deve ficar aqui por mais uns dois ou três dias, pelo menos. O implante de marca-passo é bem simples, mas o quadro dele é complicado; é bom ele ficar aqui mais um tempo, ver como estão os exames...

Talvez ela não pudesse dizer mais do que aquilo, mas ouvir que ele estava bem já era alguma coisa.

Depois de trocar de crachá, Liam foi para o refeitório se alimentar e pensar, pensar, pensar mais um pouco. No quase-silêncio hospitalar, ele começou a tentar encaixar as peças, mas não conseguiu alcançar nenhuma combinação certa. O fato de Noah ter uma doença cardíaca não explicava os últimos acontecimentos. Por que ele mentiu? Por que usou Evelyn naquele plano terrível para afastar o namorado de sua vida? Ele achou que Liam não ficaria do seu lado se soubesse? que o abandonaria? Ou pensou que morreria e seria melhor acabar tudo de uma vez? Nada justificava aquela atitude; nada. E, quanto mais tentava chegar a alguma conclusão, mais nós a cabeça criava. O melhor a fazer era não tirar conclusões e conversar com quem tinha as respostas certas: Noah ele mesmo e o cardiologista.

A noite foi de espera. De volta ao apartamento, Liam passou o resto da madrugada pesquisando, na internet, sobre doenças do coração, doença de Chagas, miocardiopatia, tipos de miocardiopatia, sintomas, marca-passo, arritmia, isquemia, caquexia, insuficiência cardíaca, insuficiência renal, insuficiência respiratória, transplante de órgãos, pós-operatório, infecção hospitalar, compatibilidade sanguínea, tudo que o Google deu como resultados relativos ao quadro de Noah; e esses resultados faziam tudo parecer, ao mesmo tempo, muito fácil e muito complicado. Quando deu por si, o dia já estava clareando: cinco e cinquenta da manhã.

Às sete em ponto, Inácio abriu a porta do quarto e cumprimentou o rapaz à distância. Este se levantou e foi até o ex-sogro devagar. Saiu do quarto e apertou a mão dele, desejando-lhe bom dia.

— Como você tá? — o mais velho perguntou.

— Uma bagunça... Mas menos preocupado por saber que ele tá aqui agora, sendo cuidado e em segurança.

— É... Foi tudo muito rápido; ainda bem que a sua irmã te avisou... A gente pensou que ele tivesse te contado.

— Não, só fui descobrir ontem.

— Tsc, o Nuno é teimoso... — Inácio respirou fundo. — Bom, tá muito cedo pra gente falar disso. Pode ir pra sua casa descansar agora; eu vim pra ficar com ele. À tarde a Rita vem. Você pode ficar com ele amanhã, se quiser.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora