🌻Capítulo 25🌻

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Deixo o Salvatore no banheiro e vou para o closet para escolher uma roupa. Coloco um short de moletom preto, uma blusa branca de mangas curtas e um chinelo da Fila rosa. Deixo o meu cabelo solto mesmo e desço. A Anna deve estar na sala ou no quintal, provavelmente. Desço e o primeiro lugar em que eu a procuro é a sala de estar, ela não está lá. Caminho até a cozinha e também não a encontro. Abro a porta deslizante para o quintal e a imagem que eu vejo me faz rir. Anna está deitada em uma das espreguiçadeiras perto da piscina tomando um copo de suco de laranja. Seus pés estão pra fora e ela está balançando eles como se fosse uma criança. Ela está cantarolando uma música qualquer enquanto o serva o nada. Mais relaxada impossível. Caminho até ela e limpo a garganta chamando a sua atenção. Ela sorri para mim e pula da espreguiçadeira ficando em pé.

- Vamos, vamos fazer um lanche e conversar. Quero saber tudo sobre você. - ela fala animada e me puxa para dentro de casa de novo.

Quando estamos na cozinha ela me deixa no balcão e caminha até a geladeira como se soubesse onde fica tudo. Provavelmente sabe já que ela é irmã do Salvatore, mas faz meses que eu moro aqui e nunca vi ela. Isso se deve ao fato de ela ter passado anos morando nos Estados Unidos. Eu quero visitar esse país um dia, deve ser lindo e incrível. Quase não lembro nada do meu país de origem.

- Então, de onde você é? - ela pergunta enquanto procura por coisas no armário. Me animo quando vejo ela pegar o pote de café e colocar perto da cafeteira. Estou doida de vontade de tomar café com leite.

- Eu nasci nos Estados Unidos, vim para a Itália aos quatro anos e nunca mais fui embora. - respondo e me sento na banqueta da ilha da cozinha.

- O Salvatore me disse que achou você na rua. - ela fala receosa e eu travo. Eu sei que é uma informação que com certeza ela receberia, ou qualquer um que perguntasse como nos conhecemos, mas traria uma outra pergunta junto: "onde estão seus pais?".

- Sim. - respondo de forma neutra e começo a brincar os veios da ilha de mármore.

- Eu sei que provavelmente você não quer responder o que eu quero te perguntar, eu não te culparia se não quisesse me responder. - ela começa e respira fundo se preparando para a próxima pergunta. - E os seus pais? - suspiro e fecho os olhos quando escuto. Eu não superei o que aconteceu com eles até hoje e até hoje é doloroso falar sobre isso, desde que eu entrei no orfanato eu era quieta e não falava quando me perguntavam sobre os meus pais. Uma freira que atuava como psicóloga no orfanato tentou fazer com que eu me abrisse e isso só causou pesadelos e ataques de ansiedade, desde então ninguém nunca mais tentou entrar no assunto. Mas guardar tudo isso para mim não é bom. As vezes eu tenho pesadelos revivendo aquele dia horrível. Nunca mais comemorei o meu aniversário.

Respiro fundo e tomo coragem para falar.

- Era o dia do meu aniversário. Tínhamos saído para comer fora e comemorar o meu aniversário de quatorze anos. - faço uma pausa e respiro fundo. Meus olhos estão marejados e as palavras vão ficando cada vez mais embargadas conforme eu continuo. - Estávamos voltando pra casa, estávamos rindo e conversando quando um motorista motorista de caminhão que dormiu ao volante invadiu a pista contrária e bateu no nosso carro. - paro novamente e coloco a mão na boca sentindo os espasmos do meu chorro fazerem o meu corpo estremecer. Uma mão pousa nas minhas costas e eu tomo um susto olhando para trás. Salvatore me olha de novo, seu olhar demonstra compaixão e é esse o tipo de coisa que me mata. - Desculpe. - eu sussurro e escondo o meu rosto com as duas mãos chorando de vez. Os braços de Salvatore me rodeiam e eu sinto ele fazer carinho nos meus cabelos.

- Por que você foi fazer uma pergunta dessas pra ela Anna? Sabe que esse assunto é delicado. Eu mesmo nunca perguntei por saber que era difícil pra ela, porra! - Salvatore ruje irritado e eu o olho espantada. Foi a primeira vez em muito tempo que eu o vi sendo grosseiro ou mesmo falando palavrão.

Anna abaixa a cabeça em derrota e solta um suspiro. Quando volta a olhar para nós seus olhos transbordam culpa e arrependimento.

- Você tem razão, irmão. Desculpe Mel, desculpe de verdade. Não é da minha conta e eu não deveria ter perguntado. - pede com a voz falha e eu vejo que ela também quer chorar. Seu olhar e expressão demonstram toda a culpa e arrependimento que ela está sentindo agora. Eu sei que ela não perguntou isso na intenção de me machucar ou me fazer reviver momentos ruins, ela estava apenas curiosa sobre o meu passado e, a pesar de machucar, é uma coisa a qual eu deveria contar, guardar pra mim só torna pior.

- Você só estava curiosa. - falo depois de me recompor um pouco. Suspiro e tento limpar o meu rosto das lágrimas que estão começando a secar. Respiro fundo tentando me acalmar mais um pouco e coloco a minha mão em cima da de Salvatore que está pousada na minha cintura.

- Após isso eu fiquei meses no hospital.  Minha mãe morreu na hora e meu pai ficou dois meses em cima antes de morrer. Eu fiquei gravemente ferida e mesmo depois de me curar eu ainda fiquei alguns meses me recuperando pois não conseguia caminhar bem, demorou muito tempo até eu conseguir caminhar de novo. - respiro fundo para me acalmar até sentir o choro que estava vindo a tona novamente retroceder.

- Eu sinto muito, Mel. - Anna fala com a voz embargada e toca o meu ombro. - Isso deve ser muito difícil, nem imagino que você sente ou deve ter sentido. - ela respira fundo e olha nos meus olhos com determinação. Seu olhar me transmite força e confiança. - Agora você tem a nós, Mel. Agora você é minha irmã e nós somos uma família. Nunca vamos te abandonar. - Sorrio emocionada e coloco a minha mão em cima da sua que está no meu ombro.

- Obrigada. - ela sorri e me abraça. Suspiro sentido todo o conforto desse momento. Nunca pensei que iria encontrar isso dentro da casa de um mafioso, alguém que eu costumava temer somente de ouvir a mensão do seu nome nas ruas. Ele foi a pessoa que mais me fez bem durante todo esse tempo em que eu estava sozinha. Mesmo quando eu tinha medo ou o rejeitava ele continuava sendo paciente e fazendo apenas o bem para mim. Nunca pensei que estar com um mafioso e fazer parte da famiglia seria tão bom.

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Bjuuuus 😘

Nas mãos de um mafiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora