Capítulo 1, parte 2

26.3K 1.9K 600
                                    

Os planejamentos geralmente começavam nas quintas-feiras. Como tanto Téo quanto Nicole eram relativamente atarefados, sobrava para Liam a incumbência de encontrar o local da próxima noitada — não que ele se importasse, é claro. A essa altura da jornada da vida, as opções eram poucas. Quando isso acontecia, o jovem pedia ajuda a Téo. Deitado em sua cama, com as pernas para o alto, TV ligada e uma mão dividindo atenção entre o controle da TV e a tela touch screen do celular, Liam se lembrou de que um conhecido comentara sobre um bar com shows de striptease ao qual a turma ainda não havia comparecido. Saiu da tela do jogo estúpido que jogava no celular e buscou o telefone de Téo na agenda.

— Alô.

— Fala, Téo. Pode conversar agora?

— Posso sim. E aí? Como cê tá?

— Tudo na paz, e contigo?

— Também. O que que cê manda?

— Rapaz, tô dando uma olhada nuns lugares pra gente sair esse final de semana. Lembrei de alguém ter falado de um bar com show de strip lá perto do centro, cê sabe onde é?

— Acho que sim... Se for o mesmo que eu ouvi falar, parece ser boa coisa.

— Pode ser lá, então, esse final de semana?

— Ué, por mim, sim, mas tem que ver com a Nicole, né? O striptease é feminino...

— Ah, a Nicole é de boa; não liga pra essas coisas.

— Bom, vê com ela aí. Se não tiver problema, por mim tá tudo bem também.

— Beleza. Vou descobrir aqui onde fica e depois te envio uma mensagem pra confirmar.

— Falou.

Téo era quem geralmente tomava partido por Nicole. Não que ele fosse interessado por ela; não era, de forma alguma, mas Liam por vezes a tratava com um quê de desdém, tomando por garantido que ela sempre concordaria com o que ele quisesse ou decidisse. Talvez um bar com show de striptease não fosse a xícara de chá da garota, mas, se Liam decidisse, estava decidido.

Os finais de semana geralmente funcionavam assim: encontravam-se todos na casa de Nicole. Lá, Téo guardava sua moto; então partiam os três rumo a onde fossem no carro importado vermelho de Liam, que, na maioria das vezes, era quem mais bebia. Na volta, Téo, sóbrio, trazia-os de volta à casa de Nicole no carro de Liam — sempre temendo batê-lo, embora nunca bebesse quando saíam juntos por ser sempre o motorista da rodada —, pegava sua moto, voltava para casa e deixava o casal ter seus momentos de intimidade em paz. Isso, naturalmente, quando Liam se encontrava em condições suficientes para cumprir com suas obrigações de namorado. Nem sempre o estado ébrio era justificativa o bastante para seu não-querer; é que Nicole já não o atraía tanto quanto anos atrás. O passar do tempo cuidava de fazer o desejo esmorecer, e o de Liam estava a ponto de se apagar.

Em virtude disso, aconteciam, vez ou outra, algumas puladas de cerca, das quais Nicole não tomava ciência. O fato de a garota estudar e trabalhar somado à vida de ócio de Liam sempre resultava em excelentes oportunidades para procurar encontros fortuitos com quem quer que se interessasse por uma hora ou duas de sexo casual com um jovem milionário de carro vermelho. As vantagens para Liam eram muitas e, por isso, seu jogo era fácil: olhos azuis, uma beleza extraterrena, dinheiro, lábia... Além disso, a garantia de diversão passageira era duplicada por Liam se satisfazer com quem quer que se satisfizesse com ele, fosse mulher ou homem. Poucas pessoas sabiam disso, contudo, Téo sendo uma delas. Em sua estadia na Inglaterra, Liam descobriu que há certas coisas que, ao que lhe parecia, rapazes sabem fazer melhor do que garotas, e isso lhe entusiasmou desmedidamente. Depois de algumas experimentações, descobriu também que havia partes do corpo masculino que o apeteciam. Todavia, nunca fez disso grande coisa: tinha assuntos mais importantes com que se preocupar do que "Que classificação devo me dar sabendo que transo com mulheres e homens?". A lista de coisas com que Liam não se importava era longuíssima; minúcias sobre suas preferências sexuais figuravam próximo ao topo.

Se Eu Tivesse um Coração (romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora