• Hospitais,passado e macarronada Ross •

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Os lábios da enfermeira pronunciam um "vai ficar tudo bem" como se estivéssemos em câmera lenta

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Os lábios da enfermeira pronunciam um "vai ficar tudo bem" como se estivéssemos em câmera lenta. Meu cérebro ainda está atordoado o bastante pra pensar em coisas estúpidas.

"Por que as paredes de hospitais são brancas e não azuis,ou verde?

"Estou cheirando a sal"

"Ela passou tanto laquê no cabelo,parece banha de porco."

"Papai quase morreu hoje".

Pisco os olhos,dando mais atenção a última frase.

"Papai quase morreu hoje."

Essa não foi a primeira vez,eu não deveria estar nesse topor mórbido.
Esse final de dia também não deveria estar acontecendo. Não quando a primeira parte foi tão maravilhosa.

A enfermeira de cabelos grisalhos continua falando, algo sobre sua filha mais velha. Uma pessoa de fora diria que pareço extremamente concentrada,mas o brilho sutil nos meus olhos denuncia os flashes de hoje mais cedo.

Ícaro,eu e o oceano. Ícaro,eu e seus beijos intensos que me deixam intensa também.

Pensar em nossa fuga romântica quase me faz esquecer que meu pai está numa cama de hospital,com um dos pulsos costurados.

A enfermeira para de falar e dá dois tapinhas em meu ombro - grande consolo - e abre aquele sorriso detestável,o sorriso da pena.
Ela se retira,fazendo-me agradecer aos céus. 

Ando a passos curtos até o garoto de cabelos bagunçados,sentado na cadeira da recepção com a expressão preocupada.

Mas,de repente,ele não parece meu Ícaro.

Aquela figura masculina acende minha mente feito pólvora,os xingamentos, humilhações,vergonha e lágrimas surgem mesmo sem convite. Começam a me queimar,como fogo.

Baleia.

Porca.

Bola de gosma.

Insuportável.

Insuficiente.

Otária.

Tenho a sensação que ele vai se virar e rir da minha situação,rir do meu pai depressivo,rir da minha preocupação,da minha dor.

Vai pro inferno Ícaro Ross,eu te odeio,eu te odeio.

-  Oi..comprei café. - Ícaro interrompe meus pensamentos,sorrindo de forma gentil.

- Obrigada Ick. - pego o copo de café e me sento na cadeira ao lado.

Céus,acho que vou ter um ataque cardíaco.

- Seu pai vai..ficar bem?

É uma pergunta estúpida,reprimo a vontade de revirar os olhos.

- Vai sim. - respondo,educada - já aconteceu antes. 

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