Capítulo 13, parte 2

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— Ah, não... — Alberto lamentou. — Liam...!

Teodoro Rodrigues dos Santos. Téo.

— Liam, tá me ouvindo? — Noah chamou.

Liam emudeceu por dez segundos. Seu mundo interior foi tomado de um silêncio fúnebre, que calou seus pensamentos e encheu seu coração com uma mistura homogênea, mas não igualitária, de alegria e dor. Alberto se aproximou e abraçou o filho de lado, acariciando-lhe o ombro; os olhos se encheram de lágrimas silentes.

— Liam?!

— Oi, bê... Tô aqui — a voz fraquejou.

— Você ouviu o que eu disse?!

— Ouvi, ouvi sim... Eu posso te ligar daqui a dez minutos?

— O que foi? O que aconteceu?

— Daqui a pouco eu te ligo, tá?

— ...Tá bom.

Desligou. As lágrimas de tristeza se misturavam com as de esperança e traziam à emergência um sentimento terrível de sentir. Noah estava certo afinal: para que ele vivesse, alguém teria que morrer, e Liam jamais imaginara que seria Téo, seu melhor amigo, o sacrifício necessário para que a jornada continuasse. Os dois extremos da existência, vida e morte, se chocavam de forma tortuosa naquele dia. Era impossível encontrar consolo, mesmo no abraço fraterno do pai e no silêncio condolente dos empregados, que olhavam sem entender muito do que estava acontecendo.

— O coração do Téo vai pro Noah...! — Liam disse em meio aos soluços daquele sentimento sem nome.

Os olhos se arregalaram e os arfares tomaram a sala de estar.

— Como você sabe?

— Era ele no telefone, disse que apareceu um coração compatível, só pode ser o do Téo!

— Mas... também pode não ser!

— Ele tá há mais de dez meses na fila, pai, é coincidência demais isso acontecer justo hoje, agora!

Era difícil reagir à notícia agridoce; não tinham tempo para reagir. Se Noah já fora informado de que um coração compatível estava disponível, decerto a família de Téo também havia sido contatada e estava de acordo com a doação. A família! A família! Liam tinha de falar com eles, oferecer-lhes seus sentimentos e a ajuda de que precisassem, mas Noah deveria estar na sala de operação antes do entardecer, pelo adiantado da hora, haja vista que um coração não pode ficar fora do corpo por mais de seis horas!

Iniciou-se uma fria corrida contra o tempo, fria porque os sentimentos deveriam ser deixados de lado enquanto a poeira não assentasse. Liam enterrou suas emoções por um instante e ligou de volta para Noah, que ainda não sabia que o coração que receberia era o de Téo; era melhor que ele não soubesse, mesmo; não seria bom para ele saber disso agora. Pelo telefone, Noah, que nem do assalto sabia, estava radiante! Liam tentava acompanhá-lo em sua alegria, mas era difícil demais disfarçar o luto.

— Onde você tá, bê?

— Eu tô dentro do táxi, quase chegando no hospital. Entro na sala de operação daqui a mais ou menos uma hora.

— Você já falou com os seus pais?

— Sim, eles 'tão vindo também, mas não sei se vão chegar a tempo de eu falar com eles... Queria te ver.

— Claro, eu tô indo pr'aí agora.

— Tá... A gente se fala no hospital, então.

— Tá bom. Beijo.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora