Capítulo 11, parte 2

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É HOJE! É HOJE! É HOJE!


A overdose de testosterona e de aprendizagem do final de semana se encerrou por lá mesmo. Artur satisfez sua curiosidade, tirou suas conclusões, foi grato pela solicitude de Liam e, depois, tudo voltou a ser como era.Naturalmente, tendo atravessado algumas barreiras expressivas da Intimidade, se tornaram muito mais amigos do que eram, e nem eram assim tão íntimos: começaram a se falar por causa de um jogo e logo as coisas escalaram rápido até atingir aquele cume inusitado e de motivos tão avessos. Nem se Liam quisesse, desde o começo, se envolver com o vizinho os eventos teriam se desenrolado daquela forma;foi tudo um encaixe de peças meticuloso; e, depois de tudo que aconteceu, só uma coisa, efetivamente, mudou: vez ou outra Liam ganhava um selinho de despedida quando terminavam a sessão de jogos eletrônicos que nunca deixaram de jogar juntos. No mais, tudo seguiu de onde parou, como se o momento em que Artur começou a digressionar sobre relações homossexuais, naquela noite em que contara a Liam sobre Paula, tivesse sido apenas um parêntese que, agora, fechava.

***

Julho acabava de começar. Passados três meses desde a separação, Liam ainda se sentia um pouco convalescente. Sabia que Noah fora o grande amor de sua vida eque jamais o esqueceria—e tampouco amaria outra pessoa com a mesma intensidade—, não importa o que acontecesse. Tentando acreditar que aquele estado de derrota passaria aos poucos, conseguia ir colocando a vida de volta nos eixos. Voltou a fazer a barba e à academia (por insistência de Téo), diminuiu a carga pesada de trabalho que pusera sobre si mesmo para poder ter mais tempo para gastar consigo e com quem se importava com ele. Reaprendeu a ser feliz. O aprendizado era lento, mas não impossível.

Na primeira semana do mês, estava com Alberto almoçando no shopping. Queria falar com opai sobre o pagamento do financiamento do bar, mas este torceu os beiços e só disse: "Ano que vem a gente fala sobre isso".Agitando a taça para misturar o açúcar com o suco de limão, ele mudou de assunto: 

— Sua mãe disse que quer te ver.

Há muitos, muitos dias, talvez semanas, Liam não tinha notícias da mãe, e nem mesmo sentia vontade de vê-la.

— Não sei — ele respondeu.

— Ela é sua mãe,apesar de tudo, Liam.

— Isso nunca fez muita diferença.

— Porque você estava ali, o tempo todo; agora é diferente! Já faz três meses que ela não te vê!

— E pra que ela quer me ver agora? Pra me perguntar se não é só uma fase? se eu já não virei homem de novo?

— Não seja tão cruel. Acho que você devia dar a ela uma chance. Por que você não vai ao Prêmio, no sábado agora?

— Que prêmio?

— O Zênite Social; a festa deste ano vai ser no sábado agora. Você bem que —interrompeu-se bruscamente e, fazendo uma careta, balançou a cabeça e a mão que não segurava a taça. — Não, não, não, esquece oque eu falei.

— Por quê?

— É melhor você não ir.

— Mas por quê?

Os segundos que Alberto levou para formular a resposta foram os mesmos que Liam gastou para gerar a conclusão óbvia, pelo nome do evento e pela esquiva do pai:

— Ele vai estar lá,né?

O silêncio de confirmação foi a resposta que fez um frio subir pela barriga e morrer na garganta de Liam, que ouviu naquelas palavras a possibilidade de, depois daqueles dias de cão infinitos, reencontrar aquele que partiu seu coração tão terrivelmente.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora