E assim as coisas foram progredindo, devagar e sempre. Tentando se desprender o máximo possível da barra das calças do pai, Liam foi tomando controle da situação na medida de suas capacidades; mas isso também aconteceu aos poucos, bem poucos. Conversou com Alberto sobre o prédio que vira na Avenida das Paineiras e sobre a venda de sua Mercedes.
- Você vai vender seu carro?! - ele mal acreditou quando ouviu essas palavras saírem da boca do filho.
- Vou. Já até anunciei na internet.
- Mas por quê? Esse carro é seu dodói desde que você o viu pela primeira vez!
- Acho que o dodói já sarou. Preciso mais do dinheiro do que do carro; 150 mil áureos[1] é muito dinheiro.
- E você vai ficar sem carro?
- Não, vou dar entrada em um mais barato... Preciso fazer as contas ainda.
Alberto sorveu um longo gole de chocolate quente enquanto o filho organizava dados em uma planilha no laptop. Estavam no escritório da mansão discutindo longamente a burocracia que estava por vir.
- Eu posso te dar um carro - Alberto disse.
- Eu não quero - a resposta foi imediata.
- Por que não?
- Já tenho dívida o bastante pra pagar com você pelos próximos meses, talvez anos.
- Falei em te dar um carro, não em te vender um.
Liam continuava concentrado na tela.
- Hum... Melhor não.
O vento soprava escritório adentro e esfriava o chocolate de Alberto, que se levantou e, com as mãos no bolso, seguiu vagarosamente até a janela aberta, pondo-se a contemplar as distantes luzes da cidade.
- Sabe...?
Disse após um longo suspiro, como se conversasse com alguém à sua frente, mas se dirigindo ao filho, que esperou pela continuação da pergunta, que não veio.
- Sei o quê?
Ainda olhando para fora, Alberto não respondeu; manteve o olhar sob as nuvens negras e, calado, disse mil palavras que nunca havia dito.
- Fala! - Liam insistiu.
Em vão. Como quem volta de um pensamento turvo, Alberto sacudiu a cabeça e fungou ao recobrar o raciocínio. Saiu da janela e respondeu apenas
- Não, nada.
Pegou a caneca quase vazia sobre a mesa para levar à cozinha e anunciou:
- Vou me deitar; depois nós conversamos mais.
- Boa noite.
Sozinho no escritório, Liam continuou a trabalhar. Naquela semana, havia começado a entrar em contato com os profissionais que o pai lhe indicara. Falou com uma arquiteta, com quem se reuniria em breve para uma visita ao prédio do futuro bar, aguardava retorno do engenheiro e o contador de Alberto seria também seu contador.
Passados exatos doze dias, conseguiu um comprador para sua Mercedes. Pensou ter sido a rapidez do negócio fruto do anúncio na internet e nas redes sociais, mas enganou-se: foi o networking do pai que lhe rendeu o bom negócio: um empresário cinquentão que gostava de customizar automóveis de luxo. Uma barganha. Com o dinheiro em mãos, a primeira coisa que Liam fez, após agradecer o pai assim que descobriu sua mão divina por trás da venda, foi entrar em contato com o homem grisalho do prédio e selar a compra da casa. Foram, na mesma semana, ao cartório assinar um contrato de compra e venda; alguns dias depois, retornaram para finalizar os trâmites legais. Ao final do mês, Liam era proprietário do número 645 na Avenida das Paineiras.
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Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)
Romance::: LIVRO COMPLETO! ::: Liam é um jovem bon vivant que caminha em uma realidade diferente da maioria das pessoas: herdeiro do quarto maior banco privado do país, sua vida é cercada de luxo, festas e extravagâncias. Acontece que, vez ou outra, o dest...