Ícaro Ross é um daqueles caras atraentes, de sorriso encantador e..hipócrita em cada palavra que sai da sua boca.
Ele é querido por seus amigos e deixa a mãe e os professores orgulhosos,mas Ícaro só consegue essa proeza porque é duas pessoas ao mesm...
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Quando meu tênis toca o chão do corredor,todo mundo acende um holofote.
Eu costumava gostar disso,caramba e como eu gostava,mas esses holofotes são diferentes,o tipo de atenção é diferente.
Já faz uma semana que isso acontece.
E no final das contas,tudo o que eu queria era dar a volta pelo gramado e tomar suco ruim da cantina com Mike,Lizzie,Lauren e Cynt.
Deixo as coisas boas para a imaginação e as lembranças,porque no final das contas estou caminhando a passos largos até a mesa dos meus falsos amigos. Difícil é reconhecer o que é mais terrível: estar sozinho,vulnerável sem nenhum bando,ou saber que nenhuma dessas pessoas é minha amiga de verdade,ou se importa comigo..
É falso? Óbvio,mas pelo menos eu ainda tenho um lugar na mesa deles.
- Ick-garganta! Aí está você!
O comentário simpático é do Kurt,ele é da turma de música,e se não fosse um cara bonito e alto, provavelmente seria motivo de chacota,mas fazer o quê? Nenhum adolescente controla a aprovação dos hormônios. Kurt me segura pelos ombros e me coloca no canto do banco,perto da lixeira.
- Aqui estou eu.
É uma punição claro,me aceitam de volta mas precisam me castigar para manter o controle do grupo,a única diferença deles para os meus antigos amigos é que fazem as punições de uma forma mais passivo-agressiva. Bando de artistas medíocres e falsos.
- Nós sentimos muito pelo o que aconteceu na festa Ravi.
Ah a Beth,sempre trocando meu nome por algum nome indiano e raso da cultura pop só porque meu pai tinha tal descendência e eu sou,bem,a cópia dele.
- Obrigado Berta.
Abro um sorrisinho maldoso,eu sempre troco o nome de Beth como retaliação, consigo até ver seu olho direito tremer de nervoso,ela é bem sistemática,da turma dos nerds descolados,como se computação pudesse ser descolado.
- Mas você não deveria ter bebido tanto, praticamente pediu para aqueles retardados gravarem você. - Chloe,a única líder de torcida aqui, lixa as unhas enquanto fala.
Cerro os punhos por baixo da mesa,como podem ter essa cara de pau tão grande? Eles gravaram tudo também. Filhos da..
- Todo mundo estava bebendo Chloe - retruco - Podia ser qualquer um no meu lugar.
- Mas foi você - ela rebate - e quando alguém dá mole, infelizmente é o alvo das pessoas.
- Ela está certa amigão - Kurt bate no meu ombro - é assim que as coisas são.
- O colégio é difícil para todo mundo,e todo mundo tem que aprender a lidar com ele.
- Afinal - Beth abre um sorriso irritante - todos somos iguais e recebemos as mesmas consequências.
- É complicado pra quem vacila.
De repente eu me sinto prestes a afogar em areia movediça,olho para o rosto de cada um desses babacas e percebo que eles não se parecem com o antigo Mike,nem com a crueldade do Frank,nem com a força bruta do Tony...
..essas pessoas,esses adolescentes hipócritas, superficiais e de fala mansa se parecem exatamente..comigo.
É como ver vários reflexos diferentes de mim mesmo,o mais assustador é que eu procurei por isso,procurei por semelhantes tão ruins quanto realmente sou.
Não é o glamour, é a identificação,é a pior de todas as identificações.
- Então é um vacilo ter uma crise de ansiedade? - pergunto,furioso e magoado - É tipo uma coisa mecânica que dá pra controlar? Sério?
- Ah qual é cara,sabemos que é um problema emocional e tal,mas convenhamos,você queria chamar atenção.
- Não,eu queria ajuda,é diferente.
- Nossa tudo é sobre isso hoje em dia,mas que saco.
Solto uma risada amarga,Beth fez um trabalho sobre saúde mental há dois dias,ela ensaiou as lágrimas e falou sobre o trauma dos pais separados e blá blá blá,mas uma grande pilantra que não liga para a dor de ninguém além da própria.
Eu sei,porque sempre fui igualzinho e continuo sendo..
- Não foi certo o que fizeram,ponto final. - concluo.
- Claro que não foi certo né cara? - Kurt dá de ombros - mas o colégio é uma selva,há perdedores,vencedores e cada um tem que aprender a se virar.
Caramba é como ouvir a minha voz nas palavras dele,que bizarro..e doloroso.
- É fácil pra você dizer essas coisas não é? - indago - é fácil pra um vencedor dizer que é assim que o colégio funciona,porque ele funciona só pra gente como você.
- Qual é Ick-garganta,só to dizendo a realidade.
- E a realidade só é desse jeito porque todo mundo deixa essas merdas acontecerem,as realidades não se constroem do nada.
Estou sendo um idiota? Talvez, vou ser expulso do grupo se eu continuar falando que nem um justiceiro social? É,com certeza.
Mas eu não consigo parar de falar,nem de lembrar que eu estava à beira de um colapso e ninguém se importou,por causa do que os outros pensariam se eles se importassem.
- Relaxa aí índia-boy.
- Não me manda relaxar que meu nome é Ícaro,e você é uma racista escrota Beth.
- Eu?! Eu nunca..
- Fala isso sério né? Porque você é uma hipócrita que só diz o certo na frente de quem você precisa de aprovação. Eu sei o seu jogo,sempre foi o jogo que eu joguei. Berta.
- S-seu..
- Ok Ick-garganta - Kurt aperta meu braço,a voz simpática e medonha ao mesmo tempo - você tá passando dos limites,você não quer fazer isso.
Levanto da mesa com rispidez,me solto do tocador medíocre de violão e coloco a mochila de volta nos ombros.
- Na verdade mano,eu quero sim.
- O que? Você enlouqueceu?
- Sabe que vai direto pro fundo da cadeia alimentar né?
Abro um sorriso,largo e esquisito, esquisito porque estou muito ferrado nessa merda de escola,e largo porque sinto placas de concreto sendo tiradas dos meus ombros.
- Sei,sei mesmo.
- Mas..
- E não tô nem aí.
Derrubo uma das caixas de leite da mesa desses otários e lhes dou as costas.
Todos olham para mim,os holofotes me atingem com a força de uma estrela maior que o sol.
Mas continuo andando para fora do refeitório,ignorando todas as luzes cegantes e ruins. Ignorando uma parte obscura de mim que ainda quer voltar,essa parte nunca mais vai vencer.