Conforme esperado, o episódio da noite anterior não mudou absolutamente nada entre os rapazes. Quando se falaram no domingo, comentaram o ocorrido com naturalidade, e Artur acrescentou à moral da história um dizer importante: "Eu não sou veado, não, mas seu beijo é melhor que o da Paula", o que envaideceu Liam deveras.
Aproveitando o gancho, mas sem outras intenções, este convidou o vizinho para a sessão de cinema que pegaria com os amigos naquela noite. Sem muito questionar, Artur, que não tinha nada mais interessante para fazer naquele dia tedioso, aceitou o convite, e, desta vez ao contrário do esperado, retomou o passatempo da madrugada de sábado desde dentro do elevador, sob a justificativa de que aquilo fora bom demais para acontecer só naquela madrugada e nela permanecer esquecido. Liam, que não tinha nada a perder e gostava de beijar o outro igualmente, não se opôs, mas também não conseguiu enxergar aquela situação de outra maneira que não com graça.
No cinema, ao encontrar os outros, apresentou Artur como amigo e vizinho, e o olhar de Téo não pôde disfarçar a frustração de se sentir o solteirão do grupo, que agora tinha dois "casais" mais ele, o castiçal. Nicole e Túlio pareciam ótimos, muito felizes, sintonizados. Artur não entrosou muito; era o caçula do grupo e nunca tinha visto aquelas pessoas, então demorou um pouco para se enturmar.
Entraram na sala escura assim que a passagem foi liberada. Liam esperou pelo vizinho, que, tendo sido chamado de última hora, não comprou o ingresso com antecedência. Por isso, quando entraram, a sala já estava cheia e os dois se perderam dos outros três, que certamente encontraram poltronas ao lado uma da outra para se sentar.
— Foi mau, eu devia ter comprado o ingresso mais cedo, pela internet...
— Tsc, relaxa, eu mando mensagem pra eles daqui a pouco. Vamos subir antes que a gente tenha que se sentar na primeira fila.
Subiram alguns degraus e foram encontrar assentos vagos só na parede esquerda: duas poltronas esperando por eles. Melhor do que nada.
Sentaram-se e se puseram a comentar sobre as coisas.
— Essa é a sua ex?
— Uhum.
— E você trocou ela por um cara?
— Como é que cê reduz o negócio assim? Eu me apaixonei pelo cara, né? Não foi "enjoou-trocou".
— Mas ela é bem gata.
— Claro que é; eu tenho bom gosto pras coisas.
— Seu amigo, Téo, é veado também ou não?
— Não, não, nem um pouco.
— Mas ele sabe de você?
— Sabe.
— Já pegou ele?
— Artur, cê tá pensando que eu sou o quê?
— Ué, não sei; vai que já rolou? Você corta pros dois lados, tem o dobro de chances de se dar bem.
Conversavam baixo, mas quem prestasse atenção ouviria e entenderia aquele diálogo atípico. As vozes eram muitas, porém, e cada uma delas fazia parte de um coro particular, no qual certamente outras narrativas absurdas eram compartilhadas. Não compraram pipoca, pois, segundo Artur, ele não estava disposto a deixar um braço e uma perna na lanchonete em troca de algo que ele poderia fazer em casa pagando uma mixaria; Liam concordou—mas tinham barrinhas de chocolate escondidas nos bolsos.
O filme escolhido foi Transformers 4: A Era da Extinção. Téo era quem gostava dessas coisas, além das crianças e dos adolescentes. Liam não se importava; preferia se distrair com outras coisas, mas valia a pena o tempo que passaria com os amigos—o mesmo se aplicava a Artur. Nas poltronas acima, sentaram-se dois moleques muito agitados, que, sentindo-se donos da sala, entretinham seus pés inquietos empurrando as poltronas da frente como se elas estivessem vazias. Um
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Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)
Romance::: LIVRO COMPLETO! ::: Liam é um jovem bon vivant que caminha em uma realidade diferente da maioria das pessoas: herdeiro do quarto maior banco privado do país, sua vida é cercada de luxo, festas e extravagâncias. Acontece que, vez ou outra, o dest...