Solto uma risada ao ver a expressão de Martha ao receber uma cantada de um cliente incoveniente. Ela se vira e me lança um olhar irritado, eu coloco a mão sobre a boca pra tapar o meu sorriso e olho para ela com as sobrancelhas arqueadas.
- Me desculpe senhor, mas nós não nós envolvemos com clientes. - ela explica de forma educada mas eu sei que ela está doida para xingar ele. Esse é o cliente mais incoveniente que temos aqui, adora falar gracinha e tentar algo a mais, uma vez ele tentou me agarrar pela cintura, mas eu consegui desviar dele. Hoje em dia eu fico a um metro da mesa dele quando vou anotar o pedido dele, hoje quem se voluntariou foi a Martha, ela também está a um metro da mesa dele, mas isso não o impede de dar cantadas baratas na esperança de conseguir algo com mulheres jovens, o que só aconteceria se ele fosse rico, o que não é o caso, e ainda assim depende muito da mulher.
Balanço a cabeça negativamente ainda com um sorriso nos lábios e foco em passar mais café preto. São quase meio dia agora e está começando a chegar pessoas pedindo almoço. O cozinheiro não veio hoje então eu e a Martha estamos revezando na cozinha. Durante esse tempo aqui com ela eu descobri um talento e paixão, cozinhar. Eu simplesmente me apaixonei por cozinhar, tanto comidas normais como doces e comidas mais encrementadas. Eu sou muito boa nisso e amo o que eu faço, nunca havia pensado no que eu seria quando crescesse, depois que os meus pais morreram eu apenas sonhava com uma família, que eu seria adotada e teria uma família feliz e carinhosa, quando eu estava nas ruas sonhava em ter uma casa onde eu poderia relaxar e ficar calma, onde nenhum problema poderia me alcançar e eu seria feliz, eu consegui em parte, eu tinha um teto e duas amigas, mas como eu disse antes, aquela casa era uma gaiola de ouro. Agora eu posso construir a minha casa e a minha vida, posso pagar as minhas contas e tenho um lugar onde morar, uma casa que não possui luxos, mas que é aconchegante e eu me sinto segura, tudo o que eu queria.
Eu sinto falta da Giulia e a Ella, elas eram o mais próximo que eu tive de mãe e irmã. Eu nunca tive irmãos, meus pais morreram antes que eu pudesse ter, nunca me apeguei as outras crianças do orfanato e nem ao menos me permiti ter amigas, mas com Giulia e Ella eu me permiti e não me arrependo, mas queria ter elas aqui comigo, elas foram muito legais comigo e eu gostaria de vê-las novamente, mas claro sem ser uma prisioneira e ser obrigada a se casar. Admito que uma parte de mim, uma bem lá no fundo gostava de estar com o Salvatore, algo no olhar dele me fazia sentir a pessoa mais linda do mundo, como se eu fosse, aos olhos dele, a mulher mais linda que já pisou na face da terra, o que é loucura, é óbvio que ele já esteve com mulheres muito mais bonitas e experientes que eu, levando em conta que eu sou virgem e nem ao menos tive chance de ver um filme porno durante a minha adolescência, só soube como o meu corpo funcionava por causa das aulas de educação sexual na escola.
- Ninguém merece esse tipo de homem. - Martha resmunga me tirando dos meus devaneios.
- Ele não desiste fácil não é? - pergunto sorrindo enquanto coloco mais água no café.
- Não. O tipo de ser humano que precisa tomar vergonha na cara e perceber que não vai conseguir nada com a mulher. - ela revira os olhos e coloca a louça suja que estava na sua bandeja dentro da pia. Ela vai até o fogão e começa a preparar o pedido do homem. - O único ponto vim é que ele só aparece por aqui uma vez ao dia. - solto uma risada com o seu comentário.
- Concordo plenamente. Eu não sei o que é pior, os adolescentes que chegam aqui falando besteira ou esses homens sem noção que vomitam cantada de cinco em cinco minutos. - ela finge pensar e então solta um suspiro dramático.
- Os dois estão empatados em primeiro lugar. - responde por fim e nós duas rimos.
Um barulho de carros estacionando na frente do restaurante nos interrompe e nós duas olhamos para a porta de entrada. Gelo quando vejo que os carros que estão estacionando são três Range Rover e um Aston Martin One prata. Seguro Martha pelo braço e a trago para mais perto, meus pés parecem estar plantados no chão, não consigo me mover por mais que a minha vontade seja de dar as costas e correr sem rumo como se não houvesse amanhã.
- Que estranho, não passam carros assim nessa parte da cidade. - ela fala confusa e eu aperto deu braço com mais força. - O que houve Mel? - ela pergunta preocupada comigo.
- Ele me achou. - falo com a voz fraca e isso a deixa ainda mais assustada.
- Quem menina? Quem te achou? - pergunta. Sinto meu coração bater mais acelerado com o nervosismo. As portas das Range Rovers abrem e delos carros saem vários homens de terno, quando a porta do Aston Martin se abre eu sei quem vai sair, Salvatore D'Angelo.
- Salvatore, meu ex-noivo. - respondo mim sussurro quando vejo finalmente o seu rosto depois de meses. Ele parece o mesmo, só que com uma feição abatida, como se estivesse ficado sem dormir por dias.
Três soldados entram antes dele e varrem o local atrás de um possível perigo, quando vêem que não há nada eles param perto da porta e o seu chefe entra, imponente e duro como sempre. Seus olhos caem sobre mim e um sorriso aliviado surge em seu rosto, enquanto em mim eu sinto um gelo descer pela minha espinha e a vontade de correr se torna quase incontrolável.
- Meu amor, que bom que eu finalmente te encontrei. - ele fala em italiano e chega perto de mim pegando o meu rosto com as duas mãos. Não parece se importar por ter empurrado a Martha para o lado. - Você nunca mais vai sair do meu lado e nós vamos nos casar o mais rápido possível. - declara e junta nossos lábios, me dando um rápido celinho.
- Com licença senhor, posso te ajudar em alguma coisa? - Martha pergunta me puxando para trás e me tirando dos braços de Salvatore, fiquei com medo pelo olhar que ele deu a ela.
- Eu tenho tudo o que eu preciso agora. - ele responde simplesmente e de volta para mim. - Vá até onde você está e busque suas coisas, um dos soldados vai com você para garantir que nada aconteça. - eu sei que esse "para garantir que nada aconteça" quer dizer que ele quer ter certeza de que eu não fugirei novamente.
- Você não pode levá-la contra a vontade dela! - Martha se coloca entre nós e os soldados puxam suas armas apontando-as para ela.
- Não interfira, isso é entre mim e a minha mulher. - ele rosna no rosto dela e a empurra para o lado. - Vá logo Melissa. - ele ordena e o soldado me indica a porta dos fundos. Sem opções eu sigo para a casinha onde eu estava morando para arrumar as minhas malas. Olho para trás e vejo Martha me olhar com um olhas preocupado, agora mais do que nunca eu desejava ter dito tudo a ela.
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Nas mãos de um mafioso
RomantizmSabe aquele momento em que você está no fundo do poço e acha que a sua situação não pode piorar? Pois bem, me deixe dizer que na verdade você pode cavar para ir ainda mais fundo. Eu já estava morrendo de fome, largada na rua sem ninguém para me ajud...