Capítulo 5, parte 2

11.9K 1.1K 163
                                    

Durante os dias que seguiram, Liam e Noah não se falaram muito. Trocaram algumas mensagens pelo celular, não tocaram mais em assuntos sensíveis e mantiveram o clima de ternura e cortesia que circunda os seres apaixonados. Noah dera entrada nos procedimentos administrativos no banco e logo começou a organizar como os primeiros recebimentos seriam gastos, por isso sempre estava em uma reunião com Benjamin ou demorava a dar sinal de vida. E nesse momento a existência de Liam já havia se tornado uma espera: a todo instante, esperava que o celular vibrasse com uma mensagem; Noah havia se tornado o plano de fundo de sua mente inquieta.

Conforme as horas passavam, uma sensação de angústia começava a tomar conta de seu coração, como nuvens negras de tempestade que encobrem um céu de primavera. Sexta-feira, nove da noite. Na semana anterior, um aniversário na família da garota impediu que ambos se encontrassem, mas, desta vez, não havia escapatória: Liam, Téo e Nicole iriam a um barzinho chique no centro da cidade — com show ao vivo, mas não de strip-tease. Liam já estava pronto. Sem delongas, foi direto para a casa de Nicole, onde encontrariam Téo para, de lá, seguirem.

— Oi, meu bem! Que saudade!

Nicole envolveu o namorado em um abraço pelo pescoço.

— Você sumiu! A gente quase não se falou essa semana! Como você tá?

Era verdade. Liam havia praticamente se esquecido de que Nicole existia. Tudo que existia em sua mente era Noah; ninguém mais.

— É, acho que andei meio adoentado essa semana... Uma dor de cabeça chata, indisposição... Fiquei mais na minha. Mas eu tô bem, sim, e você?

— Bem também. Tava com saudade.

Então Nicole se inclinou para um beijo do qual Liam não poderia se esquivar. Sem ter escolha, o rapaz correspondeu, mas algo naquele beijo parecia terrivelmente errado. Uma amargura que não atingia só o paladar, mas também o espírito, percorreu os sentidos do jovem, que se livrou daquilo o mais rápido que pôde, sem deixar a companheira perceber que seu gesto não era querido.

— Eu vou terminar de me arrumar. Se o Téo chegar, você abre o portão pra mim?

— Claro.

— Tá bom. Eu já volto.

E foi para o quarto. Liam se sentou no sofá e cruzou as mãos atrás da nuca, recostando-se. Seus pensamentos estavam longe dali, e aquela noite tinha tudo para ser muito, muito longa. Pouco depois, Téo chegou, buzinando com a moto. Liam foi recebê-lo.

— E aí, bonitão? — Téo desceu da moto enquanto o amigo fechava o portão.

— Eu tô na merda, cara...

Trocaram um breve abraço.

— Por quê? O que houve?

— Sei lá, meu, uma coisa ruim no peito, uma sensação de que, quanto mais a noite passa, mais apertado fica esse nó na garganta que me dá só de pensar nele...

— “Nele” quem? O rapaz que você ia comer?

— Não fala assim; ele tem nome: Noah. E é, ele mesmo.

— Nossa, bro! Mas a coisa tá tão séria assim?

— Eu tô de quatro por esse cara, Téo.

— Uau! Então é ele que vai te comer...

— Para, Téo, eu tô falando sério.

— Liam, brother, você sabe o que eu acho disso tudo: cuidado com a Nicole.

— Esse é o problema! Eu não posso terminar com ela agora, assim, do nada, ainda mais por causa de um cara! E agora há pouco ela veio me beijar e, meu, foi péssimo. Me ajuda, Téo. O que que eu faço?

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora