Capítulo 11, parte 1

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Conforme esperado, o episódio da noite anterior não mudou absolutamente nada entre os rapazes. Quando se falaram no domingo, comentaram o ocorrido com naturalidade, e Artur acrescentou à moral da história um dizer importante: "Eu não sou veado, não, mas seu beijo é melhor que o da Paula", o que envaideceu Liam deveras.

Aproveitando o gancho, mas sem outras intenções, este convidou o vizinho para a sessão de cinema que pegaria com os amigos naquela noite. Sem muito questionar, Artur, que não tinha nada mais interessante para fazer naquele dia tedioso, aceitou o convite, e, desta vez ao contrário do esperado, retomou o passatempo da madrugada de sábado desde dentro do elevador, sob a justificativa de que aquilo fora bom demais para acontecer só naquela madrugada e nela permanecer esquecido. Liam, que não tinha nada a perder e gostava de beijar o outro igualmente, não se opôs, mas também não conseguiu enxergar aquela situação de outra maneira que não com graça.

No cinema, ao encontrar os outros, apresentou Artur como amigo e vizinho, e o olhar de Téo não pôde disfarçar a frustração de se sentir o solteirão do grupo, que agora tinha dois "casais" mais ele, o castiçal. Nicole e Túlio pareciam ótimos, muito felizes, sintonizados. Artur não entrosou muito; era o caçula do grupo e nunca tinha visto aquelas pessoas, então demorou um pouco para se enturmar.

Entraram na sala escura assim que a passagem foi liberada. Liam esperou pelo vizinho, que, tendo sido chamado de última hora, não comprou o ingresso com antecedência. Por isso, quando entraram, a sala já estava cheia e os dois se perderam dos outros três, que certamente encontraram poltronas ao lado uma da outra para se sentar.

— Foi mau, eu devia ter comprado o ingresso mais cedo, pela internet...

— Tsc, relaxa, eu mando mensagem pra eles daqui a pouco. Vamos subir antes que a gente tenha que se sentar na primeira fila.

Subiram alguns degraus e foram encontrar assentos vagos só na parede esquerda: duas poltronas esperando por eles. Melhor do que nada.

Sentaram-se e se puseram a comentar sobre as coisas.

— Essa é a sua ex?

— Uhum.

— E você trocou ela por um cara?

— Como é que cê reduz o negócio assim? Eu me apaixonei pelo cara, né? Não foi "enjoou-trocou".

— Mas ela é bem gata.

— Claro que é; eu tenho bom gosto pras coisas.

— Seu amigo, Téo, é veado também ou não?

— Não, não, nem um pouco.

— Mas ele sabe de você?

— Sabe.

— Já pegou ele?

— Artur, cê tá pensando que eu sou o quê?

— Ué, não sei; vai que já rolou? Você corta pros dois lados, tem o dobro de chances de se dar bem.

Conversavam baixo, mas quem prestasse atenção ouviria e entenderia aquele diálogo atípico. As vozes eram muitas, porém, e cada uma delas fazia parte de um coro particular, no qual certamente outras narrativas absurdas eram compartilhadas. Não compraram pipoca, pois, segundo Artur, ele não estava disposto a deixar um braço e uma perna na lanchonete em troca de algo que ele poderia fazer em casa pagando uma mixaria; Liam concordou—mas tinham barrinhas de chocolate escondidas nos bolsos.

O filme escolhido foi Transformers 4: A Era da Extinção. Téo era quem gostava dessas coisas, além das crianças e dos adolescentes. Liam não se importava; preferia se distrair com outras coisas, mas valia a pena o tempo que passaria com os amigos—o mesmo se aplicava a Artur. Nas poltronas acima, sentaram-se dois moleques muito agitados, que, sentindo-se donos da sala, entretinham seus pés inquietos empurrando as poltronas da frente como se elas estivessem vazias. Um

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora